Empresário revela cobrança de propina na CPI da Petrobras
Sobrinho depôs na sexta-feira (24) como testemunha na ação penal contra o ex-senador Gim Argello (PTB-DF)
O empresário José Antunes Sobrinho, sócio do Grupo Engevix, declarou ao juiz federal Sérgio Moro que, durante uma reunião, em 2014, na casa do então senador Gim Argello (PTB-DF), em Brasília, ouviu pedido de "doação" no valor de R$ 5 milhões em troca de não ter de depor na CPI Mista da Petrobras, em curso no Congresso naquele ano. "Pagou não seria chamado", disse Sobrinho.
"Deixando de pagar seria chamado", afirmou o empresário ao comentar a "estratégia de pressão". Segundo ele, Gim Argello agia em nome da CPI Mista da Petrobras, chantageando empreiteiros. "O encontro foi num fim de tarde, uns 40 minutos", relatou o sócio da Engevix.
"Nessa reunião estavam ele (Gim Argello) e dois assessores. O assunto foi a possível participação da Engevix nesse clube de empresas dispostas a repassar R$ 5 milhões", disse.
Sobrinho depôs na sexta-feira (24), como testemunha na ação penal contra o ex-senador, preso em abril deste ano, na Operação Vitória de Pirro, 28.ª etapa da Lava Jato. Em maio, Gim Argello foi denunciado pelo Ministério Público Federal por cobrar dinheiro de empreiteiras para que executivos fossem "blindados" em CPIs.
Réu da Lava Jato, Sobrinho negocia delação premiada com o Ministério Público Federal. Delatores da Lava Jato já relataram a cobrança de dinheiro de empreiteiras por integrantes de CPIs em troca da não convocação de executivos. O senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) afirmou que parlamentares da CPI Mista da Petrobras de 2014 teriam pedido "recursos" para derrubar ou não colocar em votação requerimentos "desfavoráveis aos empresários".
Ex-executivo da Andrade Gutierrez, Gustavo Barreto relatou almoço em junho de 2014 na casa de Gim Argello, onde foi discutido um acerto para "não prejudicar as empreiteiras".
Na audiência de sexta-feira, realizada na Justiça Federal em Curitiba, Moro questionou se Gim Argello cobrou R$ 5 milhões de cada empresa ou R$ 5 milhões de todas as empresas citadas na CPI Mista da Petrobras. "Cinco milhões para cada empresa que viesse a participar, ou seja, se são oito empresas seriam R$ 40 milhões", respondeu Sobrinho.
A Operação Vitória de Pirro descobriu que a UTC Engenharia, do empreiteiro Ricardo Pessoa, atendeu à solicitação do ex-senador e pagou R$ 5 milhões. A OAS, outra empreiteira alvo da Lava Jato, pagou R$ 350 mil, que foram parar na conta de uma igreja no Distrito Federal frequentada por Argello.
Sobrinho disse que ouviu o pedido, mas afirmou que a Engevix não pagou nada. Nem por isso ele e seu sócio, Gérson de Mello Almada, foram chamados para depor na comissão.
'Colaboração'
O empresário afirmou que soube da "pressão" da CPI durante um encontro em Brasília com o empreiteiro Léo Pinheiro, dono da OAS. "Ele (Léo Pinheiro) disse da preocupação muito grande das empresas envolvidas na Lava Jato e que gostaria de saber do interesse da Engevix, se nós tínhamos interesse de participar de um grupo de empresas que faria uma colaboração para que a CPMI fosse barrada, de forma que os executivos não fossem chamados a prestar depoimento."
Sobrinho foi questionado sobre as empresas que teriam sido "convidadas" a contribuir para se livrarem da CPI. "Além da OAS, a Toyo Setal, a UTC, a Camargo Corrêa, a Odebrecht. Não sei se Galvão ou Queiroz Galvão. Ele (Léo Pinheiro) disse que nós (Engevix) estávamos convidados a participar. A ideia colocada é que seria paga uma quantia em dinheiro de alguma maneira, sob a coordenação do ex-senador Gim Argello", afirmou. "Nessa época tinha eclodido a Lava Jato. Eu passei o assunto para o meu sócio Gérson de Mello Almada. Internamente tínhamos um consenso de não atender (à chantagem)."
O empresário disse que, em julho, recebeu ligações de assessores de Gim Argello cobrando uma definição. Quem o procurou também foi o lobista Júlio Camargo, delator da Lava Jato que revelou pagamento, em 2011, de US$ 5 milhões em propinas para o presidente afastado da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
"No início de julho (de 2014) fui procurado por Júlio Camargo. Ele disse: Vocês não estão dando nenhum retorno para o Gim Argello. Expliquei ao Júlio da decisão de não me envolver com isso, com essa situação. O Júlio me pediu que desse uma satisfação (a Gim Argello). Depois, o Júlio me ligou e pediu que eu escutasse o senador pelo menos", afirmou Sobrinho. O criminalista Marcelo Bessa, que defende o ex-senador Gim Argello, não foi localizado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.