Três assuntos de história que têm tudo para cair no Enem

Professores escolheram temas que precisam da atenção dos candidatos

por Nathan Santos sab, 06/04/2019 - 17:46
Pixabay Revisar assuntos das últimas edições do Enem é uma boa estratégia Pixabay

Na intensa preparação para o Exame Nacional do Ensino (Enem), revisar as últimas edições da prova é uma estratégia essencial. Dessa forma, os candidatos podem ter uma noção dos temas que geralmente são cobrados no processo seletivo, afinando repertório de conhecimentos.

Em entrevista ao LeiaJá, professores de história reforçaram a importância da consulta de provas anteriores à edição de 2019. E diante da análise, os educadores escolheram três assuntos que têm tudo para cair no Enem.

Sociedade e economia mineradora

Para o professor Luís Henrique, as relações sociais e de poder no contexto colonial minerador têm forte chance de aparecer no Enem. “Vale salientar que nas últimas edições as questões relacionadas a esse período estão ligadas à mão-de-obra escrava nas minas de ouro. Contudo, como a prova do Enem é uma política governamental, com a nova gestão dos órgãos federais do Brasil, podemos esperar um Exame de cara nova: certamente com a mesma estrutura, mas com uma abordagem diferente, mais técnica”, alerta o docente de história.

De acordo com o educador, o assunto já caiu na prova “de forma não tão genérica na edição de 2010”. Na ocasião, foi abordada uma questão que envolveu o cotidiano dos tropeiros; são comerciantes que vendiam mercadorias em tropas de bois e cavalos, do litoral ao interior na região das minas. Essa atividade surgiu no processo de interiorização do Brasil e do trabalho de mineração. “Muitos se confundiram e responderam que os tropeiros eram, na verdade, mineradores; mas o fera devia atentar que esse grupo era mercantil e não estava necessariamente ligado à extração dos metais preciosos”, relembra Luís Henrique.

O professor de história ressalta que os estudantes precisam lembrar que o motor da economia e da sociedade desse período era a mão de obra escravizada africana. “A qual continuava sendo explorada ao mesmo passo em que criava utensílios, danças e símbolos como forma de resistência e de amparo às suas exclusões sociais. O aluno deve lembrar também das diferenças entre a sociedade mineradora e a açucareira dos séculos anteriores. No universo do ouro e dos diamantes, ascender socialmente era um pouco mais fácil do que na civilização açucareira, pois bastava encontrar as minas de ouro. Dessa forma, criou-se no contexto minerador um maior aspecto urbano das vilas junto à camada média urbana, a qual futuramente seria conhecida como a famosa classe média”, crava.

Por fim, o educador alerta que, apesar de ter características próprias, a sociedade mineradora encontrou heranças no começo da colonização. “Patriarcalismo, catolicismo (muito forte com as igrejas e procissões barrocas e aqui merece uma atenção maior a festa de Corpus Christi) e a contínua escravidão como instituição reguladora das relações sociais”, descreve o professor ao explicar as heranças.

Veja, a seguir, uma questão sobre o assunto, a resposta correta e sua justificativa. O quesito é de autoria do professor Luís Henrique:

"Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda." (ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982, p. 89.)

O cronista Antonil observou, de forma categórica, os aspectos do contexto colonial do século XVIII brasileiro. Importante aspecto da colonização brasileira, a escravidão

a) era base da economia e da sociedade colonial, tornando-se, também, reguladora político-social.

b) tornou possível a rápida ascensão do movimento abolicionista no país.

c) possibilitou o avanço da economia açucareira, ao passo que também foi fator decisivo para a proclamação da independência, ao início do século XIX.

d) era muito presente na economia colonial, mas não era tão eficiente mão de obra, se comparada com a indígena.

e) fortaleceu as hierarquizações sociais para além dos africanos, já que entre eles não existiam diferenciações.

Resposta: letra "A". 

A mão de obra escravizada africana era mais cara que a indígena, porém mais eficaz nos trabalhos braçais mais fortes, requeridos pela lavoura ou pelas minas de ouro. Contudo, por conta da posse sobre os escravizados e as diferenças de cor da pele, a escravidão, além de base da economia também tornou-se um consolidado instrumento de dominação e divisão social no contexto colonial, sendo derrubado apenas, mesmo que de forma gradativa, na segunda metade do século XIX.

