Um musical com a força de Cássia Eller

Espetáculo biográfico sobre uma das mais importantes intérpretes da música brasileira acerta em cheio ao valorizar canções em montagem simples

por Felipe Mendes sex, 14/08/2015 - 01:42

Cássia Eller consquistou em vida, merecidamente, um lugar cativo no primeiro time de cantoras brasileiras. A força da sua interpretação foi capaz de transformar completamente (para melhor) músicas que já tinham deixado sua marca no público, o que não é nada fácil. A força de seu carisma deixou muita gente desolada com sua morte precoce, aos 39 anos, em 2001.

Transpor para um espetáculo teatral a essência de uma artista tão sui generis, levando para o palco sua história pessoal, é um desafio e tanto. E Cássia Eller - o musical consegue. Em mais de 2 horas de show, 35 canções que marcaram a carreira de Cássia são executadas ao vivo por 5 músicos (Felipe Caneca, piano e acordeon; Pedro Coelho, baixo; Diogo Viola, guitarra; Mauricio Braga, bateria; e Fernando Caneca, violão), que acompanham os 7 atores em cena.

O Teatro RioMar ficou lotado para a estreia do espetáculo, que segue em temporada no Recife até domingo (16). Em vários momentos, a plateia irrompeu em aplausos, sempre merecidos. Mais que bater palmas, o público cantou diversas das canções executadas. O elenco todo se destaca, e cada um dos atores-cantores tem seus momentos de brilhar com atuações excelentes.



Tacy de Campos, como Cássia, incorpora os trejeitos dela com uma veracidade tocante. O experiente jandir Ferrari interpreta com muita competência 6 personagens, entre eles o pai da cantora. Eline Porto vive Maria Eugênia, esposa e verdadeiro refúgio de Cássia Eller. Evelyn Castro arrebenta como a mãe da cantora e também como uma de suas namoradas.

Thainá Gallo vive Lan Lan, percussionista que desfrutou de uma intimidade única com Cássia. A Emerson Espíndola, cabe o papel de Nando Reis, compositor 'irmão' da cantora, com quem estabeleceu uma amizade e parceria de sucesso, além de outros 4 personagens, em todos muito bem.

E Jana Figarella, como diferentes amigas da cantora, mostrou o talento incluindo cacos no texto com referências locais, como o bairro de Casa Amarela e o CAC (Centro de Artes e Comunicação da UFPE). Jana morou muito tempo no Recife e teve direito a fãs e amigos na plateia gritando seu nome. E a proximidade com o público pernambucano deve chegar ao máximo na sessão do sábado (15), quando caberá a ela interpretar Cássia Eller.

O espetáculo

A montagem acerta em cheio ao deixar de lado o uso de muitos acessórios e investir em uma cenografia enxuta, com uso de elementos cênicos simples. Assim, o caminho fica sempre aberto para a música, fio condutor e principal elemento do espetáculo, o que não podia ser diferente quando se trata de Cássia Eller.

De maneira cronológica, o musical apresenta não só a carreira, mas a vida pessoal de Cássia. A descoberta do amor e da sexualidade, a relação com a mãe, a timidez excessiva, a irreverência, os relacionamentos amorosos, a relação às vezes conflituosa com certos compromissos profissionais e, claro, a maternidade, trazem uma Cássia comum, simples como a peça, e muito diferente da cantora que arrombava os palcos com sua voz cortante e interpretações viscerais.

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