Mostra revela fatos inéditos das ditaduras do Cone Sul
A exposição Movimento de Justiça e Direitos Humanos - Onde a Esperança se Refugiou, que será inaugurada nesta quinta-feira, 25, em Porto Alegre, vai mostrar como as ditaduras militares violaram a democracia e direitos civis, interferindo na vida das pessoas, e como as redes de solidariedade que se formaram atuaram para proteger perseguidos políticos, salvando cerca de 2 mil vidas nos anos de chumbo dos países do Cone Sul. Entre os documentos, fotografias, filmes e audiovisuais estão informações e depoimentos inéditos ou ainda pouco conhecidos.
É o caso, por exemplo, de um informe reservado do Exército, encontrado pelo presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) Jair Krischke no Arquivo Nacional, que descreve a prisão do tenente-coronel Jefferson Cardim de Alencar Osório e de um filho e de um sobrinho dele em Buenos Aires, em operação conjunta de autoridades brasileiras e argentinas. "Isso ocorreu em 1970, o que mostra que quem criou a Operação Condor, à época ainda denominada Busca no Exterior, foi o Brasil", ressalta Krischke. O material é reforçado pelo depoimento do filho do tenente-coronel. Osório era ligado ao ex-governador Leonel Brizola e havia tentado se insurgir contra o regime militar no episódio conhecido como Guerrilha de Três Passos, em 1965.
O MJDH foi criado ainda em 1964, mas só assumiu seu status jurídico em 1979, depois do fim da vigência do Ato Institucional Número 5. "Não digo que éramos clandestinos porque clandestinos eram os que estavam no poder, mas agíamos discretamente", recorda Krischke, referindo-se às redes de solidariedade, formadas por defensores dos direitos humanos que, sem fazer alarde, acolhiam perseguidos em suas casas ou auxiliavam nas rotas de fuga.
A exposição tem cinco eixos, que abordam o contexto político internacional, a ditadura militar no Brasil, o Movimento de Justiça e Direitos Humanos, o processo de transição política no Cone Sul e a cronologia das Comissões da Verdade no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Além disso, exibe 11 filmes que retratam episódios dos anos de chumbo no Brasil e América Latina, com sessões comentadas. "Recorremos muito à multimídia pensando no público jovem", explica Krischke. "Não é um museu, mas uma memória viva que deve ser resgatada".
Depois da abertura, marcada para às 18 horas desta quinta-feira, a exposição fica aberta à visitação de segunda a sexta-feira, das 14 horas às 19 horas, e aos sábados, domingos e feriados, das 9 horas às 19 horas, no Centro Cultural da Usina do Gasômetro, com entrada franca.