Tim Maia: o anti-herói da música soul brasileira
Cinebiografia de um dos mais queridos - e polêmicos - cantores do Brasil estreia nesta quinta (30)
Não é fácil representar uma biografia de forma interessante e não cansativa no cinema. Dentre as várias produções nacionais de cinebiografias, estreia nesta quinta (30) uma que certamente se destaca: Tim maia Não Há Nada Igual conta a história conturbada e de sucesso de um dos maiores cantores do Brasil.
O longa que conta a história de Sebastião Rodrigues Maia tem tudo para entrar na lista das melhores produções brasileiras dos últimos tempos. O filme é baseado no livro Vale Tudo, do escritor Nelson Motta, e conta trajetória do cantor desde a infância pobre no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde deu início à carreira, até os momentos de maior sucesso.
No filme, a história de Tim Maia é contada de forma cronológica, desde a infância complicada na década de 1950. Segue retratando a adolescência no período da Ditadura Militar no Brasil, passando por seus anos de muito sucesso nos anos de 1970 e 80, até o momento em que o cantor começa a demonstrar sinais de que tinha perdido o gosto de viver, se entregando ao vício das drogas e da bebida alcoólica.
Tim é interpretado por dois atores: Robson Nunes em sua fase jovem e Babu Santana na fase adulta, o último teve que engordar cerca de 15 quilos para interpretar o cantor.
O diretor do filme, Mauro Filho, se propõe a relatar - sem hipocrisia - a trajetória de Tim Maia, expondo sempre os seus excessos e a sua genialidade musical. Mauro comenta a dificuldade de condensar cinco décadas em apensar duas horas. "Sempre digo que um longa-metragem de ficção sobre a vida de uma pessoa nunca é para ser curtido por quem viveu aquilo. É uma peça que nunca poderá ser considerada um documento. Além disso, um filme que abrange cinco décadas pressupõe um milhão de personagens, e isso é uma tarefa inviável, não cabe num único filme”, afirma o diretor.
A trajetória musical de Tim é contada de forma instigante, prendendo o espectador sem ser uma cinebiografia cansativa. Por isso, apesar de um formato normativo clichê, o desenrolar do longa é dinânimo e mistura as canções e a história com bastante emoção.
Um dos pontos mais fortes do filme, além do roteiro bem amarrado, é o elenco. Alinne Moraes (Janaína) e Fábio (Cauã Reymond) interpretam em um versão romantizada os amores da vida de Tim e os amigos, respectivamente. Ao longo do filme, o diretor procurou mostrar bem como era a relação de Tim com os amigos, as vezes egocêntrica, assim como com as suas mulheres.
Outro ponte forte do filme é comédia na medida certa. Principalmente na passagem nos Estados Unidos, onde Tim se aventurou durante alguns anos. Ele ganha a oportunidade de viajar para lá com alguns membros da igreja para estudar música. Porém, ao chegar lá, pouco estuda música.
Se envolve em encrencas, é preso e é deportado para o Brasil. A fotografia e montagem das cenas nos EUA é impecável, a coloração da imagem, os artefatos, os carros, tudo é muito bem organizado para se parecer com a época em que ele viajou.
É um filme brilhante do ponto de vista estético e de roteiro. Apesar de mostrar os altos e baixos na carreira do músico, o longa consegue passar ao espectador a genialidade musical de Tim Maia. A forma com que ele fazia música e poesia, e como lotava casas de show. Passagem por Londres, lançamento da primeira música na voz de Roberto Carlos, prisões, intimações, tudo isso é resumido de maneira bela. Para fãs, uma viagem pela cida e obra de um gênio musical.