Após casos de intoxicação, alunos da UFPE realizam ato
Estudantes tiveram mal-estar, depois de comerem no restaurante universitário
Na última sexta-feira (1), estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), campus Recife, tiveram um mal-estar após alimentação no restaurante universitário da instituição (RU), que é administrado pela empresa General Goods. Vômitos, diarreia e dores abdominais foram os principais sintomas relatados pelos alunos, de acordo com um levantamento realizado pela Casa do Estudante. Através do formulário on-line, a CEU’s contabilizou mais de 1200 relatos de mal-estar. Algumas vítimas precisaram de atendimento médico em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). O LeiaJá também encontrou relatos de casos de intoxicação alimentar nas redes sociais.
Nesta segunda-feira (4), diversos alunos da UFPE participaram de um ato em frente ao restaurante universitário, que foi reaberto em maio de 2023 após dois anos sem funcionamento. Aos gritos de “Fora, General Goods” e “Fora, reitor Alfredo [Gomes]”, eles pediam por qualidade e segurança no serviço oferecido de alimentação à comunidade acadêmica.
Júlio Gomes/LeiaJá
Júlio Gomes/LeiaJá
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Os manifestante chegaram a entrar no RU para protestar. Júlio Gomes/LeiaJá
Entre os estudantes que passaram mal, está Vinícius Souza, que estuda ciências biológicas e é morador da Casa do Estudantes desde novembro de 2022. Ele disse à reportagem que os relatos de mal-estar começaram já na segunda-feira (28).
"O foco do surto mesmo [intoxicação] foi da sexta para o sábado. Na Casa [do Estudante] teve gente vomitando pela janela, porque não dava nem tempo de chegar no banheiro. Os corredores de lá estão sujos, os banheiros, que já são precários, ficaram piores. Foi um surto infeccioso entre os alunos. No sábado, começamos a nos articular em um grupo no WhatsApp e percebemos que não era só a gente que estava passando mal, mas toda a universidade. Então, demos início a um formulário, que mostra que as pessoas tiveram sintomas semelhantes, mas, alguns se destacaram, como diarreia, dor de cabeça, febre, vômitos”, salienta.
Vinícius também contou que chegou a desmaiar e que um amigo vomitou sangue. Ao LeiaJá, o universitário ressaltou que a Casa do Estudante entrou em contato com a Pró-reitoria, que foi ao local para prestar assistência às vítimas. No entanto, ele pontua que a atuação da Pró-reitoria não foi suficiente para a gravidade do caso. “Eles levaram uma enfermeira até a Casa do Estudante. Ela analisou o que a gente tinha, mas, nada além disso. O máximo que disseram foi para a gente ir para a UPA e tomar os remédios que já estávamos usando”. Durante a entrevista, o estudante falou que ainda apresenta sintomas como dor de cabeça e enjoo.
Vinícius Souza é estudante de ciências biológicas e morador da Casa do Estudante. Ele chegou a desmaiar por causa da infecção alimentar. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Mesmo com os casos de infecção alimentar o RU segue aberto
Dois dias após o ocorrido, o restaurante universitário funcionou nesta segunda. De acordo o com pró-reitor para assuntos estudantis da UFPE, Fernando José do Nascimento, uma equipe da Vigilância Sanitária esteve no local e acompanhou o preparo das refeições de hoje. "Desde que a universidade foi notificada, nós acionamos de pronto a Vigilância Sanitária e Epidemiológica. Então, ontem, a Vigilância Sanitária passou aqui (UFPE), aproximadamente, quatro horas fazendo uma inspeção detalhada da cozinha, do setor de produção, do estoque, que não foi encontrado nada que justificasse o fechamento do RU”, afirmou em entrevista ao LeiaJá.
À reportagem, o pró-reitor esclarece que uma equipe da Vigilância Sanitária coletou material para uma análise clínica “do que a empresa [General Goods[ recebeu do fornecedor e identificar a causa [intoxicação]. É certo que, até o presente momento, [o problema] não está na produção e no serviço. A Vigilância Sanitária esteve aqui ontem e hoje e não encontrou nada que depusesse contra o restaurante”, frisou.
O restaurante universitário aberto gerou um incômodo em alguns estudantes, que chegaram a alegar que a UFPE e General Goods estavam tratando os estudantes como cobaias. A estudante Charly, que cursa pedagogia e é moradora da casa mista do estudante, pontuou que os relatos de mal-estar dos alunos da instituição não são novidade. “Casos isolados, que foram levados à administração do RU, para a Proaes, para uma comissão de estudantes. Então, esses casos de infecção, intoxicação alimentar vem ocorrendo por uma questão estrutural do RU”, contou.
A aluna critica o funcionamento do espaço, que contou com um público reduzido durante o almoço. "Eu acho que o restaurante funcionando significa que nós estamos aqui diante de um experimento público. Por mais que a vigilância sanitária diga 'pode abrir o RU porque vamos analisar a produção da comida', mas, como é que você vai analisar essa qualidade com insumos que vieram da semana passada? Com coisas que estão armazenadas e a gente nem sabe como está funcionando", critica.
À reportagem, Charly conta que algumas vezes o restaurante serviu pão morfado aos estudantes. "Na sexta-feira não teve pães morfados, mas já rolou outras vezes no restaurante universitário". Questionado sobre o caso, Fernando José do Nascimento afirmou que as pontuações dos alunos da UFPE não foram amplamente difundidas. "Nós temos uma canal para atender essa demanda [RU]. Pedimos para que esses casos sejam relatados nessa plataforma ou na ouvidoria", menciona.
Pró-reitor para assuntos estudantis da UFPE, Fernando José do Nascimento, almoçou no RU enquanto estudantes realizavam ato no local. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
General Goods e casos de intoxicação alimentar
Este não é o primeiro episódio de intoxicação alimentar envolvendo a General Goods. Em março de 2022, 60 estudantes da Escola Técnica Estadual Luiz Alves Lacerda, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, tiveram mal-estar após a merenda, de responsabilidade da terceirizada. Na época, a empresa alegou que não houve irregularidades nas refeições servidas na instituição.
Para a reabertura do restaurante universitário, a UFPE realizou um processo se licitação para escolha da empresa que ofertaria o serviço, sendo a General Goods a escolhida. A contratação da terceirizada foi publicada no Diário Oficial, em março de 2023. "Contratação de empresa especializada na prestação de serviços para a produção e distribuição de refeições para coletividade sadia no restaurante universitário da Universidade Federal de Pernambuco, Campus Joaquim Amazonas, Recife, PE, que serão prestados nas condições estabelecidas no termo de referência, anexo do edital".
A reportagem questinou Fernando José do Nascimento sobre a contratação da General Goods, diante de uma caso semelhante no Estado, após todo o processo de licitação realizado pela UFPE. O pró-reitor afirmou que todos os documentos solicitados à empresa foram entregues e não havia nenhuma sinalização sobre o caso ocorrido no Cabo de Santo Agostinho.