Desemprego em alta: mulheres são mais prejudicadas

Só em julho, 6,2 mil mulheres perderam o emprego em São Paulo

por Alex Dinarte seg, 05/10/2020 - 15:53
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Embora a flexibilização de alguns segmentos da economia em meio à crise do coronavírus tenha trazido esperança para a conquista de novas oportunidades de negócios, a taxa de desemprego voltou a ter elevação no Brasil. Dados do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na última sexta-feira (2), mostram que, até a segunda semana do último mês de setembro, os desempregados representavam 14,1% da população.

A situação fica ainda mais complicada para as mulheres durante a pandemia. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no último mês de julho 6,2 mil pessoas do sexo feminino ficaram sem emprego em São Paulo. É o exemplo da monitora de teleatendimento Bruna Santos, 36 anos, sem trabalho há pouco mais de 15 dias. "Estou procurando oportunidade de trabalho dentro das minhas qualificações e infelizmente, dentro do segmento do call center, o trabalhador se desvalorizou nesses últimos meses. Praticamente todas as empresas que tenho visto padronizaram benefícios e o valor do salário mínimo", conta.

 A monitora de teleatendimento Bruna Santos | Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Bruna, os problemas para a conquista da oportunidade vão além dos ganhos de pouco mais de R$ 1.045 mensais. Para ela, muitas firmas ainda vêem as mães de família como um problema. "Mulheres com filho tem mais dificuldade de se recolocar no mercado. A empresa prefere oferecer a vaga a pessoas que não são 'risco' por terem que cuidar da criança", considera.

A profissional afirma que, por enquanto, consegue manter uma renda por estar munida dos recursos indenizatórios, mas está preocupada com o cenário. "Além da monitoria, tenho experiência como atendente e back office [suporte de cobrança], e o mercado está oferecendo o mesmo salário do operador de telemarketing. Muitas pessoas aceitam por experiência e para não ficar desempregado. Vai ser bem difícil me realocar de uma maneira justa", observa.

Desalento e esperança nos concursos

A auxiliar administrativa Fabiana da Glória, 41 anos, está entre os trabalhadores desalentados. O termo é utilizado pelo IBGE para contabilizar pessoas que deixaram de procurar emprego. Ela conta que há cinco anos saiu do grupo educacional em que trabalhava, procurou emprego durante um período, mas resolveu estudar para ser servidora pública. "No início procurei por muito tempo, até decidir pelo concurso público. Ser mulher, negra, mãe de filho pequeno é um empecilho e tanto no mercado de trabalho", protesta a trabalhadora, que agradece aos pais pelo apoio e pelo auxílio na criação do menino. "Se não fosse pelos meus pais, teria que jogar meus diplomas no fundo de uma gaveta e trabalhar em qualquer oportunidade que me fosse apresentada. Mas enquanto eu puder vou seguir estudando e aguardando meu nome no Diário Oficial", enfatiza.

 A auxiliar administrativa Fabiana da Glória e o filho Bernardo | Foto: Arquivo Pessoal

Ainda segundo Fabiana, além da estabilidade, a carreira como servidora pública a retira da obrigação de participar de processos que a envolvem em entrevistas como dinâmicas de grupo em que, de acordo com ela, trazia frustração. "Por ser uma pessoa muito retraída, tenho dificuldade de me expressar nas entrevistas, muitas vezes via pessoas representando um papel para conseguir um emprego e isso me frustrava ainda mais", comenta. "Meus dois últimos empregos foram por indicação e acho que se, por algum motivo desistisse do concurso público, só seria recolocada no mercado por indicação novamente", complementa.

Indicações da especialista

Ana Chauvet, especialista em Recursos Humanos, aponta a disparidade existente no mercado de trabalho entre homens e mulheres como um dos fatores responsáveis pelo desequilíbrio histórico de gênero no mercado de trabalho, que segue sendo prejudicial em tempos de crise. "No Brasil, grande parte da população feminina acaba tendo que ser a única provedora da casa e, além disso, administrar o lar e a família em uma jornada tripla. Isso faz com que as profissionais do sexo feminino sejam mais prejudicadas em ocasiões de crise", declara.

Ainda segundo Ana, outro aspecto que precisa ser desconstruído com urgência é o fato das empresas verem o público feminino como custo ou risco."As empresas entendem as mulheres como prejuízo e desconsideram que elas são as grandes responsáveis pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em todos os países do mundo", ressalta.

De acordo com a especialista, a união entre as próprias mulheres pode fazer a diferença em tempos de crise sanitária e financeira. Há algumas plataformas criativas de busca de emprego em que se viabiliza a solidariedade para divulgar vagas para os mais diferentes perfis femininos. "Tem o 'Mulheres no e-commerce', destinado para as que buscam vagas no mercado eletrônico; 'Garotas no poder', grupo no Facebook de mulheres que buscam por igualdade de gênero no mercado de trabalho; 'Indique uma mina', com o intuito de divulgação de vagas, porém com visibilidade para mulheres trans também; 'Contrate uma mãe', rede de apoio de mulheres que buscam pela realocação, aumentando a autoestima das mães; e a 'She works!', plataforma internacional disponível no Brasil, que conecta empresas com mulheres que buscam trabalhos freelas e/ou home office na área da comunicação", indica Ana.

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