Veja como elaborar uma conclusão menos clichê no Enem
Professores de redação explicam como surpreender os corretores ao fugir de ideias prontas na construção da sua proposta de intervenção
A redação dissertativo-argumentativa cobrada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é de gênero discursivo, que se caracteriza pela defesa de um ponto de vista através da argumentação. Dessa maneira, é importante que o estudante tenha em mente que, apesar da defesa da tese ao longo do texto ser de inquestionável importância, será na conclusão que ele dará o desfecho da sua ideia central e demonstrará aos corretores que realmente tem o caminho para a solução do problema.
Isto posto, é um erro grave quando o participante do Enem chega até o final do texto com uma proposta de intervenção enfraquecida, o que acontece bastante quando são abordadas ideias clichês na elaboração da solução. Uma muito comum é delegar ao governo a responsabilidade de resolver o problema, mas nem ao menos informar qual seria o ministério adequado para isso ou como isso deveria ser feito.
Para evitar esse erro e ajudar os estudantes na escrita de uma conclusão mais interessante e inovadora, sem repetir clichês que provavelmente estarão na redação de milhares de participantes, o LeiaJá conversou com professores de Língua Portuguesa e Redação que explicaram um pouco sobre o que é esperado na conclusão do Enem e quais são as alternativas para fugir dessas ideias prontas.
Com embasamento e sem clichês
De acordo com a professora de Língua Portuguesa, Carliria Fumeiro, a conclusão é responsável pela síntese do texto. “A conclusão é a parte da redação em que o candidato deve resumir as ideias expostas e trazer uma possível proposta de intervenção. Um dos critérios mais observados na correção do Enem é a necessidade do estudante trazer uma proposta de intervenção não utópica, ou seja, atingível e eficaz. Ela deve ser articulada com o texto e detalhada”, frisa a docente.
Para isso, a professora cita três elementos que são fundamentais para elaborar uma proposta de intervenção factível e, assim, fugir de soluções vazias. São elas: Agente (quem vai fazer); Ação (o que poderá ser feito); Meio, modo (como poderá ser desenvolvido) e Finalidade (Para quê), seguido do detalhamento de um desses itens.
Enquanto aos clichês, Carliria cita como exemplo a expressão “negligência do governo”, que é muito presente nas redações. Para evitar esses erros, ela indica a estratégia de usar o próprio texto para formular uma ideia de intervenção. “É bom ler com atenção os textos motivadores, pois muitas vezes o próprio texto já traz as ações governamentais que visam sanar ou minimizar a problemática.”
“No último Enem, por exemplo, o tema era 'Invisibilidade e Registro Civil: Garantia de Acesso à Cidadania no Brasi'l e os textos tinham informações valiosas. No texto motivador um, mostrava que já é uma lei antiga a gratuidade do documento e o texto motivador dois mostrava que o governo ajudava na locomoção das pessoas disponibilizando para elas um ônibus para as levarem até os cartórios. Então, jogar sempre a culpa ou total responsabilidade no governo é um clichê. Pois, existem várias causas e muitos outros culpados para cada problema social” esclarece.
O professor de redação Felipe Rodrigues, explicou o que é esperado pelos corretores no encerramento da redação: “No Enem é preciso realizar a retomada da tese, a inserção da proposta de intervenção e o fechamento textual que serve como solução, fazendo uma ponte futurista, tentando um encaminhamento argumentativo para que você faça uma ligação com o que você trouxe na introdução e também resolva os problemas de forma atual.”
Para Felipe, uma boa saída para não cair em clichês é ser real, como se o participante imaginasse sua proposta de intervenção ouvida no rádio, vista em blogs, em páginas do Instagram e visualizasse que o mecanismo de solução que ele criou realmente ajudaria na diminuição do problema social proposto pelo Enem.
“Uma dica que eu dou é que o aluno traga consigo elementos que ele utiliza em seu cotidiano, como a tecnologia e a educação. E ele precisa trazer com propriedade, saber qual o ministério, entidade ou ONG irá realizar esse trabalho. Por isso, é importante a construção de repertório, porque o estudante precisa adentrar nesse mundo para se chegar numa proposta de intervenção, ele precisa conhecer esse meio educacional para poder criar”, conclui.
Já a professora de português Marcela Silva explicou que uma conclusão perfeita precisa usar conectivos conclusivos, retomar a tese defendida, fazer uma proposta de intervenção e, se o estudante assim desejar, finalizar com um repertório sociocultural. Para fugir dos clichês, ela cita alguns agentes que podem ser citados como os Ministérios, ONGs, Mídia, Instituições, Família, Escola e Sociedade.
A professora ainda citou um exemplo de conclusão de uma redação nota 1000 que pode servir de inspiração para os concorrentes no Enem 2022. Confira:
“Portanto, é impreterível que o Ministério da Infraestrutura, em parceria com o Ministério da Cultura, construa cinemas públicos, por meio da utilização de verbas governamentais, a fim de atender a população que não pode pagar por esse serviço, fazendo com que, assim, o acesso ao cinema seja democratizado e essa parcela da sociedade deixe de usufruir apenas de uma "Cidadania de Papel”. (Stella Terra)