O hobby que virou profissão

Deixar um emprego público e largar a vida de publicitário foram alguns dos fatos que aconteceram com dois membros da banda Faringes da Paixão

por Nathan Santos sab, 05/01/2013 - 10:31

Quando a noite chega e as “baladas” começam a divertir o grande público, é fácil notar um ritmo envolvente que superou preconceitos e críticas, chegando à várias classes sociais. O brega já é sucesso nas camadas pernambucanas, com suas músicas envolventes e letras que geralmente falam de amor. Uma das disseminadoras do estilo em Pernambuco é a Banda Faringes da Paixão.

O grupo, formado por cinco amigos, existe desde a época em que eles estudavam no ensino médio, por volta do ano de 2004, porém, foi em 2008 que a Faringes começou a conquistar os “bregueiros”. Mas, antes que o sucesso chegasse de fato para os integrantes do grupo, alguns deles tiveram que tomar importantes decisões, no que diz respeito à escolha da profissão. Uns formados em cursos de nível superior, outros com empregos públicos garantidos, mas, com uma incerteza, que era se dedicar a carreira profissional, ou levar a frente um hobby.

Esses rapazes são apenas uma pequena parcela de milhares de pessoas que têm a coragem de largar uma formação profissional tradicional para se dedicar à uma paixão ou simplesmente um hobby, que, com o passar do tempo, pode se tornar uma nova profissão para eles. Entretanto, pela convenção que já se instalou na cultura brasileira, uma boa parcela da sociedade ainda prima por uma formação tradicional, em universidades, ou então por cargos ditos comuns.

Algo que é muito corriqueiro em nosso País, por causa da paixão que o povo tem pelo futebol, é o fato de que jovens têm o sonho de se tornarem jogadores, e em um determinado período das suas vidas, têm que decidir continuar em busca do sucesso dentro de campo ou se serão trabalhadores comuns. No caso de quem gosta de música ou da carreira artística também não é diferente. Em tempos mais remotos, as pessoas que procuravam trabalhar com arte eram taxadas de vagabundas.

Publicitário que virou percussionista

“Eu queria trabalhar com comunicação, pois achava uma área muito legal. Em 2008 me formei em publicidade e propaganda e comecei a atuar no meio. Mas, não curti o mercado. Era um trabalho meio que escravocrata”. Quem conta é o percussionista da Faringes da Paixão, Emmanuel Ferreira, de 26 anos. O músico, antes de assumir de vez sua posição como integrante da banda, viveu o impasse de optar pela atuação como publicitário, após anos de graduação, ou viver uma paixão que existia desde a época da escola, que era tocar.



Antes, até o próprio Ferreira não enxergava a banda como um recurso profissional. “Não pensava o grupo como profissão. Era mais uma diversão. Não tinha isso de ganhar dinheiro tocando e cantando brega". Curiosamente, próximo ao fim da sua graduação, o rapaz e os outros integrantes da banda tiveram a oportunidade de, pela primeira vez, fazer um show comercial. Depois dessa oportunidade, a banda foi caindo no gosto do povo, se tornando mais conhecida no cenário artístico pernambucano, e em consequência disso, os shows, pouco a pouco, geraram uma rentabilidade financeira para os jovens amigos.

“Quando terminei o curso, pensei, e agora, o que vou fazer? Já não estava tão satisfeito trabalhando em agências publicitárias. Resolvi então encarar a banda”, explica Ferreira. Depois da decisão, chegou o momento de convencer a família que a banda também poderia se tornar uma profissão. “Às vezes minha mãe perguntava assim: meu filho, você está tocando na banda, mas, quando você vai começar a trabalhar?”, comenta o rapaz, aos risos. Ele tentava refletir junto com a família o que era trabalhar de fato, como exemplo, se era conseguir honestamente e poder se sustentar.

“É engraçado que às vezes eu encontro umas pessoas que dizem que estudaram tanto e ganham menos que eu”, brinca Emmanuel Ferreira. Apesar de estar feliz com o sucesso que a Faringes da Paixão atingiu em Pernambuco, o jovem admite que tem planos, caso a banda um dia acabe. “É um fantasma que ainda existe, porque eu tenho medo que a banda um dia acabe. Mas, eu aproveitei muito do que aprendi na minha formação para me especializar como produtor de eventos. Sei que posso atuar nessa área futuramente”, projeta.

Antes concursado e agora “bregueiro”

O baixista da Faringes da Paixão, Pedro Mascarenhas, 25, além de ter passado por várias faculdades, em 2009, conseguiu aprovação no concorrido concurso do Banco do Brasil. Parecia então que Mascarenhas estava decido quanto a sua vida profissional, até porque, um cargo público é sinal de estabilidade financeira e na própria função.

Mas chegou um momento que o rapaz já não mais conseguira conciliar suas atividades. “A banda estava numa crescente e tinham dias que chegava em casa cansado do banco e tinha que ir tocar”, conta. De acordo com ele, apesar do banco proporcionar boas condições de trabalho, aquilo ainda não era o que ele queria. “Nunca foi algo que eu quisesse fazer. Eu até estava feliz como caixa de agência, mas não de forma plena”, explica.

Em 2011, depois de pensar bastante, Pedro Mascarenhas tomou uma decisão. “Minha família percebia que eu estava desgastado e até meus pais me falavam que chegaria um momento que eu teria que escolher entre o Banco do Brasil e a Faringes. Eu acho que eles queriam que eu escolhesse o banco, mas, optei pela banda”, diz.

Hoje, o músico está de fato realizado com a sua escolha, porém, explica que nem tudo é diversão. “Sinto muito prazer no que faço, mas, não temos fins de semana e às vezes sinto falta de algumas coisas, como sair com amigos”, comenta o baixista. Sem revelar valores, Mascarenhas diz que ganha duas vezes mais do que quando trabalhava no banco, já Emmanuel Ferreira, recebe cerca de seis vezes mais do que quando trabalhava como publicitário.

Confira um vídeo sobre as decisões que os músicos tiveram que tomar:

















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