Sustentabilidade vira receita para o reflorestamento
Médico veterinário usa a energia solar para produzir mudas de replantio
Foi no município de Garanhuns, Agreste do estado de Pernambuco que o médico veterinário e geógrafo Nelson Batista resolveu realizar seu sonho de ter uma terra onde pudesse plantar, colher e cultivar bens para as futuras gerações, semeando árvores. Mas até então, a história parece bem normal, até saber que tudo o que é produzido no local é sustentável. “Sempre quis ter um lugar para plantar frutas e verduras sem usar agrotóxicos e aqui eu posso fazer tudo isso, além de poder criar animais soltos dentro da minha propriedade sem que a produção de frutas e verduras seja comida pelo gado”. Atualmente, procura-se cada vem mais o cultivo de alimentos sem agrotóxicos, por causa dos males à saúde, tanto de quem os aplica como de quem consome o produto final. "É ideal o cultivo de alimento sem agrotóxicos porque quem os cultiva fica livre da exposição a esse tipo de agente, que é altamente cancerígeno. Os resíduos que chegam pro consumidor são poucos, quem trabalha com os agrotoxicos é que fica exposto a maior quantidade. Na minha profissão já vi muitos casos de pessoas que desenvolveram câncer por trabalharem com esses produtos. Além disso, os consumidores também saem ganhando, pois o produto chega mais natural, sem alteração do sabor e livre de agentes cancerígenos", é o que explica a enfermeira e mestranda em saúde da criança e do adolescente, Lívia Novaes.
No local, o sistema de cerca é feito ao contrário, pois o animal permanece solto por toda a extensão do terreno e o que fica preso são os cultivos. A contenção é feita através de um fio que conduz uma eletricidade de oito mil volts, estendido por todo o perímetro da propriedade, isolando um local de mil metros de comprimento por 60 metros de largura onde ficam distribuídas as plantações de milho e outros produtos. “Essa voltagem é o que faz barrar o animal e o impede de comer o alimento plantado, no entanto, o animal não corre o risco de morrer com esse choque, pois no fio só corre voltagem e não possui amperagem”, explica Nelson. De acordo com o parceiro da WSPA e professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) Mateus Paranhos, o sistema utilizado na propriedade é totalmente aceitável para a finalidade, pois possui finalidade educativa. "Esse tipo de cerca elétrica não traz problemas para o animal, pois a corrente funciona por impulso, ela não é contínua, ou seja, não transmite choque a todo tempo. O impacto negativo ao animal é bem pequeno e nem todos os animais levam o choque, pois o método funciona de forma educativa e uma vez que o animal leva a carga ele aprende e os outros também, evitando que todos passem pelo processo", assegura o professor.
Mas o mais interessante é que toda essa carga conduzida pelo fio não chega à propriedade através da companhia de energia elétrica, afinal, quando começou a funcionar, há alguns meses, a energia elétrica nem chegava ao local. Toda a energia utilizada é conseguida através de uma placa fotovoltaica, capaz de captar a energia solar e transmiti-la para uma bateria de 12 volts que alimenta um eletrificador de cerca apropriado e, por fim, conduz a corrente para todas as necessidades da fazenda.
Além de eletrificar a cerca das plantações, o sistema fotovoltaico também capta energia que faz a bomba de água trabalhar para irrigar toda a plantação existente na sementeira, também dentro da propriedade. “Foi construído um tanque abaixo do nível do riacho que corre dentro da propriedade, onde acumula-se água através de gravidade. A partir daí, a bomba alimentada pela energia solar, enche uma caixa localizada num ponto alto da sementeira e irriga as mudas e a plantação”. A irrigação é feita com mangueiras hidráulicas descartadas por bombeiros, que conduzem água por toda a área da sementeira e cultivo.
A propriedade também possui a intenção de ser uma área de reflorestamento. “A iniciativa de plantar para arborizar é pouco vista pela sociedade civil, ficando geralmente nas mãos de empresas com política verde ou mesmo daquelas que também fazem extração, mas aqui eu quero plantar para o futuro”, conta o geógrafo que explica que quando adquiriu o espaço, já existiam algumas árvores e ele quis mantê-las, inclusive, criando rotas por dentro da fazenda que não precisasse destruí-las.
Nelson resolveu plantar árvores nativas, frutíferas e não frutíferas, e outras espécies exóticas, como é o caso da madeira de lei Pau Ferro, Nin, None, Moringa, Jatobá, Sucupira e Murici. Algumas delas também possuem propriedades medicinais e são cultivadas para fins não só de reflorestamento, como também para pesquisas.
Além dessa iniciativa, na propiriedade também se cultiva a Moringa, com a finalidade de distribuir mudas da árvore para a população, que pode usar a semente macerada (amassada) dessa planta, para decantar água, podendo substituir o sulfato de alumínio, usado atualmente, e que alguns pesquisadores já afirmam ser um agente cancerígeno.
Apesar de tantas inovações, o geógrafo e veterinário tem se dedicado às iniciativa há cerca de apenas um ano, mas já possui mais ideias para colocar em prática. Além disso, hoje tenta aperfeiçoar o que já implantou e espera ver o crescimento das já incontáveis grandes árvores em sua propriedade. “Já tenho três filhos, já plantei tantas árvores que nem me falta mais escrever um livro”.