Dia do sexo: terceira idade derruba mitos e preconceitos

Em um estudo realizado pelo Datafolha em 2017, 53% das pessoas acima de 60 anos relataram praticar relações sexuais

qui, 06/09/2018 - 13:36
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Por preconceito e desinformação, o sexo, quase sempre, é associado aos jovens. Há os que afirmam que, a medida que a idade vai avançando, o frequência da prática diminui até chegar praticamente à estaca zero durante a velhice. Mas pesquisas recentes provam exatamente o contrário: metade dos idosos no Brasil praticam sexo. Em um estudo realizado pelo Datafolha em 2017, 53% das pessoas acima de 60 anos relataram praticar relações sexuais. O levantamento ouviu 2.732 pessoas com 16 anos ou mais em todo o país. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) divulgada pelo IGBGE, o Brasil superou os 30 milhões de idosos em 2017 e a tendência é que o número de pessoas na terceira idade supere o de crianças e adolescentes de 0 a 14 em 2031. 

Em uma outra pesquisa, essa da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, pesquisadores apontaram que das mil pessoas entre 65 e 80 anos entrevistadas para o estudo, 84% dos homens e 69% das mulheres acreditam que o sexo é algo importante no relacionamento. Ainda de acordo com o estudo, 73% dos entrevistados pelos pesquisadores afirmam estar satisfeitos com a vida sexual.

Apesar disso, apenas 17% dos participantes disseram conversar sobre suas vidas sexuais com médicos nos últimos dois anos. A ginecologista e sexóloga do Hospital da Mulher do Recife, Karina Cidrim, atende cerca de 45 idosas por semana na área de climatério da unidade de saúde. A maioria delas, aponta, se queixa sobre a falta de diálogo. “Além de não falar por vergonha ou por preconceito, há, também, a questão de não se sentir à vontade porque muitos médicos sequer perguntam sobre o assunto ao paciente. Quando o médico pergunta, dificilmente ele ficará sem resposta. Muitas pacientes minhas falam: ‘eu tava louca para alguém perguntar sobre isso’”, explica.

Mas além do desafio de falar sobre o tema, boa parte dos idosos enfrentam, também, algum tipo de problema relativo à atividade sexual. Na população masculina acima de 60 anos, estima-se que 50% tenha algum tipo de complicação. Nos homens, a mais comum é a dificuldade de ereção. Nas mulheres, o ressecamento vaginal é grande vilão que acaba provocando dor durante a penetração. A diminuição da libido também é outra queixa muito comum relatadas pelas idosas. Outro fator que pode atrapalhar as relações é a quantidade de doenças. “Principalmente aqui no Brasil, os pacientes acima de 60 anos geralmente têm alguma comorbidade. A gente nota muito no atendimento que as relações param de acontecer por conta disso”, aponta a médica.  

Para evitar ou resolver as dificuldades, a principal orientação é sempre procurar atendimento médico. Para os homens, encarar o medo ou receio e ir ao urologista ou andrologista é essencial para prevenir ou solucionar os problemas sexuais. Já para as mulheres, a visita ao ginecologista é essencial. “A mulher precisa ir para um ginecologista para ser examinada, para ver se tem alguma lesão, ser orientada a usar cremes e lubrificantes. O ponto importante é deixar a relação ser o mais confortável possível para que não haja trauma para ninguém”, detalha Karina.

Em meio aos problemas físicos e psicológicos, há, ainda, um outro obstáculo a ser enfrentado pelos idosos que querem manter a vida sexual ativa: o preconceito. Dados da pesquisa do Datafolha apontam: de cada cem homens com 60 anos ou mais, 83 afirmaram que costumam ter relações sexuais. Ao consultar a mesma quantidade de mulheres, o número caiu para 29. “Existe uma cultura de que a mulher quando está na menopausa e o homem quando está com mais de 60 anos não tem mais idade para ter relação. Mas a mulher sofre ainda mais com isso. A sociedade não acha estranho um homem de 80 anos que continua tendo relações sexuais, mas acha estranho uma mulher de 60 que tenha.  Eu chego a ouvir de pacientes: 'claro que não tenho relação, doutora. O que meus filhos vão pensar de mim?' Principalmente para mulher, o maior desafio é vencer esse preconceito”, aponta a médica.

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