Ah, esses bretões!
São Paulo, 06 (AE) - Não dá para entender esses ingleses. Os caras fazem uma renovação excepcional que transforma Silverstone no mais funcional complexo de boxes, garagens, paddock, torre, direção de prova e sala de imprensa, e não conseguem organizar o trânsito para que as pessoas cheguem ao autódromo. Nos últimos 25 anos, três estradas de pista única foram transformadas em autoestradas, mas a dificuldade para se chegar a Silverstone é a mesma do tempo em que a única opção era enfrentar a fila indiana da estreita A-43, que liga Northampton a Oxford e passa por Silverstone.
A única diferença é que, agora, em vez de fila indiana, a chegada tem três filas de carros parados. Os últimos 800 metros do caminho demandaram, em média, uma hora e meia de tráfego. E sem nenhuma razão que justifique. É, de fato, pura incompetência de improvisar diante de uma situação inesperada. A culpa caiu em cima da chuva. Como se fosse algo novo chover em Silverstone. Aliás, a previsão é de que, somados os três dias do GP, a chuva atinja o nível habitual de um mês inteiro nesta época do ano. As imagens de carros atolados e pessoas cobertas de lama até o pescoço nos estacionamentos divertiram todo mundo, inclusive pilotos, que não tinham o que fazer na pista.
Se isso ocorresse em qualquer outro país, certamente a corrida estaria condenada. Por ser o berço da F-1, a Inglaterra está perdoada. É um sentimento que vem do público, disposto a enfrentar chuva e tráfego pesado para satisfazer sua paixão pelo esporte a motor. Se dependesse de Bernie Ecclestone, Silverstone já não estaria no mapa da F-1.
Desavenças antigas com Jackie Stewart e outras mais recentes com Damon Hill, dois nomes fortes no comando do BRDC, British Racing Drivers Club, administrador do autódromo, fizeram o chefão da FOM tentar tirar a corrida daqui para levá-la a Donnington Park alguns anos atrás. Mesmo não dando certo, Bernie insistiu em exigir uma reforma que Silverstone, provavelmente, não conseguiria financiar.
O assunto foi discutido até no Parlamento. Demorou, mas acabou saindo. E o resultado é um autódromo perfeito. Mas se Bernie gosta de dar palpite em tudo, por que não sugere para a Polícia um planejamento de trânsito eficiente?
Os jornalistas ingleses, aqui na sala de imprensa, replicaram as reclamações via twitter de torcedores presos por até quatro horas no trânsito. Bom, mas já que a água promete continuar caindo pelos próximos dias, melhor pensar no lado bom das corridas com chuva. Elas são imprevisíveis e, às vezes, mostram um show de habilidade de um desses pilotos que gostam de pista molhada.
Nessas condições, fica mais difícil a Red Bull dominar com a facilidade com que dominou a corrida de Valência até quebrar o motor de Vettel. Mas o bicampeão está entre os que gostam das dificuldades da chuva. Assim como Hamilton, Schumacher, Raikkonen e - olha ele aí de novo - Alonso. Sem esquecer do que Perez fez na pista molhada da Malásia. E da maior qualidade de Button, que é administrar bem as mudanças de circunstâncias dentro de uma corrida. Button vai correr em casa pela 13ª vez, e nunca pode comemorar nem mesmo um pódio ao lado de sua torcida.