O Carnaval está voltando: Olinda está preparada?

Às vésperas da maior festa de rua do país - após um hiato de dois anos, por conta da Covid-19 -, uma das cidades mais procuradas no período sofre com insegurança e falhas em sua infraestrutura

qua, 04/01/2023 - 11:52
João Velozo/LeiaJáImagens O Carnaval de 2023, muito esperado, inspira também certas preocupações. João Velozo/LeiaJáImagens

O ano de 2023 chegou e, para os apaixonados por folia, só uma coisa importa: o Carnaval. Sobretudo neste momento, após um longo e tenebroso período sem a maior festa de rua do país, em virtude da gravidade da pandemia do novo coronavírus que assolou o planeta nos últimos dois anos. Em Olinda (PE), cidade que abriga um dos mais cobiçados carnavais do Brasil, o clima já é de festa e as prévias já acontecem desde o finalzinho de 2022. Porém, apesar da alta expectativa e saudade de um dos melhores carnavais de rua do mundo, as preocupações quanto às condições da cidade para receber milhões de turistas de forma funcional e segura também são reais. 

Com seu Carnaval democrático, na rua, feito pelo povo e suas agremiações tradicionais - ou não tão tradicionais assim -, Olinda costuma ser um dos destinos mais procurados pelos turistas de todo o mundo nesta época. Em 2020, último ano em que foi possível carnavalizar com segurança antes da pandemia, a cidade recebeu  3,6 milhões de foliões - entre esses, 401.400 de estrangeiros e 1.575.360 de outros estados brasileiros - que movimentaram R$ 295 milhões, segundo números divulgados no portal da prefeitura da cidade. Mas, estará a Marim dos Caetés capacitada para ver esses números se repetirem, e até se superarem, a contento?

Em outubro de 2022, reportagem produzida pelo LeiaJá denunciou a sensação de insegurança e abandono vivenciada por moradores do Sítio Histórico de Olinda, lugar onde o Carnaval atinge seu auge com desfiles de blocos e aglomeração de foliões. Os roubos e furtos constantes nas casas, a alta quantidade de pessoas em situação de rua nas ladeiras históricas - entre esses, muitos usuários de drogas -, e a pouca iluminação pública nas vias foram alguns dos pontos levantados pelas pessoas ouvidas. 

Em 2020, Olinda recebeu mais de três milhões de foliões. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Diante tais apontamentos e a proximidade do Carnaval, o LeiaJá voltou a procurar a Prefeitura de Olinda para averiguar como anda a preparação para a festa. Foram questionados tópicos como segurança pública, iluminação e infraestrutura e, até mesmo, a própria organização e ordenamento dos desfiles na Cidade Alta - cuja participação de carros e sons automatizados foram motivo de muita reclamação no último ano de festa. (2020). Confira na íntegra as respostas enviadas pela assessoria de comunicação do órgão. 

SEGURANÇA



Em outubro de 2022, moradores do Sítio Histórico protestaram contra a insegurança colocando panos pretos em suas janelas. Foto: João Velozo/LeiaJáImagens

A Prefeitura de Olinda esclarece que ações voltadas a casos de violência, conforme indicados pela reportagem, são da responsabilidade do governo estadual, por meio das forças policiais coordenadas pela Secretaria de Defesa Social (SDS). No entanto, o município, através da Secretaria de Segurança Cidadã, tem atuado em parceria e diálogo, executando ações complementares. O trabalho promove o monitoramento, por meio da Guarda Municipal, com início desde as prévias de blocos e seguindo até toda a cobertura do período carnavalesco. 

A gestão da cidade informa que promoveu reunião com a Polícia Militar de Pernambuco, por meio da Companhia Independente de Apoio ao Turista (Ciatur), onde foi firmado o reforço no policiamento ostensivo, motorizado e a pé. Por meio desta parceria, são realizadas reuniões semanais para avaliação dos eventos e as possíveis necessidades de ajustes, principalmente quanto a realização de ensaios e cortejos de agremiações, aos fins de semana.

No mesmo propósito, a Prefeitura de Olinda realizou, recentemente, um encontro com representantes dos transfers e condutores naturais (guias turísticos), promovendo a troca de informações sobre o calendário de cruzeiros ou excursões, que contam em seu destino o Sítio Histórico da cidade. A finalidade é de que o planejamento da segurança esteja integrado, com a participação de todas as forças operativas da Secretaria de Defesa Social (SDS) e da Prefeitura.

