Opiniões: vantagens e desvantagens de fazer o Enem Digital

Professores revelaram ao LeiaJá suas opiniões sobre o novo modelo de prova. Ferá terá que escolher a prova digital ou o exame de papel

por Aurilene Cândida ter, 31/03/2020 - 16:20
Pixabay . Pixabay

Neste ano, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) contará com uma versão digital além da prova impressa. O LeiaJá, em parceria com o projeto Vai Cair No Enem, ouviu professores que analisaram, com exclusividade, o novo modelo de aplicação. Os docentes revelaram o que, para eles, são as vantagens e desvantagens do exame digital.

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Para o professor de química Josinaldo Lins, de modo geral, o Enem Digital traz uma realidade que está presente no cotidiano de muitas pessoas: o uso de ferramentas tecnológicas. Apesar de suas "óbvias limitações", a prova digital repete algo que é feito, só que em escala muito maior, em cursos de EaD. Para as questões de química, o docente não acredita em grandes diferenças das abordagens tradicionais dos conteúdos. “Espera-se gráficos de melhor qualidade e resolução, além de enunciados mais concisos. Mas adiante, é possível até que se utilize recursos, como vídeos e animações para ajudar na compreensão do enunciado”, comentou Lins.

Além dos pontos positivos, Josinaldo ressalta algumas limitações na versão digital:

O acesso a computadores e a velocidade de transmissão de dados não são uniformes em se tratando de Brasil; a obsolescência de equipamentos e a baixa qualidade são a tônica.

A limitação no número de inscritos e a maneira pela qual vai ser feito o processo de inscrição privilegia quem tem melhor acesso a internet

A proibição de quem vai fazer Enem Digital de se inscrever na prova escrita, a ser realizada um mês depois. E se as provas não mantiverem o mesmo padrão? O mesmo nível? O fera pode ter apostado todas as fichas em algo que pode tirar sua vaga, ao invés de garantir.

A professora de redação Josicleide Guilhermino também aponta vantagens e desvantagens do exame digital. Ela inicia detalhando os pontos positivos:

A meta é que até 2026 a prova chegue a quatro aplicações, todas elas digitais, o que dá ao aluno maior liberdade de escolha.

Com mais de uma aplicação tem-se automaticamente ampliação do banco de dados (onde ficam armazenadas as questões), o que diversifica mais a prova em termos de conteúdo, exigindo do aluno maior interligação entre as áreas e não um saber fragmentado.

Enem digital facilitará a adaptação ao novo ensino médio, que deve ser implantado em 2021.

A prova deve ficar mais interativa, com vídeos, jogos, entre outros recursos. 

Vantagem ecológica, economia de papel, menor agressão à natureza, economia para os cofres públicos pelo volume de provas impressas que não serão mais necessárias.

Conseguirá atender um número superior de candidatos, pois a prova impressa não consegue ser aplicada em todas as cidades do Brasil, enquanto que o Enem Digital exige basicamente apenas o acesso à internet.

Por outro lado, a professora de redação revelou o que para ela são as desvantagens do Enem Digital:

A versão digital irá reproduzir uma desigualdade que já é latente entre os alunos oriundos da rede pública e da rede privada. Geralmente, os alunos da rede privada têm mais acesso à tecnologia e mais habilidade no manuseio das ferramentas tecnológicas.

A rede privada já é habituada a desenvolver simulados online e os alunos que não têm esse hábito, tendem a ser mais prejudicados.

É preciso um tempo e preparo para que o estudante esteja adaptado, além disso, o tempo de escrita no computador é diferenciado a depender da habilidade no manuseio do teclado, o que pode levar o aluno a perder muito mais tempo do que na folha tradicional.

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O professor de biologia André Luiz Vitorino comenta que uma possível vantagem no Enem Digital é a anulação de enfrentamento de trânsito para chegar no local de provas, uma vez que a quantidade de alunos em 2020 não ultrapassará 100 mil. Já como desvantagem, ele acrescenta o fato de os estudantes não conhecerem a estrutura de como terão que fazer a prova.

Para o professor de matemática Daniel França, o Enem Digital tem um grande desafio: atingir de forma online todas as cidades e levar a possibilidade do ingresso às universidades públicas e/ou programas de acesso e assistência estudantil, democratizando, assim, o seu sistema e o tornando ainda mais acessível, tendo em vista que nem todas as cidades hoje são polos de aplicação da prova física. 

“São muitos os benefícios além, da democratização do acesso, passando pelo viés ambiental, favorecendo a ecologia com a não impressão das centenas de milhões de folhas de papéis. Em matemática, inclusive, esses benefícios favorecem a interação da prova para com o aluno, possibilitando a inserção de gráficos animados, vídeos, animações em gif, áudios e etc,” acrescenta o docente.

A grande preocupação do professor se dá em relação ao nivelamento das questões que, para ele, quase nunca se mantém igual em relação ao que se exige do aluno. França ainda comenta que há uma disparidade na aquisição de recursos tecnológicos nos dois eixos da educação: a privada e a pública. “Alunos de escolas públicas são os menos favorecidos, claramente, por não usufruírem dos mesmos recursos, por não terem acesso muitas vezes à internet, ao computador. Às vezes, até mesmo as salas com a mínima estrutura, sabemos da defasagem do sistema público de ensino, e por esse viés, também podemos enxergar uma reprodução de desigualdade”, opina o educador.

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