Marrocos satisfeito com 'avanço' no Saara Ocidental

No anúncio realizado por Trump no Twitter na quinta-feira (10), o presidente americano descreveu como um 'avanço histórico' as 'relações diplomáticas plenas' entre Marrocos e Israel e afirmou que reconhece a soberania do reino no disputado território desértico

sex, 11/12/2020 - 10:16
DEBBIE HILL, Laudes Martial MBON O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu (e) e o rei do Marrocos Mohammed VI DEBBIE HILL, Laudes Martial MBON

Marrocos saboreava nesta sexta-feira (11) seu sucesso diplomático no Saara Ocidental, depois que Donald Trump decidiu reconhecer sua "soberania" na ex-colônia espanhola em troca de que Rabat normalize suas relações com Israel.

No anúncio realizado por Trump no Twitter na quinta-feira (10), o presidente americano descreveu como um "avanço histórico" as "relações diplomáticas plenas" entre Marrocos e Israel e afirmou que reconhece a soberania do reino no disputado território desértico.

O reconhecimento da "marroquinidade do Saara" é um "avanço diplomático histórico", enquanto a normalização das relações com Israel "se enquadra em uma continuidade" relacionada à "especificidade do Marrocos, pelos vínculos entre o rei e a comunidade judaica", destacou na quinta-feira o ministro marroquino das Relações Exteriores, Naser Burita, em uma entrevista à AFP.

No entanto, o anúncio celebrado em Israel como um "acordo histórico" provocou reações divergentes.

O movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, denunciou um "pecado político que não serve à causa palestina", enquanto a ONU apontou que sua posição "não muda" em relação ao Saara Ocidental, afirmando que "sempre é possível encontrar [uma solução] fundada nas resoluções do Conselho de Segurança".

A ex-colônia espanhola é reivindicada tanto pelos marroquinos como pelos independentistas da Frente Polisário, apoiados pela Argélia, país vizinho e grande rival regional de Rabat. As negociações lideradas pela ONU estão paralisadas desde a primavera de 2019.

A Argélia ainda não reagiu oficialmente, mas a Frente Polisário condenou com veemência "o fato de o presidente americano Donald Trump atribuir ao Marrocos algo que não lhe pertence".

Nesta sexta-feira, o movimento alertou que "os combates continuarão até a retirada total das tropas marroquinas de ocupação", segundo Mohamed Salem Uld Salek, ministro das Relações Exteriores da República Árabe Saharaui Democrática (RASD), proclamada em 1976 pelo Frente Polisário.

A decisão americana é "inválida e sem efeito", reiterou Uld Salek, destacando que a comunidade internacional "não reconhece e não reconhecerá nenhuma soberania marroquina no Saara Ocidental".

- "Grande potência" -

De acordo com o chefe da diplomacia marroquina, após "vários anos de trabalho e de comunicação ativa", os esforços diplomáticos do Marrocos no Saara foram "coroados com o reconhecimento dos Estados Unidos, a grande potência do Conselho de Segurança, um ator influente no cenário internacional".

O governo dos Estados Unidos abrirá um consulado em Dakhla, grande porto do Saara Ocidental, e Marrocos "reabrirá" um "escritório diplomático" que funcionou de 1994 a 2002, período em que o então rei Hasan II apoiava o processo de paz incentivado pelos acordos israelense-palestinos de Oslo de 1993, explicou um responsável diplomático marroquino.

A imprensa israelense informa há meses sobre o acordo que estava sendo desenvolvido, mas em Marrocos não houve nenhuma reação oficial, com exceção do primeiro-ministro Saad-Eddin El Othmani que em agosto condenou "qualquer normalização com a entidade sionista"

Na quinta-feira, no entanto, o chefe do Governo marroquino se recusou a fazer qualquer comentário.

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