Operacionalmente, a gestão já implantou e seguirá, no período Carnavalesco, com medidas efetivas para ampliação da segurança da população em todo o perímetro da cidade, sobretudo nos locais de maior visitação e polos de folia. Entre os exemplos, podemos destacar:

- Base Comunitária Móvel, no Alto da Sé;

- Posto de Atendimento ao Turista;

- Ativação de uma viatura específica e caracterizada, operando com patrulhamento preventivo, 24 horas, com exclusividade no Alto da Sé;

- Nos dias em que há atracação e desembarque de turistas provenientes de cruzeiros, uma viatura extra da Guarda permanece em Ponto Base Fixo (PBF), na Ladeira da Misericórdia com Beco do Bajado. As medidas servem para coibir qualquer prática delituosa e garantir o bem-estar de moradores e visitantes.

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

Em algumas ruas de Olinda, os próprios moradores instalam lâmpadas para terem iluminação nas vias. Foto: João Velozo/LeiaJáImagens

A Secretaria de Gestão Urbana de Olinda esclarece que já iniciou um trabalho de requalificação da iluminação pública nos principais corredores da cidade, abrangendo vias como o entorno das praças Doze de Março e do Carmo; a Rua do Sol, Avenida Sigismundo Gonçalves, Avenida Olinda, entre outras. A gestão firmou contrato, já em execução, para a substituição de 1,1 mil pontos para a tecnologia LED, com maior abrangência, claridade e menor consumo de energia. As medidas, que já podem ser conferidas na orla, deverão seguir pelo Sítio Histórico, foco tradicional dos foliões no período carnavalesco, beneficiando logradouros como as ruas Prudente de Morais, Bernardo Vieira de Melo, Bonfim, São Bento, entre muitas outras. A Prefeitura de Olinda reforça, também, que já estão programados serviços para o período pré-carnavalesco, na primeira quinzena de janeiro. O trabalho inclui a instalação de mais 140 refletores de alta capacidade, nas vias que recebem os tradicionais cortejos das agremiações. Ainda em relação a Rua do Sol, conforme apontado pela reportagem, o órgão esclarece que o corredor requer atenção especial, ocasionando menor celeridade, por integrar um perímetro de preservação histórica da cidade, onde as luminárias não são convencionais. No entanto, todas as medidas já estarão finalizadas no período do Carnaval.

DESFILES E CORTEJOS COM CARROS E SONS AUTOMATIZADOS NO SÍTIO HISTÓRICO

O uso de carros e sons automatizados tem incomodado alguns foliões. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

A Secretaria de Patrimônio, Cultura e Turismo de Olinda esclarece que já vem realizando o monitoramento integral das prévias carnavalescas que estão sendo promovidas na cidade, trabalho que será estendido no mês de janeiro e dias que antecedem o Carnaval. Para este primeiro ciclo, já está definido que veículos automatizados com sistema de som estão proibidos, sendo mantidas as características culturais e de afetividade presentes na tradicional festa de rua. Em relação ao período do Carnaval, que ocorrerá na segunda quinzena de fevereiro, a gestão informa que permanece em ajustes com o comitê gestor, envolvendo os diversos setores da sociedade. Neste planejamento, serão definidos os padrões, critérios e a padronização que será adotada em 2023. Após ampla discussão e diálogo, todas as medidas serão divulgadas.

PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA 

O alto número de pessoas em situação de rua em Olinda tem preocupado moradores. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

A Secretaria Executiva de Assistência Social de Olinda esclarece que está atenta às demandas oriundas da população menos favorecida, atuando durante todo o ano e promovendo ações especiais nos períodos eventuais, a exemplo do Carnaval. Na cidade, foi instituído um comitê intersetorial voltado aos cuidados com a população em situação de rua, com seus representantes empossados neste mês de dezembro. A organização tem o propósito de fomentar, planejar e articular políticas públicas para este segmento, com respeito à saúde, integridade e garantia da dignidade. No tocante ao período carnavalesco, desde 2017, já são realizadas medidas sociais e protetivas no ciclo festivo, como pontos de acolhimento e atividades lúdicas para menores, filhos dos ambulantes que atuam nos polos de folia. No espaço, eles contam com alimentação, ações pedagógicas e de entretenimento. Atualmente, a Prefeitura mantém, ainda, o espaço de acolhimento Casa da República, em Rio Doce, com vagas em fase de ampliação. Entre as estratégias previstas para o próximo ano, em Olinda, está a criação de centros de acolhimento noturno; centros pop, entre outras ações.  

 

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