COP15 próxima de consenso para salvar biodiversidade

Meta é proteger 30% das terras e dos mares do planeta até 2030

dom, 18/12/2022 - 19:40
ANDREJ IVANOV / AFP Estima-se que aproximadamente um milhão de espécies de plantas e animais estejam ameaçadas ANDREJ IVANOV / AFP

Proteger 30% do planeta e aumentar a ajuda internacional à natureza são as propostas do projeto de acordo apresentado neste domingo (18) pela China na cúpula da ONU em Montreal, um texto que tenta responder à necessidade de ações urgentes para salvar a biodiversidade.

Os países devem aprovar na segunda-feira, com base nesta proposta, qual será o roteiro para a próxima década para travar a perda acelerada de espécies e a degradação dos ecossistemas.

A meta de proteger 30% das terras e dos mares do planeta até 2030, anunciada como ponto-chave dessas negociações, consta na proposta da China, que preside a cúpula.

Em uma tentativa de resolver a espinhosa questão financeira, a China também propõe arrecadar "pelo menos US$ 20 bilhões" em ajuda internacional anual até 2025 e "pelo menos US$ 30 bilhões até 2030".

Os países em desenvolvimento pedem US$ 100 bilhões por ano dos países ricos. Isso representa dez vezes a ajuda atual para a biodiversidade.

Após novas rodadas de intensas negociações, a ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, disse estar "otimista" com as metas acordadas, mas afirmou que "provavelmente" terá que se chegar a um meio-termo entre os países em desenvolvimento e os ricos na questão do financiamento.

A Colômbia, um dos países com maior biodiversidade do mundo, insistiu em uma reestruturação do sistema multilateral de financiamento para incorporar a troca da dívida por serviços ambientais, proposta apoiada por vários países latino-americanos, mas que não está no texto preliminar.

"É uma fonte de financiamento que também poderia ser justiça climática e ambiental", afirmou.

O comissário europeu para o Meio Ambiente, Virginijus Sinkevicius, foi mais cauteloso, ao considerar que os valores de financiamento em discussão podem dificultar o consenso.

Mas "se tivermos outros países se comprometendo a atingir essas metas, como a China, acho que pode ser realista", disse ele a repórteres, pedindo que as nações árabes também façam sua parte.

- Compromisso "corajoso" -

"O rascunho do documento final da presidência chinesa é corajoso", disse a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Steffi Lemke. "Ao proteger a natureza, protegemos a nós mesmos."

Especialistas garantem que o chamado objetivo "30x30" é o equivalente para a natureza da meta histórica de 1,5°C para o aquecimento global definido no Acordo de Paris.

O acordo anterior, assinado no Japão em 2010, estabelecia esses números em 17% e 10%, respectivamente.

A proteção dos povos indígenas, guardiões de 80% da biodiversidade da Terra, também é mencionada, demanda amplamente reivindicada pelos representantes dessas comunidades na cúpula.

A proteção de 30% do planeta é "o maior compromisso da história com a conservação dos oceanos e da terra", disse Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature.

"A conservação nesta escala dá uma chance à natureza. Se aprovada, as perspectivas para leopardos, borboletas, tartarugas marinhas, florestas e populações melhorarão acentuadamente", acrescentou.

Já a ONG Avaaz considerou que a meta de 30% "não é suficientemente ambiciosa".

Essa cifra já foi atingida "de fato" devido ao trabalho "não reconhecido" dos povos indígenas e comunidades locais, destacou a ONG em um comunicado, no qual pediu a proteção de 50% do planeta.

Os cientistas alertam que o tempo é curto: 75% dos ecossistemas foram alterados pela atividade humana e mais de um milhão de espécies estão em risco de extinção.

Este acordo deve suceder ao plano de dez anos assinado em 2010, que não conseguiu atingir quase nenhum dos seus objetivos, falha atribuída à falta de mecanismos de monitoramento, algo que o atual projeto de acordo prevê.

Os detalhes dos cerca de vinte objetivos ainda estão em discussão, e é provável que as negociações se estendam para além do prazo desta segunda-feira, quando deve ser apresentado um documento final.

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