Famílias são enganadas e pagam por cisternas, diz jornal
Programa social criado para população pobre no interior de Minas não contemplou os devidos beneficiados, diz reportagem da Folha
Uma organização sem fins lucrativos, contratada pelo Governo Bolsonaro, cobrou de famílias em situação de vulnerabilidade social o valor da instalação de cisternas, mesmo os equipamentos estando incluídos na verba enviada pela gestão para financiar o projeto social. O caso afetou cinco cidades da região semiárida de Minas Gerais, onde eram esperados 3.012 dispositivos de armazenamento de água. A informação é da Folha de São Paulo.
A instalação das cisternas era contemplada pelo montante de R$ 15 milhões, valor que regeu no contrato assinado pelo Ministério da Cidadania. As obras começaram de um convênio entre o Consórcio Inframinas, que reúne prefeituras da região, e a pasta federal. A partir do convênio, a ONG Central das Associações de Agricultura Familiar (Ceapa), com sede em Alagoas, foi contratada para executar as obras. O convênio, porém, não previa contrapartida das famílias beneficiárias, uma vez que elas viviam em situação de pobreza e extrema pobreza.
De acordo com a Folha, os moradores disseram que precisaram pedir dinheiro emprestado para bancar parte da construção das cisternas, e assim, ficaram sem dinheiro para investir em suas lavouras. Algumas famílias desistiram de participar do programa por causa da dificuldade financeira. Em um retorno à reportagem, o ministério, rebatizado de Integração e Desenvolvimento Regional com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), informou que, diante da gravidade do caso, iria suspender a entidade responsável pela cobrança.
Em alguns casos, eles compraram material de construção e contrataram mão de obra para iniciar as atividades de construção. Foi o caso de um casal de idosos do município de Vertentes, que usou R$ 870 do próprio bolso para comprar cinco metros de areia e contratar um auxiliar de pedreiro para cavar o buraco onde ficaria a cisterna.
Houve ainda situações em que as famílias precisaram comprar outros materiais, como cimento e pedras, e precisaram trabalhar como pedreiros para a empreiteira na execução das obras. Quem não tinha condições de realizar o trabalho teve que contratar esses profissionais e ainda fornecer alimentação a eles.
O Programa de Cisternas do governo federal propunha a construção dos equipamentos sem qualquer tipo de participação financeira dos beneficiários, tampouco exigia uso de sua força de trabalho, muito menos sem remuneração.
Resposta da Ceapa
A Ceapa respondeu a um contato da Folha e afirmou que os valores disponibilizados pelo governo federal para as obras eram muito pequenos e que, então, foi necessário recorrer às prefeituras e às pessoas que vivem nas áreas contempladas.
“Foi acordado que os municípios ajudariam a custear as despesas mencionadas, tendo em vista o aumento gigantesco dos materiais. Como os municípios não ajudaram, a entidade identificou o erro e o corrigiu a tempo, repassando o que era devido a cada família, sanando assim a inconsistência”, justificou a entidade privada.