Batman vs Superman: entre a relevância e a fragilidade

"A Origem da Justiça” também é a origem da nova safra de filmes da DC, que começa inovando pouco - mas lançando bases sólidas para um universo cinematográfico extenso

por Rodrigo Rigaud qui, 24/03/2016 - 16:15
Divulgação Batman vs Superman feat. Mulher Maravilha Divulgação

Com colaboração de Stefano Spencer

O filme que inicia a integração dos heróis da DC Comics rumo a Liga da Justiça traz elementos interessantes, principalmente no que tange ao amadurecimento do elenco que participou de “Homem de Aço” e de parte dos nomes que estrearam em "Batman vs Superman". Ben Affleck, por exemplo, escolha contestada por fãs do homem morcego, entrega “seu melhor” - justamente a escassez de expressões faciais ou versatilidade dramática - para viver um Batman de poucas emoções que não o remorso e para o qual a violência é alternativa natural e cotidiana. Ele é o Bruce Wayne pós Jason Todd (Robin que foi assassinado nas HQs pelo Coringa), um homem que perdeu as esperanças na humanidade e que cruzou seus próprios princípios morais.

Jesse Eisenberg busca no histrionismo a representação da psicopatia de um Lex Luthor ácido e de personalidade forte, assim como seu equivalente nas revistas, é um forte opositor aos meta-humanos. Gal Gadot, também previamente criticada, não desperdiça as poucos chances dadas pelo roteiro para traçar as primeiras linhas de uma Mulher Maravilha enigmática, mesmo que sua presença não acrescente tanto à trama do filme.

A projeção sob o comando de Zack Snyder reverbera cacoetes já registrados em “Homem de Aço”, “300”, “Sucker Punch” e outros títulos do cineasta. Em “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”, a ação suntuosa, repleta de CGI e efeitos concluídos às pressas, é desnivelada e artifício frágil do filme cujo argumento apresenta o embate entre dois dos maiores heróis dos quadrinhos e do cinema. Entretanto, ainda são as megalomaníacas cenas o que de mais divertido há em “BvS”. A fotografia de Larry Fong, que mantém a paleta de cores escurecida que ditou o tom das últimas produções da DC, contrasta com o roteiro frágil e o que este, consequentemente, transcreve em tela.

Chris Terrio e David S. Goyer dispensam maior profundidade no desenvolvimento de seus personagens e respectivas motivações, assim todos os conflitos dos heróis protagonistas, de coadjuvantes ou antagonistas mostram-se descartáveis pois podem ser anulados e resolvidos, de uma hora para outra, sem muitos fins. Os “meios” são repletos de frases de efeito, elocubrações acerca da violência em Gotham e sobre a bondade ou não da raça humana, e referências a futuros heróis que surgirão em filmes posteriores.

Referências, inclusive, são um ponto de destaque para os fãs da DC comics que vão reconhecer nas telas momentos icônicos das HQs, como o uso da armadura do Batman que foi vista nas revistas e na animação “O Cavaleiro das Trevas” escrito por Frank Miller. As aparições de nomes importantes para a Liga da Justiça vão preparando o terreno para a solidificação do universo nos cinemas, além de deixar algumas teorias para os futuros títulos de cada herói. Ao mesmo tempo em que a diferenciação de caráter do Batman deixa claro que, apesar das referências, o universo cinematográfico da DC seguirá seu próprio caminho.

O confronto direto entre os personagens título, entretanto, decepciona, principalmente os que esperam mais do que o visto nos, demasiadamente expositivos, trailers. A tensão criada não diz há que surge e o roteiro, novamente, contribui pouco para que os eventos catastróficos surtam efeitos catárticos. 

No fim, o Doomsday é inicialmente estranho para os fãs, desacostumados com a forma inicial em que se apresenta no longa. O personagem sofre mutações até chegar ao estágio definitivo no qual é reconhecido. Nem isso, nem o clímax pseudo-corajoso, encerram com eficácia a narrativa que insiste em nunca se fechar. Mas as deixas claras para a futura continuação revelam o intento da DC em não reinventar a roda em “BvS”, mas partir de estruturas comuns a seus filmes e personagens e registrar de vez uma identidade própria. Se esta, alcunhada às repetições técnicas de Snyder e a limitação narrativa de Goyer, será exitosa nesse caminho? Aí, só o futuro e os próximos lançamentos dirão.

Nota: 2,5 / 5     

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