Como um Grêmio Estudantil deve atuar nas escolas?

Além de ter papel facilitador para a comunicação entre o colégio e os estudantes, o Grêmio representa, de uma forma geral, um jeito diferente de fazer democracia com responsabilidade

por Priscilla Costa dom, 24/03/2013 - 06:56
Fernando da Hora/LeiaJáImagens Com ideias e opiniões, O Grêmio Estudantil deve representar o interesse dos demais alunos de uma instituição de ensino Fernando da Hora/LeiaJáImagens

Em todo lugar sempre tem algo importante a ser melhorado ou construído. E, numa instituição de ensino, não é diferente. É aí que o Grêmio Estudantil ganha força e torna-se uma das primeiras oportunidades que os jovens têm de intervir na administração de uma escola e, com suas ideias e opiniões, representar o interesse dos demais alunos.

Além de ter papel facilitador para a comunicação entre o colégio e os estudantes, o Grêmio representa, de uma forma geral, um jeito diferente de fazer democracia com responsabilidade. Para isso, é importante também que haja uma parceria sem conflitos com a escola, visto que esta serve como ponte para que os interesses dos Grêmios se realizem, na medida do possível, a cada ano. É importante trabalhar, principalmente, com os diretores, coordenadores e professores. Somente assim, o Grêmio atuará verdadeiramente em benefício da escola e da comunidade.

Segundo informações da Secretaria de Educação do Estado (SEE), há, aproximadamente, 254 grêmios na capital pernambucana, sendo distribuídos em diversas Gerências Regionais de Educação (GREs).

Conforme informações da SEE, o estímulo à formação dos grêmios escolares faz parte do Programa de Gestão Democrática desenvolvido pelo próprio órgão, em que, através do Projeto Protagonismo Juvenil, os alunos são mobilizados a trabalharem em parceria com a gestão da escola na promoção de atividades culturais, esportivas, oficinas de teatro, dança entre outras ações, sempre conduzidas por professores. “O objetivo é que alunos e educadores trabalhem em prol do desenvolvimento da escola e da educação como um todo. O maior número se concentra no ensino médio e últimos anos do ensino fundamental, pois é importante que, para acompanhar essas atividades, os alunos possuam maturidade”, explicou.

Para entender mais sobre o desempenho do grêmio nas escolas, a assessoria da Secretaria de Educação acompanhou o Portal LeiaJá em entrevista realizada com alguns alunos representantes do grêmio estudantil da escola estadual de referência em ensino médio, Ginásio Pernambucano.

Durante a reportagem, os estudantes explicaram como eram feitas as reuniões dentro da instituição. “Nós não desempenhamos um trabalho individual e sim, coletivo. Passamos de sala em sala para anunciar o dia em que vamos nos reunir e o que será abordado durante o encontro. Para reforçar, também criamos um grupo fechado no Facebook, onde todos os alunos ficam por dentro das propostas do nosso grêmio”, disse.

A aluna Xayenne Melo, 16 anos, explicou como ocorre a interação entre a diretoria da escola e o grêmio para que, juntos, às gestões cheguem a um censo comum. “Primeiramente, na reunião, definimos os pontos que precisam ser melhorados no Ginásio. A partir disso, sentamos com o nosso diretor para deixá-lo ciente das reivindicações que serão feitas para a SEE e os prazos que determinamos para cada demanda. Apenas, em último caso, que partimos para as ruas e protestamos”, ressaltou.

Geralmente, o período de votação para a troca da chapa representante ocorre de junho a junho. “Como todos os alunos participam das reuniões, eles já sabem o que é reivindicado e isso já os deixa familiarizados com os objetivos do grêmio. Assim, os que querem se candidatar para ter uma participação maior na comissão já sabem qual papel desempenhar durante a gestão”, contou a estudante Keity Malony, 16, que também integra o grêmio.

O outro lado da história: as reclamações do “Grêmio Estudantil”

Após a entrevista, os estudantes procuraram nossa equipe para tratar sobre assuntos que não foram comentados durante a reportagem porque, segundo eles, a presença da assessoria da SEE, os deixou “intimidados”.

“Antes do encontro com o LeiaJá, a assessora nos fez algumas perguntas simulando  uma entrevista. Achávamos até que ela era a repórter, inclusive. Só depois dos questionamentos, que ela se apresentou como assessora da Secretaria. Ou seja, ela só fez apurar para saber o que, de fato, falaríamos quando o Portal chegasse. E ainda disse para não sermos ‘muito rebeldes’ nas respostas. Isso só contribuiu para que não ficássemos à vontade para falarmos tudo o que pensamos”, comentou o aluno Ewerton Maxwell, 16.

De acordo com os estudantes, o grêmio, na realidade, foi apresentado como algo regularizado, mas o que existe é a Comissão Pró-Grêmio. “Estamos correndo atrás para sermos, de fato, um Grêmio Estudantil. Para isso, contamos com o apoio do diretor e da Uespe, pois somos filiados ao órgão”, disse Malony.

