Com Bacurau, Kleber 'sobe o tom' e espera vaga no Oscar

Diretor pernambucano e demais integrantes da equipe do longa falaram sobre a produção neste sábado (24)

por Paula Brasileiro sab, 24/08/2019 - 14:19
Chico Peixoto/LeiaJáImagens Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho falaram sobre Bacurau Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Na manhã deste sábado (24), os diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, acompanhados de parte do elenco e produção do filme Bacurau, encontraram a imprensa, no Recife, para falar sobre a produção. O longa chega aos cinemas brasileiros, com pompas de 'filme-protesto' em meio a um momento de turbulência no cenário cultural do país, por conta de cortes em linhas de financiamento público e o cerco contra a temática LGBT no audiovisual nacional.

Muito embora tenha sido recebido pelo público e crítica especializada - que assistiu à produção nas diversas pré-estreias já realizadas - como um filme que vai de encontro ao momento atual do país, Bacurau começou a ser idealizado e produzido há 10 anos, em um contexto um tanto distinto ao de hoje. Finalizado em maio de 2018, o longa já passou por diversos festivais e mostras ao redor do mundo e conquistou prêmios importantes em Cannes (Prêmio do Júri) e no Festival de Cinema de Munique (Melhor Filme). Neste sábado (24), o público recifense pode conferir a pré-estreia de Bacurau em duas sessões no Cinema São Luiz.

A identificação imediata do público como conceito de resistência, fortemente presente no longa, parece não ter surpreendido seus realizadores. Já Kleber cita ‘zeitgeists’, termo alemão usado para nomear o ‘espírito’ de uma época, e relembra seu segundo longa, Aquarius, lançado apenas um mês antes do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff: “Eram histórias parecidas, uma mulher forte sendo retirada de uma posição. Eu nunca poderia imaginar que isso aconteceria”. 

O ator Rubens Santos, que interpreta o personagem Erivaldo, tenta sintetizar o tema dizendo que “Bacurau é uma grande reação”, mencionando a trama que conta a história de moradores de um pequeno município que lutam pela segurança e manutenção de sua terra diante acontecimentos quase inexplicáveis. “É como se a gente estivesse subindo o tom; O Som ao Redor, Aquarius e agora Bacurau”, complementa Kleber. O músico Jr. Black, que também atua na produção, também opina: “O cinema de Kleber é muito honesto, muito comunicador. Ele ressalta essa necessidade que a gente tem, o Brasil passa por uma crise moral, não é uma questão política, é uma questão moral que assola o Brasil há muito tempo, e o filme de Kleber é muito claro, só não interage quem não quer”.

Oscar

Bacurau é, sobretudo, um filme de gênero; um western misturado com ficção científica e aventura. O diretor Kleber Mendonça Filho revelou, durante a coletiva, que o seu desejo, e o do colega Juliano Dornelles, era fazer um filme sobre "como o Nordeste existe no Brasil" e como os nordestinos se percebem enquanto parte da nação brasileira. O longa foi rodado no Sertão do Rio Grande do Norte, e acabou mobilizando toda a cidade de Parelhas e seus moradores, que trabalharam como figurantes. 

Com bons resultados e respostas, mesmo antes de sua estreia, que acontece no dia 29 de agosto em todo o Brasil, Bacurau é um dos títulos mais cotados a entrar como representante brasileiro no Oscar. A equipe está bastante otimista. “Os filmes que têm sido indicados todos passaram pela competição de Cannes. O Bacurau é o único brasileiro selecionado para o Festival de Nova Iorque e muitos membros da academia têm esse festival como referência. Mas, vamos ver. Eu acho que a gente poderia representar muito bem o Brasil, assim como teríamos representado com Aquarius”. 

Enquanto a indicação para o Oscar não vem, a equipe de Bacurau continua divulgando o filme em festivais, mostras e pré-estreias até que o longa entre de fato no grande circuito de cinema. A despeito do cenário nebuloso que se instaura para produtores e artistas brasileiros, com diminuição de linhas de financiamento para produtos culturais e a fiscalização dos temas neles tratados, a exemplo da temática LGBT. “Estamos em território desconhecido. Há pouco tempo observamos um desrespeito pelo papel do artista no país e a gente tem que ver o que vai acontecer porque isso não é democrático. A gente espera continuar produzindo”, disse Kleber. 

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