Estilistas buscam inspiração no armário da avó

A roupa antiga é o contra-ataque da moda 'usar e descartar', é uma roupa com história para contar, que sobrevive graças à nobreza de seu tecido e qualidade de modelagem

sex, 03/03/2017 - 12:30
Lionel Bonaventure Casacos vintage em exposição na capital francesa antes de serem leiloados Lionel Bonaventure

Se você deseja ter um estilo que se destaque na multidão, tente revirar o armário de sua avó. Na era da moda rápida e efêmera, o look "vintage" marca a diferença na rua e abre caminho nas passarelas.

"O look de hoje em dia é centrado na exclusividade da roupa. E com o 'fast fashion' e o mercado das massas, isso só pode ser encontrado no vintage", diz o estilista brasileiro Francisco Terra.

O principal ponto está na "liberdade que nos damos agora" para combinar roupas básicas com trajes únicos, diz o mexicano Antonio Ortega.

A roupa antiga é o contra-ataque da moda "usar e descartar", é uma roupa com história para contar, que sobrevive graças à nobreza de seu tecido e qualidade de modelagem.

Ela combina com a onda retrô atual, em que vitrolas e o clássico console da Nintendo voltar a ser produtos cobiçados.

- 'Mad men' e a volta aos 60 -

"O fenômeno tem a ver com um sentimento de insegurança. Hoje acreditamos menos que há 30 anos que o futuro será melhor que o passado", explica Cécile Poignant, analista de tendências.

Resgatando o antigo, "temos a impressão de nos apropriarmos de um passado um pouco idealizado".

A crise econômica, que nos levou a aceitar o conceito de avareza, e a crescente consciência ecológica explicam também o auge do "vintage", assim como o sucesso da série americana "Mad Men", ambientada nos anos 1960.

Mas os especialistas lembram que sempre existiu o mercado de roupas usadas e que a novidade reside principalmente na roupa "vintage" de luxo, em pleno apogeu na capital da moda, Paris.

Os estilistas mais famosos buscam inspiração em lojas de segunda mão, como a Guerrisol, onde Neith Nyer, a marca do brasileiro Fernando Terra, desfilou na última quarta-feira fora do programa oficial da Semana de Moda de Paris.

- Japão vintage -

"Não gostam de dizer, porque é um lugar com um público mais modesto (...) mas todos os criadores das grandes marcas vêm aqui (naGuerrisol). É um pouco o templo de busca da moda parisiense", disse Francisco, que já trabalhou para Givenchy e Carven durante seus 10 anos de residência na França.

Sua marca tem o nome de sua avó austríaca, com quem aprendeu a costurar. Apresentou em Paris uma coleção que emula 'patchworks' de roupas "vintage".

Sua inspiração é a marca francesa Margiela -que incluiu a roupa retrô em suas coleções-, e o Japão, onde esse tipo de roupa causa furor, diz Francisco.

- Vejo e quero -

Da rua para passarela e vice-versa. Cada vez que as grandes marcas resgatam uma roupa de décadas passadas, como os casacos de pele ou os casacos de aviador, a demanda vai às alturas.

Na loja parisiense Thanx God I'm a VIP só são vendidas roupas das melhores marcas em excelente estado. Amnaye Nhas, um dos sócios, explica que sua clientela "é geralmente pessoas que querem se destacar".

"Compram na Zara e depois vêm aqui para buscar uma roupa original" para completar seu look.

Um vestido preto de seda e cetim da Kenzo é vendido por 255 euros (270 dólares), outro de seda da Leónard em tons verdes a 995 euros (1.050 dólares), mas os preços começam muito abaixo, nos 40 euros.

Nhas mostra um casaco Burberry de 1978, a 450 euros. "É uma roupa que pode ser conservada por 20 anos. Se fizer as contas, sai mais barato que comprar um sintético a cada inverno".

Ele está convencido de que o vintage tem uma longa vida pela frente, pelo menos "até que chegue a roupa conectada".

COMENTÁRIOS dos leitores