Honduras: um retorno à democracia?

Confira o artigo da doutoranda em Relações Internacionais, Juliana Vitorino, sobre as eleições do próximo domingo (24) em Honduras

por Alex Ribeiro sab, 23/11/2013 - 16:36

Em 28 de junho de 2009, a América Latina acordou com a notícia de um golpe de Estado em Honduras: o então presidente Manuel Zelaya havia sido retirado de sua casa, ainda pela manhã, trajando apenas pijamas, rumo à República Dominicana. Para centro-americanos, acostumados às numerosas ingerências externas, era apenas mais um capítulo em sua trajetória de periferia capitalista.

Fato tanto controverso quanto surpreendente, o golpe de Estado em Honduras abriu um precedente perigoso em uma região que, há poucas décadas convivia com golpes e outras rupturas democráticas mais drásticas, como guerras civis. Afinal de contas, ainda é possível – e até mesmo fácil – interromper democracias latino-americanas?

Micheletti assumiu interinamente a presidência hondurenha, até que fossem convocadas novas eleições, das quais Porfírio Lobo, o atual presidente, saiu vencedor. A Honduras pós-golpe de Estado conseguiu piorar drasticamente pelo menos em dois aspectos: pobreza e segurança. De 2009 a 2013, o país figura nas primeiras colocações de rankings pouco simpáticos: é um dos países mais pobres e é o mais violento do mundo. Há, ainda, outros problemas que emergem dentro do espectro desses dois temas: corrupção, penetração do crime organizado nas estruturas de governo e a ação do narcotráfico.

Estará nas ruas para votar uma população acostumada a uma disputa política polarizada, entre o Partido Nacional (PN) e o Partido Liberal (PL), mas que terá que lidar, pela primeira vez, com um cenário em que nove partidos (quatro deles surgidos depois do Golpe de Estado) competem pela Presidência. Pese a quantidade de novos partidos na disputa eleitoral, no entanto, a sociedade hondurenha permanece dividida. Se não entre direita e esquerda, entre golpistas e anti-golpistas.

Às vésperas do pleito, ainda não se pode falar em favoritos. Há um empate técnico entre Xiomara Castro (Partido Libertad y Refundación – LIBRE) e Juan Orlando Hernández (PN).

Xiomara é conhecida pela população: é a esposa do ex-presidente Manuel Zelaya e cobrou espaço na política após ter desempenhado papel de destaque nos protestos contra o golpe e, justamente esse tema é no que ela insistido em debater durante a campanha eleitoral. Não há dúvidas de que a eleição presidencial de 24 de novembro será tratada como histórica, pois é, também, o reencontro de Honduras com a democracia. E é Xiomara quem se coloca como garantidora desse processo.

E algo nessa eleição também diz respeito ao Brasil. Em 2009, quando de regresso a Tegucigalpa, Manuel Zelaya pediu asilo à Embaixada brasileira naquela cidade e lá permaneceu por aproximadamente três meses, com anuência do então Presidente Lula. Em 2013, Lula reaparece, dessa vez na campanha de Xiomara Castro, para quem gravou um vídeo divulgado na última semana, e que foi interpretado pelos opositores da candidata como uma intromissão nos problemas internos de Honduras.

Por Juliana Vitorino

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