"Estou com você": a importância das mães contra LGBTfobia

Rodeados por violência e discriminação, filhos LGBT+ conquistam o respeito das mães e convivem em plenitude consigo mesmos. Em conversa ao LeiaJá, conhecemos histórias de acolhimento e afeto

por Victor Gouveia sex, 17/05/2019 - 15:39

Aos 16 anos, Téo Dias descobriu-se homem trans. No país que assassinou 420 LGBT+ só em 2018, o amparo maternal impulsiona a liberdade em meio à violência e à discriminação de gênero. Por isso, ele conquistou o apoio da mãe para viver em completude consigo mesmo. "Todo mundo deveria ter o acolhimento dos pais em casa, essa é a base. Minha vida hoje é muito boa graças a ela. Com ela tudo fica mais calmo", confessa ao LeiaJá.

A mãe Ivoneide França teve que se separar do marido porque ele não aceitava a orientação sexual do filho. Ela não abriu mão de ser parceira e travar as intempéries da homofobia ao lado de Téo. "Mesmo vivendo minhas dificuldades, nunca deixei de dizer: 'eu estou com você!'. A partir disso, as interferências externas não me atingiram porque eu tava focada em cuidar de entender tudo que estava acontecendo e mostrar para ele que meu amor é maior que qualquer coisa", relatou, antes de afirmar: "Tudo que esse mundo precisa é respeito".

"Meu sentimento é fazer ele crescer com respeito e dignidade", disse Ivoneide/Arquivo Pessoal 

Um levantamento recente sobre a violência LGBT+ aponta que, desde o início do ano até 15 de maio, 141 pessoas já morreram em decorrência da homofobia. "Se você se colocar dentro desse senso, você tá se colocando na cova”, acredita Téo, hoje com 19 anos. Junto à mãe, ele batalha para contrariar as estatísticas da mortalidade. "A gente não dá margem para esse sentimento de medo tomar conta da gente!", pontua Ivoneide. 

Para a comunidade, exercer o direito à vida torna-se uma tarefa árdua, sobretudo no Nordeste, que registrou 147 assassinatos ano passado; desses, 15 foram em Pernambuco. Através da aceitação e do acolhimento familiar, a bravura das 'mães leoas' refletem no empoderamento dos filhos e proporcionam o suporte necessário para confrontar as adversidades que teimam em se perpetuar. Nesta sexta-feira (17), Dia Mundial Contra a Homofobia, as mães representam a batalha pela validação dos direitos e do respeito ao movimento LGBT+.

O amor e proteção recíprocos são os alicerces da relação entre Ian e Dilma /Denilson Cabral

"Como todo mundo diz: 'a mãe é a leoa!'. Não quero ver meu filho hospitalizado por um tiro ou uma facada só por ser gay", declarou Dilma Félix, mãe do estudante Ian, de 20 anos. Na luta contra a vulnerabilidade ela acaba absolvendo o preconceito, e juntos, entendem que a estrutura familiar é o elemento fundamental para enfrentar a discriminação nas ruas. "Eu sabia que quando saísse e algo acontecesse lá fora, quando retornasse para casa ia ter minha base, e isso é primordial para quem você é", explica Ian Félix.

Caminhando lado a lado, a proteção e o amor entre os dois é mútuo. Tanto que ele revelou que teve que conter o ímpeto da mãe quando ela quis comprar uma briga após ouvir insultos na rua, "ele me protege também. Uma vez pegaram a gente no meio do caminho, disseram umas coisas com ele e quando eu ia pra cima, ele me segurou e me botou pra trás", relembra Dilma.

Com sorriso no rosto, Gi Carvalho acolhe famílias LGBT+ e promove o empoderamento à comunidade recifense/Kauan Rocha

No Estado que já foi o mais violento em relação a homicídios LGBT+ -quando totalizou 18 em 2011-, coletivos como o Mães pela Diversidade transgridem a cultura da homofobia e são um recanto para a plenitude das famílias. "O amor é natural e deve ser celebrado independente de outros fatores. Ele precisa dar o recado", constata a coordenadora da ONG Gi Carvalho, e continuou, "nossa intenção é aumentar o acolhimento familiar para que no futuro as famílias compreendam como é necessário cuidar dos nossos filhos e lutar para que eles tenham seus direitos respeitados".

 A sede do Mães pela Diversidade fica no Espaço Acolher, localizada na Rua Gervásio Pires, 404, sala 4, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife. No local, equipes de psicólogos, psiquiatras e advogados prestam assistência ao movimento. "Nos descobrimos como um espaço de acolhimento para famílias que são alvo diário de 'homotransfobia' e todas suas nuances. Os coletivos são um grito de orgulho e proteção, onde o LGBT+ se sente acolhido", finalizou a coordenadora. 

*Dados do Grupo Gay da Bahia (GGB)

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