Ditadura militar - Milagre Econômico

Marlyo Alex, professor de história, aposta no Milagre Econômico. “O período, iniciado nos anos 60 e marcado com o fechamento do Congresso Nacional, torturas, mortes, desaparecimentos e tantas outras arbitrariedades denunciadas por diversas organizações nacionais e internacionais, além de indicadas pela Comissão Nacional da Verdade, se refere à Ditadura Civil-Militar. Contudo é bastante comum que tais fatos não sejam suficientes, por muitas vezes, para aplacar lembranças nostálgicas do regime militar brasileiro. Isso está diretamente ligado ao que costumamos chamar de ‘Milagre Econômico’ quando a taxa média de crescimento da nossa economia se mantinha acima dos dois dígitos, em torno de 10% ao ano e chegando aos 14% em 1973”, explica Marlyo.

Segundo o professor, inovações econômicas aperfeiçoaram o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) do governo Castelo Branco. “Captação de recursos e criação de liquidez são fundamentais na concretização dessa política econômica. O Ministro da Economia Antonio Delfim Netto é o grande nome de todo o processo e com o intuito de elevar o Brasil a uma das grandes economias mundiais, é criado o PDN (Plano Nacional de Desenvolvimento), com enfoque em manter baixos índices inflacionários e promover o desenvolvimento econômico nacional”.

Esse cenário se estabeleceu após empréstimos concedidos especialmente pelo “FMI e que em 1973 alcançaram a marca anual de 4,3 bilhões de dólares, quase três vezes o valor de 1971”. O professor acrescenta: “Parte da política se fazia na proibição de greves e mantendo o controle dos salários com o ‘arrocho salarial’, sem esquecer da entrada de máquinas e equipamentos modernos de produção. O setor com o maior crescimento foi de longe o automobilístico; grandes investimentos foram feitos no setor de infraestrutura na construção das chamadas ‘obras faraônicas’ por conta do tamanho, como por exemplo a Ponte Rio-Niterói, a rodovia Transamazônica e a hidroelétrica de Itaipu, todas elas com a presente presença das empreiteiras brasileiras; um enorme destaque à Odebrecht, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa que cresceram de forma meteórica nesses anos e décadas depois estariam ligadas a escândalos associados a relações espúrias com o poder público”.

Na visão do educador, apesar de pontos positivos do período, houve uma vulnerabilidade nesse processo, oriunda da dependência dos empréstimos estrangeiros e de subsídios como o petróleo, produto que, posteriormente nos anos 70, foi um dos principais problemas ao fim desse ciclo econômico, apesar da tentativa de contenção dessa dependência por meio do projeto PróAlcool.

“É importante lembrar que socialmente houve um aprofundamento do abismo social com o alargamento da desigualdade, o que torna hoje o Brasil um dos países mais desiguais no principais indicadores internacionais. Uma frase muito interessante do próprio Delfim Netto explica bem uma das causas desse fenômeno, quando dizia que ‘É preciso primeiro deixar o bolo crescer, para então dividir’. Isso esbarra no sufoco da capacidade do poder de consumo da população, obrigando a produção nacional a se voltar para o mercado externo, criando uma desproporção entre o avanço econômico e o atraso ou talvez até abandono dos problemas sociais pelo Estado. Pode-se perceber isto nos indicadores muito baixos de saúde, educação e habitação que medem a qualidade de vida de um povo”, conclui o professor de história.

Confira uma questão sobre o tema e sua resolução:

No período de 1964 a 1985, a estratégia do Regime Militar abordada na charge foi caracterizada pela

a) priorização da segurança nacional.

b) captação de financiamentos estrangeiros.

c) execução de cortes nos gastos públicos.

d) nacionalização de empresas multinacionais.

e) promoção de políticas de distribuição de renda.

 Reposta: letra "B".

A charge está associada a política econômica brasileira do período militar que era fundamentada no empréstimo de grandes quantias com entes internacionais como o FMI e que possuíam longos prazos para seu pagamento inclusive com juros que crescerão nas décadas seguintes, especialmente após primeiro choque do petróleo em 1973 e com a moratória nos anos 80. Dessa forma a fala dos pais demonstrando pena do filho se aplica sua geração que arcará com o ônus do pagamento das vultosas dívidas do Brasil.

Era Vargas

De acordo com o professor de história e sociologia João Pedro Holanda, o governo de Getúlio Vargas “é presença garantida no Enem, haja vista sua presença total nas últimas 10 edições do Exame”. Ele justifica: “E não é pra menos; é durante esse período que percebemos um processo de modernização da burocracia estatal brasileira, bem como uma série de legados sociais como o voto feminino (ainda que restrito), direitos trabalhistas e um processo de industrialização via indústrias de base”.

