A rotina de quem concilia os estudos com a maternidade

Atividades podem se tornar ainda mais complicadas para aquelas que se tornam mães na juventude

por Francine Nascimento dom, 12/05/2019 - 13:43
Arquivo Pessoal Nataly Sabino é mãe e estudante Arquivo Pessoal

No Dia das Mães, comemorado neste domingo (12), não é só a figura tradicional materna que é lembrada. Há também aquelas mães que são jovens e, mesmo com a pouca idade, carregam a responsabilidade e a complexidade de conciliar uma rotina de estudos, trabalho e maternidade.

Nataly Sabino, 26, é mãe de Maysa, de 2 anos. Ela está se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio 2019 fazendo cursinho e estudando em casa, onde alterna os horários para poder ficar com a filha. Às vezes, o único momento de estudo de Nataly é a madrugada.

A estudante vai fazer o Enem pela terceira vez. No ano passado, ela conseguiu uma vaga para ciências econômicas, porém, não chegou a se matricular. Este ano, está estudando para conquistar uma bolsa no curso de direito. O cronograma de estudos de Nataly é bem apertado.

“Faço curso de eletrotécnica na segunda, na quarta e sexta-feira tenho aula de espanhol e uma vez na semana, faço cursinho preparatório para o Enem, onde tenho excelentes professores” conta a estudante que não quer e nem pensa desistir do sonho de se graduar.

Nataly enfrentou muitos obstáculos no decorrer da maternidade, sobretudo pelas críticas que ainda escuta por continuar a estudar e trabalhar. Para poder cumprir sua agenda diária fora de casa, Nataly conta com a ajuda da avó materna, que fica com Maysa na maior parte do tempo. Além do apoio da avó, a professora de Nataly, Cristiane Pantoja, sempre esteve do lado da aluna, incentivando-a nos estudos e compreendendo as suas dificuldades, mesmo quando a estudante chegou a desacreditar de si mesma. 

"Quando escolhi a educação como profissão, percebi que ser professora era além da matéria. É apoio também. É entender sem julgamento a realidade do aluno. Muitas vezes é a atenção e uma palavra de incentivo ou um abraço que revigora o desejo de seguir com os estudos" relata Pantoja, que ensina filosofia. 

A realidade de Nataly é a mesma de muitas estudantes que se preparam para ingressar no curso superior por meio do Enem. Na prova, gestantes e lactantes têm direito a atendimento personalizado, que deve ser solicitado no ato da inscrição.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no Enem de 2018 participaram da prova 1.780 gestantes e 5.376 lactantes. 

No Enem de 2018, Nataly estava em período de amamentação. Contudo, ela não solicitou atendimento especial no ato da inscrição e fez a prova normamente. A estudante conta que fez a prova um pouco às pressas devido à lactação. Mesmo assim, Nataly obteve uma boa nota, que a possibilitou uma bolsa no curso de ciências econômicas. 

O curso de direito sempre foi o que Nataly queria fazer. Com a gravidez indesejada, ela precisou adiar o sonho, principalmente pela falta de amparo que teve no início. 

"Eu estudava em casa para as provas, não tinha condições de arcar com um cursinho. Eu trabalhava em dois empregos para pagar a casa que comprei. Os planos eram pra depois da casa, pagar o cursinho, então veio a gravidez indesejada, sofri bastante, me separei com 6 meses de gestação" narra a mãe de Maysa, que precisou de amigos e da avó para se reerguer.

Hoje, Nataly encontra na filha motivos para continuar em frente. A menina, mesmo com 2 anos, já reconhece a mãe dedicada.

"Ela tem um exemplo de mim muito bom e era isso que eu queria passar pra ela. Porque é muito difícil você criar uma filha sozinha e ter que estudar e trabalhar" explica.

 

 

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