Bomba-robô de Dallas aponta mudança tecnológica na polícia

Está previsto um aumento no uso de robôs, principalmente para lidar com missões potencialmente perigosas

seg, 11/07/2016 - 20:13
Laura Buckman Chefe da polícia de Dallas, David Brown Laura Buckman

O assassinato do atirador de Dallas por uma bomba-robô pode ter sido o primeiro uso letal que a polícia americana faz de um dispositivo automatizado, e ressalta o papel crescente da tecnologia na aplicação da lei. O chefe de polícia da cidade, David Brown, disse a repórteres na última sexta-feira (8) que os agentes não viram outra opção a não ser usar nossa bomba-robô para evitar qualquer perigo depois do atirador ter matado cinco policiais em Dallas.

Brown disse que a polícia usou uma extensão do robô para que ele detonasse onde o suspeito estava.

"Sim, este é primeiro uso do robô desta forma no policiamento", afirmou no Twitter Peter Singer, do New America Foundation, que dirige uma empresa de consultoria em tecnologia e escreveu sobre conflitos no século XXI.

Singer observou que um dispositivo conhecido como o MARCbot já tinha sido usado desta forma por tropas no Iraque. 

As autoridades de Dallas não ofereceram detalhes sobre o dispositivo, mas o inventário de gestão de emergências da cidade tem registrado um robô da Northrop Grumman chamado "Andros", projetado para esquadrões de bombas e militares, e alguns relatos da imprensa apontam que este pode ter sido o dispositivo usado no assassinato.

O site da Northrop diz que o robô é projetado para derrotar uma ampla gama de ameaças, incluindo veículos carregados com dispositivos explosivos improvisados. Matt Blaze, professor de ciência da computação na Universidade da Pensilvânia, disse no Twitter que as apostas sobem muito quando algo assim tem seu propósito redefinido como uma arma.

Independentemente dos métodos usados em Dallas, está previsto um aumento no uso de robôs, principalmente para lidar com missões potencialmente perigosas de aplicação da lei e operações militares.

Um robô desenvolvido pela Universidade de Defesa Nacional da China chamado AnBot foi concebido para ter um papel importante na melhoria das medidas anti-terrorismo e anti-distúrbio do país, de acordo com seu site.

Um artigo publicado em abril na revista americana "Popular Science" e assinado por Singer e Jeffrey Lin diz que AnBot está entre as várias máquinas concebidas para patrulhamento policial.

"A característica mais controversa do AnBot é a ferramenta de controle de tumultos eletricamente carregada'", afirma o artigo, ressaltando que esta só pode ser disparada por operadores humanos remotos.

"O grande tamanho do AnBot significa que ele tem espaço para comportar outros equipamentos de aplicação da lei, como bombas de gás lacrimogêneo e outras armas menos letais", acrescenta o texto.

Outro robô desenvolvido pela startup Knightscope, da Califórnia, usa detecção avançada de anomalias e, de acordo com o site TechCrunch, este está sendo usado para aumentar a segurança em algumas empresas de tecnologia do Vale do Silício e em um shopping center.

RoboCop revisitado?

Enquanto isso, pesquisadores da Universidade Internacional da Flórida têm trabalhado em um TeleBot que permitiria que policiais com deficiência controlem um robô humanoide.

O robô, descrito em alguns relatórios como semelhante ao "RoboCop" dos filmes de ficção científica de 1987 e 2014, foi desenhado para olhar de maneira suficientemente intimidadora e autoritária para que os cidadãos obedeçam suas ordens, mas com uma aparência amigável que também o torna mais acessível, de acordo uma pesquisa recente.

Desenvolvedores de robôs minimizam o potencial para o uso de força letal automatizada pelos dispositivos, mas alguns analistas dizem que é necessário debater este assunto, tanto em relação ao uso para policiamento como para objetivos militares.

Um relatório de 2014 da ONG Human Rights Watch e do departamento de direitos humanos da escola de Direito da Universidade de Harvard aumentou as preocupações sobre o uso de armas totalmente autônomas nas operações de aplicação da lei.

"Elas não poderiam ser pré-programadas para lidar com todos os cenários de aplicação da lei", disse o relatório. "E elas não teriam qualidades humanas, como julgamento e empatia, que permitem que a polícia evite execuções arbitrárias ilegais em situações imprevistas", complementa o documento.

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