Polícia revela esquema de fraudes em concursos na RMR

Quadrilha cobrava R$ 20 mil para os candidatos interessados na fraude. Quem foi aprovado e não pagou a quantia sofreu pressão de um grupo armado

por sex, 17/04/2015 - 10:55
Camilla de Assis/LeiaJáImagens Delegada Patrícia Domingos, responsável pelo caso Camilla de Assis/LeiaJáImagens

A Polícia Civil apresentou em coletiva, na manhã desta sexta (17), os detalhes da Operação Mercador, que investigou um esquema de fraudes em concursos públicos na Região Metropolitana do Recife (RMR). As investigações, que duraram cerca de dois meses, levaram a 12 envolvidos, dos quais 10 foram detidos. Desses, Jeferson Faustino da Silva encontra-se foragido e Anderson Lima Ribeiro foi assassinado, esta semana, em Paulista. 

Polícia prende suspeitos de fraudar concursos públicos

A Delegacia de Crimes contra Administração e Serviços Públicos (Decaspe) investigou as denúncias a respeito de fraude no concurso para agente de trânsito da ANPTRANS, de Ipojuca, realizado em 2014. Os detidos foram levados, nessa quinta-feira (16), à sede do à sede do Grupo de Operações Especiais (GOE), no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife. De lá, eles seguiram para o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, ficando à disposição da Justiça. 

De acordo com a Polícia Civil, o grupo, organização criminosa, formada em sua maioria por servidores públicos, era responsável por realizar as provas e passar por meio de ponto eletrônico para os beneficiários, ou seja, quem pagasse para obter as respostas.  As investigações começaram após diversas denúncias feitas ao Ministério Público Estadual, por populares, sobre suspeita de fraude no concurso.

As apurações confirmaram que a quadrilha agia da seguinte forma: cinco pessoas da organização criminosa eram responsáveis por realizar as provas de diversas disciplinas e passar adiante, para as pessoas que pagaram, por meio de ponto eletrônico. Quem era beneficiado chegava a entregar aos criminosos uma quantia de R$ 2 mil apenas para adquirir o aparelho e, assim, ouvir as respostas. 

Quando aprovado e ao ingressar no curso de formação, o candidato era sugerido a pedir um empréstimo consignado e pagar mais um valor de cerca de R$ 18 mil, referente à sua aprovação. Caso o aprovado não pagasse, a quadrilha tinha a equipe do braço armado, formada por outras seis pessoas, responsável pelas cobranças, muitas vezes realizadas de forma violenta. Segundo a delegada responsável pelo caso, Patrícia Domingos, muitos dos criminosos, que foram aprovados no certame, também iriam participar do curso de formação, já que ao final outra prova objetiva é realizada. “Ficou evidente que eles participavam para o curso de formação para fraudar”, informou Domingos.

A polícia chegou à conclusão de que a fraude foi realizada devido a observação de que os 19 primeiros candidatos aprovados para o concurso da AMTTRANS, obtiveram a mesma nota, errando apenas uma questão. Os policiais observaram, ainda, que em todos os cartões de resposta, os candidatos marcaram a mesma alternativa para a questão errada. 

Ao interrogar os possíveis beneficiários, a delegada Patrícia Domingos informou que muitos deles eram considerados analfabetos funcionais. “Muitos dos 19 primeiros colocados, quando interrogados, confessaram que nunca tinham passado em um concurso público. Um deles informou que fez concurso para coveiro e não passou”, contou a delegada.

Dos doze participantes da quadrilha, dez estão presos. O chefe da organização, Anderson de Lima Ribeiro, foi assassinado na noite da última terça-feira (14), com sete disparos de revólver calibre 38. O crime aconteceu na Avenida Pan Nordestina, no complexo de Salgadinho, em Olinda, Grande Recife. Já um dos responsáveis pela venda dos gabaritos, Jeferson Faustino da Silva, 29, está foragido. Todos os que foram presos estão no Complexo Prisional do Curado, o antigo Aníbal Bruno. Os homens estão à disposição da Justiça e, se condenados, podem pegar até sete anos de reclusão pelos crimes de fraude a concurso público e formação de quadrilha.

Mais uma fraude

O porteiro da Universidade de Pernambuco (UPE), Luiz Alex Silva, também fraudou o exame. O homem conseguiu comprar uma prova original pelo valor de R$ 5 mil. Ele fez as questões em casa e levou para o cartão de respostas já preenchido para o dia do exame. Ele foi aprovado em 102° lugar. O caso não tem ligação com a quadrilha. O porteiro foi preso por fraude em certames de interesse público e pode pegar até quatro anos e reclusão.

Com informações de Camilla de Assis e Paula Brasileiro

 

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