Henryton Klysthenes: do presídio para a universidade
“Todo mundo erra e tem direito à ressocialização”, enfatizou o reeducando
Superação, determinação e força de vontade. Essas palavras resumem bem a vida do reeducando Henryton Klysthenes Ribeiro Bezerra, 24 anos, que cumpre pena por assalto, há aproximadamente seis meses, no Presídio de Igarassu, Região Metropolitana do Recife. Na segunda-feira (14), ele recebeu uma das melhores notícias de sua vida: foi aprovado em sétimo lugar, através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com a nota 698,36, no curso de licenciatura em matemática oferecido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Natural de Timbaúba, Zona da Mata Norte de Pernambuco, Henryton levava a vida comum de qualquer outro jovem na sua idade. Estudava, trabalhava e, nas horas vagas, jogava bola com os amigos. Até que más influências o fizeram tomar um rumo diferente. No dia 6 de junho de 2012, com dois colegas, resolveu assaltar a agência dos Correios de Aliança, município vizinho. Os comparsas conseguiram fugir, mas ele acabou sendo preso em flagrante.
“Eu assaltei mais por aventura mesmo. Tanto é, que nem com arma nós estávamos. Mas, depois que tudo passou e fui preso, a ficha caiu e eu me perguntei o porquê de ter feito aquilo. Porém, ao mesmo tempo, eu reflito sobre como eu estaria hoje, se não estivesse aqui, no presídio. Eu não estava andando com boas companhias”, declarou.
O reeducando também chamou atenção para o que aprendeu durante os últimos meses que tem passado no presídio. “O lado bom disso tudo que estou passando, é que eu aprendi a resgatar valores morais. Abri mais os olhos para o que estava perto de mim e eu não enxergava, como os amigos de verdade, que é a família. A perda me ensinou e muito. Além disso, no presídio, eu resgatei meu gosto pelos estudos, já que, após concluir o ensino médio, em 2004, eu desandei”, disse.
Henry, assim como é chamado, sempre foi um garoto que gostou de estudar. Desde os 2 anos de idade que descobriu seu amor pelo mundo dos cálculos. “Meus pais foram grandes incentivadores. Eu aprendi a contar números desde cedo. À medida que eu crescia, o interesse pela matemática só aumentava. Tanto, que meus colegas de classe entendiam a disciplina mais comigo do que com o próprio professor”, lembrou.
Na época, Henry tomou a facilidade na disciplina como um gancho para dar aulas de reforço. No começo, era apenas por diversão. Depois que a procura pelos seus ensinamentos cresceu, ele resolveu montar uma sala exclusivamente para dar aulas de matemática a turmas que estavam se preparando para o vestibular. “Para ensinar de forma descontraída, já que matemática não é uma disciplina bem quista pela maioria dos estudantes, eu preparava músicas, brincadeiras e jogos para passar bizús e ensinar fórmulas. Foi assim que descobri que amo ensinar e que é isso que quero para minha vida. Não é à toa que escolhi licenciatura em matemática”.
Ele fez a prova pelo programa Enem Prisional, instituído no Estado há dois anos. O exame é o mesmo aplicado para os candidatos tradicionais. Por estar no regime fechado, sua matrícula será feita por meio de procuração judicial. Segundo o diretor do Presídio de Igarassu, Carlos Cordeiro, ele não deixará de estudar. “Faremos a matrícula e ele vai estudar. Como já cumpriu parte da pena, deverá entrar no regime aberto em abril e ficará livre para os estudos”, explicou. “Depois da repercussão que a história que Henry teve na mídia, muitos detentos o tomaram como exemplo de estímulo para se dedicar aos estudos”, completou o diretor.
Segundo Cordeiro, 102 detentos se inscreveram no programa, maior número de inscritos em relação aos demais presídios do Estado. Além do Enem Prisional, o Presídio de Igarassu conta com o Mova Brasil, que é um projeto que tem como objetivo alfabetizar os presidiários; Travessia, que é um supletivo do ensino fundamental e médio, e o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Para o reeducando, mesmo com todos esses projetos, falta estrutura dentro dos presídios para aplicá-los. “Acho que o poder público deveria investir mais em educação. Colocar mais professores, mais livros e mais salas de aula. Pois, de um lugar onde geralmente não se esperam boas notícias, pode, sim, sair uma história de exemplo e superação”, ressaltou.
Para o futuro, o jovem detento sonha alto. “Após graduar em matemática, pretendo ingressar num mestrado. Também almejo ser professor universitário e para isso, tentarei concurso público. Já num futuro mais adiante, posso até fazer doutorado fora do País. Quem sabe? Com os meus estudos, quero servir de exemplo para a sociedade”.
Em relação ao preconceito que pode sofrer por ser ex-presidiário ele diz estar preparado. “Eu sei que posso sofrer preconceito quando sair daqui, mas queria que as pessoas me notassem pelas minhas conquistas e não pelos meus erros. Eu cometi um crime, mas não me considero um criminoso. Todo mundo erra e tem direito à ressocialização”, enfatizou.
Durante entrevista ao Portal LeiaJá, Henry e seu companheiro de quarto e de estudos, Davi Airam, 36 anos, deixaram uma mensagem de incentivo para os demais colegas que pretendem alcançar o mesmo objetivo e, para isso, reforçaram o valor dos estudos como fator de transformação de vida. Confira o vídeo:
Assim como Henryton Klysthenes, Davi, que por conta de meio décimo, está na lista dos remanejados no curso de ciências biológicas da UFRPE, teve o nome citado, entre os demais detentos, na carta de elogio do diretor Carlos Cordeiro. Veja anexo abaixo: