Suspeito de esfaquear Salman Rushdie se declara inocente
Escritor foi atacado por Hadi Matar no dia 12 de agosto, nos EUA
O suspeito de esfaquear o escritor britânico Salman Rushdie se declarou inocente das acusações de tentativa de homicídio e agressão, em uma audiência em um tribunal no norte do estado de Nova York, nesta quinta-feira (18).
O americano de origem libanesa Hadi Matar, de 24 anos, foi acusado por um júri de esfaquear o autor de "Os Versos Satânicos" depois de invadir o palco de uma evento literário na pequena cidade de Chautauqua, na sexta-feira.
Detido imediatamente após o ataque, Matar, morador de Nova Jersey, já havia se declarado inocente das acusações durante uma audiência no sábado.
Cabisbaixo, de máscara, algemado e vestindo um uniforme prisional listrado, Matar se pronunciou nesta quinta-feira por meio de seu advogado.
Ele pode pegar até 25 anos de prisão por tentativa de homicídio e até sete anos por agressão. O juiz decidiu mantê-lo preso, sem possibilidade de fiança.
Na audiência anterior, os promotores chamaram o ataque de premeditado.
O advogado de Matar, Nathaniel Barone, enfatizou nesta quinta-feira que seu cliente tem direito a um "julgamento justo" e respeito pela "presunção de inocência".
- "Surpreso" -
Em uma entrevista publicada na quarta-feira pelo New York Post, que afirma tê-lo contatado na prisão, Matar disse estar "surpreso" por Rushdie ter sobrevivido.
Após o ataque, o escritor de 75 anos foi levado de helicóptero para um hospital próximo para uma cirurgia de emergência. Seu estado continua grave, mas Rushdie mostrou sinais de melhora e já não respira com ajuda de aparelhos.
Matar não disse se teve como motivação o decreto religioso ('fatwa') emitido em 1989 pelo então líder supremo iraniano, o aiatolá Ruhollah Khomeini, que convocou os muçulmanos a matar Rushdie alegando que a obra "Os Versos Satânicos" blasfemava o Alcorão e o profeta Maomé.
Ao New York Post, Matar expressou seu "respeito" pelo falecido Khomeini e sua desprezo por Rushdie.
"Não gosto da pessoa. Não acho que seja uma boa pessoa", declarou ao jornal ao falar de Rushdie. "É alguém que atacou o Islã, atacou suas crenças, seus sistemas de crenças", completou Matar, que considerou o escritor um "hipócrita" após assistir a alguns de seus vídeos no YouTube.
A mãe de Matar disse que seu filho voltou "mudado" e mais religioso de uma viagem de 2018 ao país de sua família, o Líbano, de acordo com declarações ao site Daily Mail na segunda-feira.
- Proteção policial -
Rushdie, nascido em 1947 na Índia em uma família de intelectuais muçulmanos não praticantes e enviado ao Reino Unido para estudar quando jovem, provocou raiva em parte do mundo muçulmano com a publicação em 1988 de "Os Versos Satânicos".
Após a fatwa de 1989 ordenada pelo aiatolá Khomeini, fundador da República Islâmica, Rushdie viveu por anos sob proteção policial. O decreto nunca foi retirado e vários tradutores do escritor foram atacados.
Rushdie se mudou para Nova York há duas décadas e se tornou um cidadão americano em 2016. Apesar da contínua ameaça contra sua vida, o escritor era cada vez mais visto em público, muitas vezes sem uma operação de segurança visível.
Em entrevista à revista alemã Stern dias antes do ataque, o escritor descreveu como sua vida voltou a ter algum grau de normalidade depois de se mudar do Reino Unido.
Na segunda-feira, após dias de silêncio, o Irã negou "categoricamente" qualquer participação no ataque, e culpou o próprio escritor pelo ocorrido, acusando-o de "insultar" o Islã em sua obra.
"Neste ataque, somente Rushdie e seus apoiadores merecem ser culpabilizados ou até condenados", declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Naser Kanani.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, descreveu a postura do Irã como "desprezível".
A polícia e os promotores deram poucas informações sobre os antecedentes de Matar ou a motivação para o ataque.
Matar tem previsto comparecer novamente ao tribunal em 7 de setembro.