Um musical com a força de Cássia Eller
Espetáculo biográfico sobre uma das mais importantes intérpretes da música brasileira acerta em cheio ao valorizar canções em montagem simples
Cássia Eller consquistou em vida, merecidamente, um lugar cativo no primeiro time de cantoras brasileiras. A força da sua interpretação foi capaz de transformar completamente (para melhor) músicas que já tinham deixado sua marca no público, o que não é nada fácil. A força de seu carisma deixou muita gente desolada com sua morte precoce, aos 39 anos, em 2001.
Transpor para um espetáculo teatral a essência de uma artista tão sui generis, levando para o palco sua história pessoal, é um desafio e tanto. E Cássia Eller - o musical consegue. Em mais de 2 horas de show, 35 canções que marcaram a carreira de Cássia são executadas ao vivo por 5 músicos (Felipe Caneca, piano e acordeon; Pedro Coelho, baixo; Diogo Viola, guitarra; Mauricio Braga, bateria; e Fernando Caneca, violão), que acompanham os 7 atores em cena.
O Teatro RioMar ficou lotado para a estreia do espetáculo, que segue em temporada no Recife até domingo (16). Em vários momentos, a plateia irrompeu em aplausos, sempre merecidos. Mais que bater palmas, o público cantou diversas das canções executadas. O elenco todo se destaca, e cada um dos atores-cantores tem seus momentos de brilhar com atuações excelentes.
Tacy de Campos, como Cássia, incorpora os trejeitos dela com uma veracidade tocante. O experiente jandir Ferrari interpreta com muita competência 6 personagens, entre eles o pai da cantora. Eline Porto vive Maria Eugênia, esposa e verdadeiro refúgio de Cássia Eller. Evelyn Castro arrebenta como a mãe da cantora e também como uma de suas namoradas.
Thainá Gallo vive Lan Lan, percussionista que desfrutou de uma intimidade única com Cássia. A Emerson Espíndola, cabe o papel de Nando Reis, compositor 'irmão' da cantora, com quem estabeleceu uma amizade e parceria de sucesso, além de outros 4 personagens, em todos muito bem.
E Jana Figarella, como diferentes amigas da cantora, mostrou o talento incluindo cacos no texto com referências locais, como o bairro de Casa Amarela e o CAC (Centro de Artes e Comunicação da UFPE). Jana morou muito tempo no Recife e teve direito a fãs e amigos na plateia gritando seu nome. E a proximidade com o público pernambucano deve chegar ao máximo na sessão do sábado (15), quando caberá a ela interpretar Cássia Eller.
O espetáculo
A montagem acerta em cheio ao deixar de lado o uso de muitos acessórios e investir em uma cenografia enxuta, com uso de elementos cênicos simples. Assim, o caminho fica sempre aberto para a música, fio condutor e principal elemento do espetáculo, o que não podia ser diferente quando se trata de Cássia Eller.
De maneira cronológica, o musical apresenta não só a carreira, mas a vida pessoal de Cássia. A descoberta do amor e da sexualidade, a relação com a mãe, a timidez excessiva, a irreverência, os relacionamentos amorosos, a relação às vezes conflituosa com certos compromissos profissionais e, claro, a maternidade, trazem uma Cássia comum, simples como a peça, e muito diferente da cantora que arrombava os palcos com sua voz cortante e interpretações viscerais.