Brechós online podem contribuir para uma vida sustentável

Segundo especialista, o reaproveitamento contribui com a ideia de trabalhar por um mundo melhor

por Alfredo Carvalho sex, 29/01/2021 - 18:00
Arquivo Pessoal A influenciadora digital Rafaella Ribeiro, que passou a comprar peças em brechós online Arquivo Pessoal

Os brechós online são mais uma tendência potencializada pela pandemia de Covid-19. Nos últimos meses, as redes sociais se tornaram a principal ferramenta de divulgação desse tipo de comércio. A fotógrafa Isabelle Peres, 20 anos, de Guarulhos (SP), conta que todo ano reserva peças de roupas para doação, mas não sabia o que fazer com outros itens que sobravam. "Resolvi abrir um brechó online pra poder colocar essas peças à venda e ter uma renda extra", conta.

Para divulgar os produtos, Isabelle utiliza uma conta no Instagram e o perfil dos parentes. "Tenho pensado em divulgar pela própria ferramenta do Instagram, onde você paga de R$ 1 a R$ 2 por dia, e as publicações aparecem um pouco mais no feed das pessoas, já que não estamos conseguindo vender quase nada", relata a fotógrafa.

A fotógrafa Isabelle Peres | Foto: Arquivo Pessoal

Quando tinha 16 anos, a empreendedora Jennifer Oliveira, 20 anos, de Guarulhos (SP), montou um brechó, mas só começou a se dedicar a ele no final de 2019. "Minha motivação é propagar um consumo mais consciente, longe das lojas de departamento fast fashion, que produzem roupas em grandes quantidades de maneira desnecessária, compactuam para o consumismo, prejudicam o meio ambiente e contribuem com mão de obra escrava", comenta. Ela fez do "vestir é arte" um slogan para o brechó. "A moda vai muito além da aparência. Acredito que é uma das formas de comunicação mais fortes que existem, e que se vestir é expressar sua essência".

Todas as vendas de Jennifer são feitas pelo Instagram, por meio de stories, vídeos e fotos, tanto na conta pessoal, como na página da loja, no @simplebrecho.co. "Como já trabalhei com marketing digital e criei gosto pelas redes, utilizo bastante da criação de conteúdo como estratégia de venda", diz a empreendedora.

A empreendedora Jennifer Oliveira | Foto: Arquivo Pessoal

A influenciadora digital Rafaella Ribeiro, 27 anos, do Rio de Janeiro, descobriu as plataformas de brechós online e começou a comprar produtos de marca por valores mais em conta. As aquisições são exibidas Instagram @rafaellasindorf. "Muitas vezes, encontro produtos seminovos ou usados, mas em perfeito estado. Já adquiri muita roupa, bolsa e sapatos de marca. Minha experiência foi ótima", descreve ela, que também tem um brechó online, e muitas vezes revende as aquisições na rede social.

A tendência dos brechós online surge com debates sobre comportamento de consumo e as questões que envolvem a proteção do meio ambiente. Junto a isso, a sociedade tem buscado por novas políticas que envolvem produzir e consumir. "Ao reaproveitarmos utensílios, adicionamos à nossa identidade a ideia de buscar por um mundo melhor, além de tornar nossa vida mais sustentável", explica o especialista em marketing e pesquisador de comportamento do consumo Gabriel Rossi.

Segundo ele, o principal desafio é fazer com que a prática do reaproveitamento seja abraçada por grupos sociais mais abrangentes. "Isso não ocorrerá sem a colaboração de longo prazo de outros entes da sociedade civil e sem propaganda de massa. Inovação tecnológica também é um alicerce importante, pois a expansão da cultura de reaproveitamento dependerá, por exemplo, de aplicativos da chamada economia circular", detalha Rossi.

De acordo com o especialista em marketing, a pandemia fez com que alguns comportamentos humanos fossem evidenciados, o que chamou a atenção de pesquisadores. Um deles ocorreu quando as pessoas correram aos supermercados para estocar alimentos no momento em que foi decretada a quarentena. O fato também realçou a curiosidade sobre como aumentar a vida útil de um produto. "Houve um aumento substancial da procura por conteúdo nas mídias sociais sobre desperdício zero", lembra.

Outro fenômeno observado foram as dúvidas em relação às finanças, que fizeram as pessoas buscarem maneiras de reduzir os gastos em um cenário de incertezas. "Abriu-se um espaço para que elas repensem a relação com os produtos comprados e como eles podem ser reutilizados e reciclados", destaca Rossi.

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