Betty Boop completa 91 anos
Especialista comenta que a personagem foi um marco determinante para repensar décadas depois a criação de novas figuras femininas nas animações da cultura pop
Em agosto de 1930 surgia pela primeira vez no curta-metragem “Dizzy Dishes”, a personagem Betty Boop. Já de início, sua caracterização causou repercussão, seja pelos trajes curtos e provocantes para a época ou pela proporção de sua cabeça e corpo. Mesmo depois de décadas de existência, Betty Boop ocupa seu lugar na história da cultura pop, e permanece até os dias de hoje como uma das personagens que representam o feminismo e o cuidado com a auto imagem.
De acordo com Aline Bak, especialista em design industrial, Betty Boop sempre foi uma personagem independente. “Ela sempre está com a perna de fora com a sua fitinha da cinta liga. É uma personagem muito caricata, quebrando padrões. Ela é charmosa e encantadora, mas tem esse jeito provocativo e sedutor. É uma personagem muito forte, que tem uma representatividade muito importante”, conta a designer.
No passado, a personagem quebrou tabus da família tradicional, e foi vista com certo receio, chegando até a ser objeto de censura, por conta dessa caracterização tão provocativa na década de 1930. “É possível ver o poder que ela tem, mesmo depois de tantos anos. Betty Boop consegue manter o legado da figura da mulher, da figura da heroína do ‘eu consigo, eu posso’, da representatividade que ela consegue trazer”.
Geralmente, o design de um personagem está atrelado diretamente à sua personalidade. Segundo Aline, com Betty Boop não é diferente. “O design traz muito para esse lado provocativo. Porém, eu vejo uma mudança significativa em relação a trazer mais a personalidade dessa mulher na cultura geek. Existe mais a construção da personagem do que só a roupa. Tudo isso no design do personagem é fundamental para ser construído”, explica a especialista.
Aline ressalta que existe todo um trabalho e um estudo para que diversos elementos da personalidade de um personagem sejam integrados à construção de seu look. “Desde a construção básica de cada forma, até os detalhes e a seleção de cores. É muito importante ter uma intenção por trás, que reflete a alma, o coração e a personalidade de cada personagem”, contextualiza Aline.
Fonte de inspiração
Para a especialista, é interessante que se tenha personagens femininas representados na cultura pop, seja em desenhos, cinema ou quadrinhos, para que jovens e crianças tenham acesso a esse conteúdo. “É importante trazer à tona a igualdade do gênero e fazer com que os homens compreendam a importância da mulher na cultura pop”. Aline completa dizendo que existe um impacto fundamental nesse processo. “Não só para as novas gerações, mas também para a sociedade se inspirar. Nós, mulheres, nos inspiramos em personagens fortes”, enfatiza.
A designer reforça que existem diversas personagens femininas dentro do mundo geek e no atual momento é possível ver como a pauta feminista está na indústria cultural. Até mesmo as princesas da Disney estão mudando, como a protagonista do filme “Valente” (2012), Merida, além da personagem Elsa, de “Frozen” (2013) e Moana, de “Moana – Um Mar de Aventuras” (2016). “O jeito dos criadores de desenho ao retratar essas mulheres está mudando. Betty Boop foi muito fundamental para isso” finaliza a designer.