Em relação aos projetos que, de acordo com a SEE, são todos acompanhados pelos professores da instituição, os estudantes alegaram que a realidade não é bem como a assessoria mostra. Conforme o estudante Ewerton, “essa história de que são promovidos vários projetos culturais e artísticos, como dança e luta, não condiz com o que é feito no colégio. Eles colocam como algo concreto algo que ainda está em andamento. Só existem, realmente, cinco projetos e apenas esses são acompanhados pelos professores. Se os alunos querem fazer aula de dança, por exemplo, aí são os estudantes por eles mesmos”, enfatizou.

Os projetos desenvolvidos pelo Ginásio Pernambucano são: Iniciação Científica, em que os alunos têm noção dos princípios básicos de uma monografia, de acordo com as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); Jovem Empreendedor, que tem como finalidade fazer com que os estudantes aprendem a criar os próprios produtos e a logomarca. Já no Junior Achievement, os alunos aprendem a ter uma boa apresentação na hora de uma entrevista,  como ter segurança na hora de falar e dicas sobre profissões. No caso do Projeto de Proteção ao Patrimônio Público, os alunos sabem a importância de zelar pela escola, onde eles aprendem preserrvar cadeiras e livros, a não pixar, entre outros aspectos. E, por fim, Amigos da Alegria, onde os alunos recolhem brinquedos para doar ao Hospital de Câncer.

Protestos e reivindicações

No dia 25 de fevereiro, os estudantes do Ginásio Pernambucano paralisaram a Avenida Cruz Cabugá, no centro da cidade, e reivindicaram a melhoria na estrutura da unidade de ensino. O novo prédio da escola foi entregue em agosto de 2012 e, segundo os alunos, apresentava diversos problemas. Os alunos se dirigiram à Gerência Regional de Educação (GRE) Recife/ Norte, onde foram recebidos pela gestora, Gilvanir Pilèr.

Entre as solicitações, os estudantes apontavam a falta de climatização, o não funcionamento dos laboratórios, as condições das cadeiras, que estavam velhas e quebradas, a ausência de professores de inglês para o terceiro ano do ensino médio, e tamanho das salas de aulas que, segundo eles, são apertadas e insuficientes para atender a quantidade de alunos. Além disso, os refeitórios também entraram em questão. Muitos deles falavam que não tinha quantidade suficiente de merenda escolar para todos os alunos.

“Logo no outro dia, o secretário de educação veio falar conosco com aquela mesma conversa bonita de sempre de que não era necessário estampar o nome do GP nos jornais e que não precisava fazer protesto porque tudo se resolveria numa conversa. Mas, a gente sabe que a realidade não é bem essa. Eles só tomam uma atitude, realmente, quando a gente coloca a boca no ‘trombone’. Se não for assim, fica só no discurso. Ele nos garantiu que até o dia 28 deste mês, mais cadeiras e aparelhos de ar-condicionado serão providenciados. Já é alguma coisa, né?”, falou Malony.

De acordo com os estudantes, no mesmo dia do protesto a Secretaria de Educação providenciou novas cadeiras e uma maior quantidade de alimento. Porém, sem nenhuma variação no cardápio. “Na hora do lanche das 10h comemos pão. No almoço, é só soja, galinha e macarrão. Quando não é galinha, é charque. E às 15h30, a gente lancha pão de novo. Antes, no antigo GP, na Rua do Hospício, seguíamos uma tabela nutricional que nos guiava sobre o que íamos comer a cada dia. Depois que viemos para esse novo prédio da Cabugá, a estrutura caiu muito”, completou Malony.

Em relação ao desempenho da SEE, a estudante Xayenne fez um apelo: “A gente só queria que a Secretaria atendesse mais às nossas reivindicações sem que fosse preciso fazer protesto. Que, realmente, uma reunião bastasse e eles cumprissem as demandas de acordo com os prazos estipulados”, finalizou.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (SEE) enviou uma nota à redação do Portal LeiaJá discordando das informações repassadas pelos alunos e contidas na reportagem.

 

Resposta da Secretaria de Educação do Estado, na íntegra:

A Secretaria de Educação do Estado (SEE) repudia a postura adotada pelo site LeiaJá em relação às informações contidas na matéria sobre “Grêmio Estudantil”. A Assessoria de Imprensa da SEE adotou um procedimento padrão na área de comunicação, que é acompanhar a imprensa nas dependências da escola. Nosso papel, em hipótese alguma, foi de intimidação.  Desde o início quando fomos procurados pela reportagem do Leia Já, nos prontificamos a colaborar com a entrevista, como assim fizemos, e prova disso foram diversas informações repassadas à reportagem. Lamentamos o fato de não sermos procurados para checar as informações repassadas, procedimento correto de quem atua na área de comunicação. Reforçamos ainda que a Assessoria de Imprensa da SEE continuará sempre disponível para atender as demandas de todos os veículos de comunicação.

Assessoria de Imprensa da Secretaria de Educação do Estado

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