O período, porém, é marcado por contradições, a exemplo da tomada do poder por meio de um movimento armado que alegou fraude no resultado das eleições de 1930 até o momento derradeiro desses 15 anos de governo, devido a uma articulação também das forças armadas.

João Pedro Holanda também explana que boa parte dos direitos sociais alcançados no período da Era Vargas veio em um momento ditatorial do governo, “com perseguição aberta à oposição, censura e até mesmo o aval para uma política de ‘caça às bruxas’ racista”.

“Um sindicalismo cooptado e vigiado, em grande medida, pelo governo, uma intensa máquina de propaganda oficial com intenção de criar um sentimento nacionalista em torno do líder e de causar a sensação de que ele está próximo das reivindicações e do cotidiano do povo comum, além da destituição de governadores dos estados e a nomeação de interventores, na intenção de centralizar e controlar a administração de todo o território nacional e a outorga de uma nova constituição, foram atitudes políticas que ajudaram Getúlio a manter-se no poder por uma década e meia, além de sua futura eleição em 1950”, acrescenta o educador.

O docente alerta que Vargas buscava uma política de conciliação de interesses patronais e dos trabalhadores. Para isso, foram realizadas negociações de pautas, com o objetivo de evitar um acirramento dos conflitos entre as classes, estratégia classificada como “corporativismo”. Além disso, o professor pede que o candidato do Enem redobre a atenção para as três fases do governo:

1) governo provisório

2) governo constitucional

3) ditadura do Estado Novo.

“O estudante não pode deixar de se ater também  ao movimento queremista, que tentou impedir a queda do governo Vargas após a Segunda Guerra Mundial (em que lutamos contra as ditaduras nazi-fascistas, vivendo internamente um governo ditatorial), bem como a volta de Vargas ao poder democraticamente até o seu suicídio em 1954 após intensa campanha de difamação de seus opositores, especialmente a partir da descoberta do petróleo brasileiro e da criação de uma empresa nacional detentora do monopólio de extração do ouro negro, a Petrobrás”, comenta o professor de história.

O docente também destaca uma questão e traz a resolução. Confira:

(UFPB) O governo Vargas tornou-se sinônimo de intervenção estatal. Embora essa política intervencionista tenha adquirido força no Estado Novo, pode ser percebida durante toda a chamada Era Vargas.

Sobre a Era Vargas, é correto afirmar:

a) O Departamento de Imprensa e Propaganda, embora impusesse limitações à imprensa, seguiu a orientação do estado, sem propaganda do governo e sem influência sobre a opinião pública.

b) O governo, na questão agrícola, extinguiu diversos institutos, entre eles o do Açúcar e do Álcool, o do Pinho, o do Mate e o do cacau, e centralizou as ações do Ministério da Agricultura.

c) Os principais opositores do governo foram facilmente cooptados pela política governamental de conciliação e políticos com visões opostas, como Luiz Carlos Prestes e Plínio Salgado, atuaram como ministros de Vargas.

d) O movimento sindical passou a ser tutelado já no início do primeiro governo Vargas, com a Lei de Sindicalização (março de 1931) e, em decorrência, o sindicato tornou-se um colaborador do Estado, com o objetivo de intermediação e atenuação do conflito entre capital e trabalho.

e) O Brasil, com a implantação do Estado Novo, conseguiu a tão sonhada paz social, e o governo Vargas implantou, pela via da conciliação política, um governo de coalizão entre socialistas e integralistas.

Resposta: letra "D".

Resposta: letra "D".

A letra "A" está errada devido ao fato de o governo sempre estabelecer ampla propaganda governamental, que fez parte do que chamaríamos de “populismo”. A alternativa "B" está incorreta, pois, no âmbito agrícola, não houve alterações significativas. A letra "C" está errada devido a ideia de que Luiz Carlos Prestes foi fiel opositor de Vargas até quase o final da sua Era. A letra "E" está errada, pois o Estado Novo era uma ditadura, não havendo conciliação entre partidos ou ideologias diferentes, aliás, não havia partido. A resposta correta fica na letra "D", que trata da postura dos sindicatos na época, que eram extremamente ligados ao governo e tinham caráter conciliatório, sendo conhecidos como “sindicatos pelegos”.

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