"A pensão que eu tenho não cassa meus direitos políticos". Foi com essa frase que o presidente da Câmara de Vereadores do Recife, Vicente André Gomes (PSB), iniciou uma entrevista que cedeu na tarde desta segunda-feira (3), sobre a reportagem exibida nesse domingo (2), no Fantástico. Na sala de Comissões da Casa José Mariano, o socialista garantiu que já se antecipou e conversou com a diretoria da Câmara e pediu uma nova perícia médica em relação ao seu benefício por invalidez.

O vereador foi assunto de uma reportagem da Globo com o tema de: “Farras das aposentadorias”. Na exibição, o parlamentar é apresentado como deputado federal aposentado e ainda com outro benefício que ele chama de pensão, em virtude de ter trabalhado 37 anos como estatuário da Prefeitura do Recife. Este último saiu no Diário Oficial na última terça-feira (28) e equivale a R$ 5,3 mil.

“Lula foi aposentado e era presidente da República. (...) Eu tenho cardiopatia (patologia) que obedece alguns parâmetros. O mandato de deputado federal passou a ser prejudicial para mim por ser portador de uma cardiopatia e que tenho que estar submetido a viagens permanentes com alterações atmosféricas, diferente de eu ser vereador do Recife”, explicou.

O presidente enumerou diversos exemplos da situação de ser parlamentar na capital de Pernambuco e ter que ir para o Planalto. “Esse é o mesmo fato de Luiz Eduardo que era presidente do Congresso Nacional. A diferença é que ele faleceu e eu estou vivo”, comparou.

Vicente André Gomes lembrou que já enfartou na Câmara de Deputados e que o problema que possui, caso faça algum esforço, poderá levar a doença aguda do miocárdio. “Eu sou voluntário, porque eu poderia muito bem receber como vereador”, disse e frisou em seguida: “Quem quiser trocar o meu coração pelo meu salário me dando um coração bom, eu prefiro do que minha pensão”, desafiou.

Edições – Durante a entrevista, o socialista foi sabatinado sobre as declarações ditas por ele na reportagem em rede nacional, como por exemplo, quando falou que ser vereador era uma terapia ocupacional. “A edição que os jornalistas fazem é do jeito que quer. Eu disse isso, mas não era nesse sentido. Eu disse que a terapia ocupacional faz parte de um conjunto de adaptações orgânicas. Exercer um mandato aqui é diferente do que exercer no Planalto Nacional”, justificou.

Outra declaração polêmica foi quando ele falou a seguinte frase: “Existe aquilo que a gente considera ético e legal. Nem tudo que é legal, é ético”. Sobre essa parte da reportagem exibida no Fantástico, Vicente se mostrou irritado e reclamou mais uma vez da edição jornalística. ”Mais uma vez foi editado. Eu não disse isso. Eu disse que tinha feito registro em cartório quando Brizola me convidou para que eu fosse candidato à prefeito e eu fiz um registro em cartório dizendo que se eu fosse eleito prefeito eu seria voluntário da vida pública, como sou agora. E aí o repórter perguntou: e o Sr. é voluntário? – Sou, eu nem recebo. E ele disse: - E porque o Sr. não recebe? E aí eu disse: porque nem tudo que é legal é ético”, justificou dizendo em seguida que lamentavelmente a edição mostrou algo que ele não disse naquele contexto.

O presidente da Casa Municipal explicou ainda que a lesão que possui é irreversível. “Então, quando eu recebi essa pensão recebi pela lesão que eu adquiri e não uma pensão evidentemente porque eu estou doente. O coração eu não tirei, eu tenho uma lesão de mais de 80% do tronco coronária”, ressaltou.

Ao término da entrevista Vicente André Gomes mostrou um documento do Tribunal de Contas da União referente o processo de nº 102.783/2011 CD, em que o autoriza a receber a pensão. Além desse papel, o socialista citou que pagou na época um fundo de pensão e comentou um dos artigos do fundo, afirmando que, se quisesse, poderia até acumular o salário de vereador: - “É permitida a acumulação da pensão do IPC com pensão e proventos concedidos por outras instituições (Artigo 40)”, cita o documento. O vereador também afirmou aos jornalistas que não processará a Rede Globo.