UFPE formará a primeira pedagoga travesti

Em 60 anos de funcionamento, o Centro de Educação da UFPE terá a primeira graduada travesti

por Francine Nascimento qui, 22/08/2019 - 11:53
Arquivo Pessoal Ana Flor Fernandes Rodrigues acredita que sua conquista a faz refletir sobre as desigualdades ainda existentes no Brasil Arquivo Pessoal

Ana Flor Fernandes Rodrigues, 23, aluna do curso de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), será a primeira travesti a se formar educadora pela instituição. Em 69 anos de funcionamento da UFPE, o exemplo de Ana Flor abre espaço para reflexões sobre discriminações e os lugares em que a comunidade LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros) está começando a ocupar no Brasil.

 Ao ser a primeira travestia a ser formada pelo Centro de Educação da UFPE (CE), a jovem recifense Ana Flor diz que este marco a faz pensar na dimensão na desigualdade ainda existente no país e que este é apenas um caminho para que outras pessoas tenham a oportunidade de chegar a esse e a outros setores da educação. "Anseio que mais travestis venham para a educação e que possamos construir estratégias de disputas e rupturas de um campo que, quase sempre, se faz minado", completa.

 

Segundo a Diretoria LGBT da instituição, antes de Ana Flor, houve uma universitária travesti que cursou alguns períodos do curso de pedagogia, mas que não chegou a se formar, pois precisou se mudar para São Paulo. De acordo com Luciana Vieira, diretora da Diretoria LGBT, o impacto da conquista de Ana Flor vai muito além do curso de pedagogia. "É um marco histórico que faz abalar as estruturas retrógadas de um país violentamente homofóbico. Só de conseguir concluir um curso e ocupar lugares que historicamente foram formados por pessoas brancas e Cis, já contribui para uma sociedade mais igualitária", celebra.

A violência homofóbica a qual Luciana se refere diz respeito aos dados alarmantes que faz do país o lugar que mais mata transexuais, segundo dados da organização não governamental (ONG) austríaca Transgender Europe.

Para Ana Flor, a univesidade não é o ambiente mais seguro para a população LGBT e ela por si só não transforma vidas. "Enquanto a universidade for uma possibilidade, nós precisamos disputá-la. Desde suas estruturas, até sua forma de construir conhecimento", acredita. 

E é por meio da docência que Ana Flor vinslumbra outros projetos do mundo e também de vida. "Tenho 23 anos e espero continuar escrevendo, pesquisando, convidando mais meninas e torcendo para que elas consigam ter acesso, ingressar e permanecer no ensino superior. E não quero com isso dizer que é 'fácil', mas que é possível e que podemos", finaliza.

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