Crescem produções LGBTQIAP+ na industria audiovisual

Filmes, séries e animações sobre esse universo tem conquistado cada vez mais espaço na indústria do entretenimento; estudiosos afirmam que ainda existe um longo caminho para a normatização

por Alfredo Carvalho ter, 08/06/2021 - 17:12
Divulgação/Cartoon Netfix Imagem do desenho "She-Ra, da Netflix Divulgação/Cartoon Netfix

 Há poucos dias foi confirmado que a personagem Betty DeVille será assumidamente gay, na nova temporada da série infantil “Rugrats: Os Anjinhos” (2021). Mais um exemplo de um movimento que vem acontecendo na indústria do audiovisual: a paulatina inclusão da cultura LGBTQIAP+  em produções infantis ou infanto-juvenis. Basta lembrar de outros exemplos, como  “She-Ra e as Princesas do Poder” (2018), “Hora de Aventura” (2010) e “Steven Universo” (2013), o que traz à tona o debate sobre a importância dessas representatividades no audiovisual.

O crítico de cinema Franthiesco Ballerini explica que esse tipo de inclusão beneficia a formação da criança, que na maioria dos casos, estuda em escolas e faze parte de famílias em que a cultura do LGBTQIAP+ é vista com um certo tabu. “É ainda mais importante do que as inclusões em obras voltadas para o público adulto, porque estes já estão formados, mas a criança não”, destaca.

Embora a presença do LGBTQIAP+ nas produções da cultura pop esteja caminhando cada vez mais para a normalização, Ballerini lembra que o contexto brasileiro coloca algumas barreiras, como o fato da extrema direita ocupar o poder no Brasil, o conservadorismo ser expressivo na sociedade e a homofobia que ainda parece predominar.  “Mas, nós ainda temos os nossos direitos constitucionais, então, é a oportunidade que não podemos perder de realizar essas inclusões. É uma luta diária e nada vai mudar do dia para o outro, são pequenas conquistas a cada momento”, ressalta.

A diretora audiovisual Makoto Machado, 26 anos, de Guarulhos (SP), comenta que ainda não percebeu muita representatividade nas produções da cultura pop e recorda que a única vez que se sentiu representada foi com uma personagem da animação foi em “She-Ra e as Princesas do Poder”. “Na segunda temporada aparece uma pessoa não-binária. Conhecer essa personagem me fez bem feliz e inclusive me fez perceber que ainda não há, em séries ou filmes, algo que eu conheça que me represente, como pessoa trans não-binária”, aponta.

Embora o Brasil seja considerado por muitos como um país miscigenado, Makoto aponta que muitas das produções audiovisuais ainda carecem de diversidade. Segundo ela, isso esconde a existência de diferentes formas de ser e a representação dessas pessoas permitiria que outros as conhecessem. “Eu também existo e eu não sou a única pessoa trans não-binária que existe no Brasil, então por que não há uma personagem como eu nos lugares?”, questiona.

Outro problema presente na inclusão do LGBTQIAP+ é que muitos fãs consumidores de cultura pop tendem a criticar qualquer tipo de inclusão. “Isso, claro, reforça diferentes coisas, como o próprio fato de que se é ruim até pra um homem branco que uma personagem principal se torne uma mulher negra, por exemplo, por não ser algo que os representa e que ‘não é pra eles’, imagina como é para a mulher negra, para as pessoas LGBTQIAP+  etc”, define.

A diretora audiovisual reforça que é importante representar todos os tipos de pessoas e quebrar certos tabus presentes em diversas produções. “Uma história em que diferentes pessoas no mundo foram afetadas por algum tipo de evento que fizeram com que elas tivessem poderes e nenhuma dessas pessoas ser alguém trans, ou gay, ou assexual, por exemplo. Então sinto que ainda falta haver essa naturalidade na diversidade dos personagens”, exemplifica Makoto.

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