Paula Abreu ensina a levar a música brasileira para fora

A produtora carioca, curadora do SummerFest (EUA), irá ministrar a oficina 'Dicas e segredos para realizar turnês na Europa e nos EUA' no festival Porto Musical

por Paula Brasileiro sab, 31/01/2015 - 14:12
Divulgação A produtora Paula Abreu ministra workshop na programação do Porto Musical Divulgação

Um dos mais importantes festivais voltados para o mercado da música, o Porto Musical, abre sua programação na próxima quarta (4). Serão realizados conferências, workshops, rodadas de negócios e apresentações musicais em diferentes lugares do Bairro do Recife.

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Workshop gratuito abre programação do Porto Musical

Uma das convidadas desta edição é Paula Abreu, Gerente de Programação da City Parks Foundation, co-responsável pela curadoria e programação musical e educacional do SummerStage - festival anual realizado em Nova York. Paula irá ministrar o workshop Dicas e segredos para realizar turnês na Europa e nos EUA, juntamente om a francesa Corinne Serrès, do selo Mad Minute Music. Será na quinta (5), no Teatro Hermilo Borba Filho. Em entrevista, a produtora falou um pouco sobre sua experiência como curadora do SummerFest e de sua visão sobre o mercado de música brasileira para exportação.

No Porto Musical é possível encontrar tanto artistas novos quanto produtores experientes mas que nunca se arriscaram em uma carreira internacional. Você poderia resumir rapidamente no que poderia contribuir para ajudar a estes artistas no workshop?

Vou trazer informações práticas e um pouco da minha experiência e histórias e que tenho vivido nesses cinco anos de NY. Não há uma fórmula exata de como fazer uma carreira internacional dar certo. Cada artista e cada trabalho é uma história diferente, mas certamente existem pontos-chave que devem ser observados por qualquer profissional com a intenção de apresentar seu trabalho nos EUA. Por exemplo, a empreitada de se organizar uma turnê pode ser trabalhosa e desgastante, portanto é importante ter uma estratégia clara e objetivos bem definidos. Para isso, é fundamental conhecer o mercado e seus compradores, desenvolver relacionamentos relevantes, se inteirar dos aspectos legais como visto e impostos, etc. Vou cobrir tópicos como estes, com dicas e histórias que possam servir de exemplo.

Seu workshop fala em dicas para realizar turnês nos Estados Unidos. Quais as maiores dificuldades que artistas encontram no planejamento de turnês no país?

Uma das maiores dificuldades, no meu ponto de vista, é a parte econômica. Montar uma turnê que cubra todos os custos e que seja financeiramente favorável é certamente um desafio. E isso vale tanto para artistas novos e quanto para estabelecidos. A realidade é que muitas vezes as oportunidades no Brasil são mais atraentes financeiramente do que nos EUA. Em geral, a decisão do artista de apresentar o seu trabalho na América do Norte deve ser fundamentada em um trabalho de longo prazo em que se colherá retorno após alguns anos. Além dessa dificuldade, também existe a barreira cultural e da língua. Certamente há uma abertura maior para a música brasileira em cidades americanas que tenham uma comunidade brasileira representativa.

Pensando na programação do Brasil Summerfest, como é a articulação com as casas de shows e com os artistas brasileiros interessados em se apresentar? Você tem uma preocupação na hora que vê a grade e sente que está contemplada a diversidade musical brasileira?

Há sim uma preocupação quanto à diversidade musical brasileira, assim como quanto ao equilíbrio entre artistas novos e estabelecidos. O foco to Brasil SummerFest é apresentar ao público de Nova York o que é atual, novo e ‘exciting’ na música brasileira, da forma mais diversificada possível. Temos o cuidado de pesquisar e sugerir às casas e festivais com os quais trabalhamos artistas que se encaixem na filosofia de programação da casa/festival em geral. Basicamente fazemos o processo de curadoria junto às casas/festivais e intermediamos a produção e logística na vinda dos artistas. Nestes 5 anos de festival estabelecemos uma reputação importante na cidade de NY e uma relação de respeito e confiança com as casas/festivais parceiros. A relação com o artista também é muito importante. Recebemos interesses de diversos artistas e temos a preocupação de convidar/sugerir o artista cujo trabalho pensamos ser o mais adequado ao público de NY e com sólido potencial de desenvolvimento de carreira internacional.

A exportação de talentos musicais brasileiros para o mercado estrangeiro ainda é um pouco tímida. Em médio e longo prazo, quais poderiam ser as medidas mais eficazes para promover a música brasileira no mercado internacional?

Como um dos maiores desafios é a barreira econômica, penso que deve existir um maior investimento público ou de agências para fomentar o interesse pela cultura brasileira. Os benefícios do exercício da diplomacia cultural são indiretos, mas extremamente significativos. Dentre as possibilidades de investimento, existem diferentes medidas que podem ser exploradas: o apoio a vinda de artistas, treinamento a profissionais da área, o suporte a feiras e conferências locais, como o Porto Musical. Percebo que parte desse trabalho já vem sendo feita pela BM&A e acredito estar no caminho certo e com grande oportunidade de crescimento.

O Porto Musical está chegando à sétima edição. É uma convenção que promove encontros entre profissionais de diversas partes do mundo e mostra cases interessantes de cooperação internacional. De que forma você enxerga esses eventos e no que eles podem contribuir para replicar novos projetos?

Eventos como o Porto Musical são fundamentais para acelerar o crescimento da exportação da música brasileira e internacional e para promover a troca cultural. O contato pessoal de produtores internacionais com artistas locais proporcionado por eventos desse tipo é único e de valor inestimável. A oportunidade de estar imerso no contexto cultural dos artistas e o tempo que os produtores passam no local permitem a criação de relacionamentos sólidos e de longo prazo. Além disso, há grande troca entre os próprios produtores resultando muitas vezes em novas ideias para festivais, parcerias e projetos. Uma vez ouvi a frase: “O negócio é resultado das relações humanas” (Mário Lúcio de Sousa, Ministro da Cultura de Cabo Verde). Não há melhor definição para o poder desses eventos.

Serviço

Workshop Dicas e segredos para realizar turnês na Europa e nos EUA 

Quinta (5) | 14h

Teatro Hermilo Borba

Entrada para inscritos e participantes do evento

*Com informações da assessoria

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