Remuneração de CEOs é alvo de discussão
Em 2020, os presidentes das 350 maiores empresas americanas ganharam, na média, 351 vezes mais que seu funcionário "médio"
Apesar dos avanços em termos de governança corporativa no Brasil, ainda não existe por aqui um levantamento estruturado que mostre a diferença entre os salários do alto escalão e o ganho médio dos trabalhadores das companhias. Nos Estados Unidos, o Economic Policy Institute já fez esse mapeamento, que deixou evidente o abismo salarial dentro de uma mesma empresa.
O resultado mostrou que, em 2020, os presidentes das 350 maiores empresas americanas ganharam, na média, 351 vezes mais que seu funcionário "médio". O salário dos presidentes, conforme o levantamento, cresceu 18,9% naquele ano, enquanto o ganho do trabalhador comum avançou só 3,9%. O estudo mostra ainda que, em 1965, essa diferença de salário entre o CEO e o restante da empresa era de 21 vezes.
"A pandemia trouxe uma dinâmica importante para o tema, chamando atenção para o distanciamento de salários entre a base e o topo da pirâmide corporativa, em meio a demissões e reduções de salários", afirma Fabio Coelho, presidente da Amec, associação que representa investidores nacionais e estrangeiros.
Já o gerente de Pesquisa e Conteúdo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Luiz Martha, reforça que uma métrica que vem sendo analisada por investidores é exatamente se o crescimento do salário médio dos empregados de uma empresa segue o mesmo ritmo do que o do CEO, mesmo que os valores em si não sejam comparáveis. Ele frisa, contudo, que a análise de um salário de um executivo de uma grande empresa precisa computar uma série de variáveis.
DOIS CASOS. O levantamento feito para o Estadão também mostra o conjunto dos salários das diretorias. No Bradesco, por exemplo, o alto escalão do banco somou uma remuneração de R$ 818 milhões. Esse montante está ligado ao número de membros da diretoria da instituição: um total de 88 executivos. O maior valor de 2021 foi recebido pelo presidente do banco, Octavio de Lazari: R$ 23,7 milhões.
Outra empresa cuja remuneração da diretoria salta aos olhos, mas que está de fora da lista dos dez maiores, é a da agência de turismo CVC, que ainda tenta se recuperar da crise com a pandemia. A remuneração total da diretoria soma R$ 28 milhões, sendo que 64% desse valor foram pagos apenas para seu presidente, Leonel Andrade. Procurada, a CVC não comentou.
"Falta transparência sobre os critérios da distribuição da verba global aprovada pelos acionistas em assembleia. Quando analisamos a distribuição pelos dados dos formulários de referência, são constatadas algumas discrepâncias, quase sempre beneficiando administradores ligados aos acionistas controladores", afirma Renato Chaves, que organizou o estudo para o Estadão. Essa diferença, diz ele, se refere ao salário do presidente de algumas empresas em relação ao restante da equipe de diretores.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.