Empresa teve motorista como sócio laranja
Jonathan Gomes Bastos começou a trabalhar como office boy para Cortegoso em 2004 e, a pedido do chefe, forneceu seu nome para a composição de quatro empresas
Após dez anos trabalhando como motorista pessoal de Carlos Roberto Cortegoso, dono da CRLS e da Focal Comunicação, segunda maior fornecedora da campanha da presidente afastada Dilma Rousseff, Jonathan Gomes Bastos admite ter atuado como laranja do empresário. Bastos tentou negociar na Justiça um acordo com seu ex-chefe para receber uma indenização mensal de R$ 6 mil por 12 anos e ficar em silêncio.
O acordo foi proposto no fim do ano passado, ao mesmo tempo em que ele acionou a Justiça contra seu antigo patrão pedindo indenização de R$ 4 milhões por não ter recebido dinheiro movimentado em uma das empresas de Cortegoso na qual aparecia como sócio até 2011 - a CRLS. O valor é referente ao lucro que a empresa teria obtido ao adquirir e depois revender em 2010 sete terrenos do pecuarista José Carlos Bumlai, em São Bernardo do Campo (SP).
Antes de entrar com o processo, os advogados de Cortegoso e de Bastos negociaram um acordo. Nele, contudo, o valor que seria acertado ficaria em menos de um quarto do que foi pedido pelo ex-motorista inicialmente: R$ 846 mil divididos em 144 parcelas mensais.
Pelo acordo, Cortegoso teria ainda que pagar todas as dívidas que Bastos tivesse herdado por causa da empresa. Uma das cláusulas do documento encaminhado ao juiz da 4.ª Vara Cível de São Bernardo do Campo previa que cada um dos envolvidos devia manter sigilo das informações "quer pessoais ou profissionais".
Cortegoso nunca chegou a assinar o documento, mas teria realizado os pagamentos para Bastos extrajudicialmente até maio deste ano, segundo informou a própria defesa do ex-motorista à Justiça. No documento do acordo, porém, há apenas as assinaturas de Bastos e de sua advogada.
Outra cláusula do documento prevê que um dos imóveis de Cortegoso ficasse como garantia dos pagamentos e que o ex-motorista iria desistir de ações referentes as outras empresas que estavam em seu nome.
Diante do juiz, a defesa do empresário não comentou o acordo. Ela contesta as alegações de Bastos e diz que a CRLS se tornou alvo de ações trabalhistas somente após a saída do ex-motorista do quadro societário. Alegam também que não há nenhum processo trabalhista nem execução fiscal no nome de Bastos devido a CRLS e pedem a anulação da ação. O processo corre em segredo de justiça.
Custo Brasil
Bastos começou a trabalhar como office boy para Cortegoso em 2004 e, a pedido do chefe, forneceu seu nome para a composição de quatro empresas. Destas, uma já foi encerrada e outra, a CRLS, está na mira da Operação Custo Brasil apontada como uma das firmas que teriam sido usadas para movimentar propina da Consist ao PT em um suposto esquema que desviou R$ 100 milhões em operações de créditos consignados de servidores do Ministério do Planejamento.
No ano passado, Bastos foi notificado de ações trabalhistas envolvendo outras empresas nas quais diz ter figurado como "laranja" e buscou ajuda para tentar provar que não está envolvido em irregularidades. Procurados, os advogados de Cortegoso e Bastos não quiseram comentar o assunto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.