Dores da Colômbia: A realidade sob os olhos de Botero

Obras de um dos maiores artistas modernos encontram-se em cartaz no Recife

por Maira Baracho seg, 06/08/2012 - 18:10

“Meu país tem duas caras. A Colômbia é o mundo amável que eu pinto sempre, mas também tem essa cara terrível da violência”. A frase está escrita em uma das paredes da galeria do Instituto Ricardo Brennand que apresenta, a partir da próxima quarta-feira (8), a exposição Dores da Colômbia, de Fernando Botero. Na mostra, 67 obras criadas entre 1999 e 2004, exibem um olhar doloroso sobre o caos vivido na Colômbia, impresso pelas mãos atentas de um dos maiores nomes do cenário moderno das artes.

Os corpos arredondados, marca registrada de Botero, estão presentes em todas as obras, mas a exposição reserva novidades para quem acompanha seu trabalho. Ao contrário da maioria das produções do artista, sempre lúdicas e amáveis, com rostos inexpressivos, as Dores da Colômbia são representadas por expressões de aflição, medo, agonia, choro e crueldade. A mulher que segura o filho morto, homens que massacram famílias inteiras, o corvo que come os olhos de um homem, são algumas das figuras representadas por Botero, um pouco da realidade ali interpretada.

Impressa nas paredes da galeria está a opinião de um mestre que precisou se render: “Sou contra a arte como arma de combate. Mas, em vista do drama que atinge a Colômbia, senti a obrigação de deixar um registro sobre um momento irracional da nossa história”.

Numa mostra artística que mais parece uma fotorreportagem de denúncia social, Botero usa o grafite, carvão, tintas acrílica, óleo, pastel, giz e aquarela para mostrar, de forma provocante, a realidade negligenciada e ignorada por muitos. “A maioria do público sente o impacto das imagens, são dois tipos de reação: algumas pessoas acham incrível, lindo e, outras, questionam a necessidade de mostrar essas coisas”, revela a Coordenadora de Exposições do Museu Nacional da Colômbia, Adriana Parra, que percebe a contradição como uma característica forte no trabalho. “São cenas sangrentas, tristes, mas feitas com muito cuidado. São bonitas do ponto de vista plástico”, explica.

A exposição, que fica em cartaz até 9 de setembro, já passou por Brasília, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e encerra sua turnê brasileira no Recife. Segundo a Coordenadora de Produção da Aori (produtora responsável pela mostra), Luciana Cunha, a cidade representa uma grande expectativa de público. “A média de público foi de 10 mil visitantes por cidade e 17 mil em São Paulo. A gente acredita que o Recife pode ser um recorde”.

Além das maiores cidades brasileiras, Dores da Colômbia já esteve em cartaz na Espanha, Equador, Argentina e tem temporada marcada no México. As obras foram doadas pelo artista ao Museu Nacional da Colômbia, sob a condição de serem mostradas ao mundo. Nenhuma das obras expostas está presente no circuito comercial.

Além da exposição, o Instituto Ricardo Brennand conta com uma escultura de Botero em seu jardim.

Serviço

Dores da Colômbia, de Fernando Botero

De 8 de agosto a 9 de setembro (Terça a domingo, 13h às 17h)

Instituto Ricardo Brennand (Alameda Antônio Brennand, São João, Várzea)

Ingressos: R$ 15 (inteira) R$ 5 (meia entrada) - Crianças até 7 anos não pagam

Informações: (81) 2121 0352/0365

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