“Jogo do Dinheiro” é Jodie Foster novamente “na média”

Indeciso e anticlimático, filme irrompe tensão com humor e falha em ambos

por Rodrigo Rigaud qui, 26/05/2016 - 18:17
Reprodução Clooney e O'Conell em Jogo do Dinheiro Reprodução

Volta e meia o cinema nos faz voltar a Wall Street e reafirma: o mercado financeiro norte-americano é um celeiro de corrupção. O fato impressiona pouco, menos ainda a populações alienadas à tutela desse sistema corrompido, que impulsiona o consumo e depois desestabiliza o trabalhador, reduzindo o seu, já razo, capital. Isso tudo com o aporte sempre fiel da grande mídia que, canhestra como Lee Gates (George Clooney) em “Jogo do Dinheiro”, parece prestar algum serviço mas “o meu umbigo primeiro”. A imprensa, a manipulação do mercado e a indignação popular se entrecruzam no novo longa do Jodie Foster com produção de Clooney.

Na projeção, Gates é um analista econômico que apresenta um programa de TV (Jogo do Dinheiro) dando dicas de investimentos na bolsa de valores. A atração é dirigida por Patty Fenn (Julia Roberts). Durante uma transmissão ao vivo, o apresentador é feito refém por Kyle (Jack O’Connel), jovem entregador que perdeu tudo após investir nas ações de uma empresa sugerida por Gates. Transmitido para milhões de pessoas, o cárcere paira entre a tensão e insistentes escapes cômicos e ambos funcionam irregularmente na narrativa. A requentada “denúncia” toca de leve a eira econômica e apenas ameaça atingir a política.

A sensação de urgência no “triller” se dissipa,  principalmente devido a caricatura de seus acontecimentos, personagens e diálogos (sofríveis em sua maioria, com destaque para as falas entre diretora e apresentador e alguns arroubos sociológicos ainda mais dispensáveis). Inclusive, o roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf mira um recorte fantasioso da complexa teia de Wall Street, mas sem o domínio de causa apresentado por obras recentes como “O Lobo de Wall Street”, “Margin Call” e “A Grande Aposta”.

Clooney e Roberts parecem “muito bem, obrigado” em seus respectivos papéis. O primeiro mistura elementos de “Amor sem Escalas” e “Queime depois de Ler”, mantendo a canastrice impassível de um e o histrionismo de outro, e a segunda paira entre a sensibilidade habitual e a impulsividade, um misto que caracteriza sua dificuldade em continuar encarando os desafios do programa. A Jack O’Connell resta a missão de incorporar a aresta mais interessante de “Jogo do Dinheiro”. Kyle é o manipulado, azarado e inconsequente. Kyle recorre ao anarquismo solitário, quando se enxerga sem alternativa. Muito embora não seja tão fácil entrar ao vivo nos estúdios de uma transmissão televisiva - e ainda portando uma arma e um suposto explosivo - como tudo é, de fato, muito frágil no longa, a ideia do personagem que se vira contra seus opressores e usa a violência para inflamar a sociedade mostra-se a única verdadeiramente pujante em cena. Quando não lançado em alguma situação cômica, é Kyle o responsável por suscitar os melhores questionamentos do roteiro.

À direção de Foster, aliada ao roteiro, podemos atribuir toda a artificialidade que envolve o eixo principal do filme e o limitado espectro dramático deste. A montagem tenta dar um ritmo diferenciado à produção, mas novamente o roteiro segura as rédeas da narrativa num desenvolvimento arrastado e um final anticlimático. “Jogo do Dinheiro” acaba não fazendo jus a seu argumento e sendo apenas uma obra mediana, ainda menos agradável do que “Um novo Despertar”.

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