Uma nova tendência em gastronomia toma conta de Belém

Food trucks oferecem variedade e qualidade que atraem consumidores interessados em fugir dos restaurantes convencionais

seg, 19/12/2016 - 16:50

Não é de hoje que se tem observado, na capital paraense, a existência de carros de comida, os food trucks, em inglês. Marcas tradicionais como André Sanduicheria e Milleo Lanches também começaram suas atividades como ambulantes, na década de 80, utilizando trailers nas ruas. Hoje, possuem pontos fixos em diferentes áreas da cidade. Outro pioneiro na área foi o Hermanos Food Truck,  que vende sanduíches artesanais em um micro-ônibus, tendo iniciado suas atividades em outubro de 2014.

O mercado de food trucks, em Belém, tem se consolidado há cerca de um ano e meio, tornando-se uma tendência no ramo gastronômico. Existe uma forte influência das regiões Sul e Sudeste do país. No exterior, essa também é uma prática recorrente.

Daniel Araújo, gerente comercial, opina sobre um food truck que oferece cervejas. “Acho fantástico o visual que foge do formato quadrado e convencional. É um trailer, mas com formato de barril, acabamento de madeira, totalmente diferente dos outros que são de alumínio. Além da cidade ser muito quente, então, um chope sempre cai muito bem”, disse Daniel.

Food trucks são definidos como um espaço, uma cozinha móvel, de pequenas dimensões, sobre rodas, que comercializa e transporta alimentos, de forma itinerante. A sua popularização tem se dado através do preparo de comidas gourmet, ou seja, de alta qualidade, reservada a paladares mais refinados e a experiências gastronômicas mais elaboradas.

Os próprios empreendedores começaram a sentir a necessidade de organizarem-se em uma associação, devido ao crescimento da prática. Dessa forma, facilitaria a possibilidade de receberem incentivos da prefeitura para a realização de eventos, segundo informou Rodrigo Prado, empresário e administrador. Rodrigo também é o presidente da Ascor (Associação de Comida de Rua).

São 18 food trucks associados à Ascor, que participam do Circuito Papa Xibé de food trucks, circuito oficial de festivais e eventos de food trucks em Belém. “A maioria das pessoas já conhecem o circuito, que acontece em praças, estacionamentos de shoppings, estacionamentos privados e eventos em geral”, disse o presidente da Ascor. Durante os circuitos, existem convidados que não participam da associação, a qual possui poucos membros por primar pela qualidade e não pela quantidade.

Incentivos - A Ascor recebe grande apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que é um serviço social autônomo brasileiro, parte integrante do Sistema S, que objetiva auxiliar o desenvolvimento de micro e pequenas empresas, estimulando o empreendedorismo no país. Também recebe o apoio da prefeitura de Belém, por meio de secretarias como a Secon (Secretaria Municipal de Economia), Semma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) e SeMOB (Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém). Devido ao reconhecimento do trabalho que vem desenvolvendo a associação, a prefeitura a contatou para expedir o decreto de regulamentação dos trailers.

Rodrigo Prado é proprietário do Orégano Creperia Food Truck. Inaugurou um ponto fixo recentemente e participa dos eventos do Circuito Papa Xibé com seu trailer. Oferece um produto diferenciado, sendo um dos precursores do comércio de crepe na cidade. Comercializa desde um crepe gourmetizado com cebola caramelizada, filé com gorgonzola e molho barbecue artesanal, e borda de parmesão, até um simples crepe de queijo, presunto e orégano, um dos preferidos de sua clientela. O que o motivou a investir no ponto fixo foi a crescente demanda de clientes. Outro aspecto foi a segurança. “Infelizmente, a segurança pública ainda é ineficaz. Acho a rua muito perigosa para se trabalhar”, pontuou Rodrigo, evidenciando a desvantagem de atuar na rua, de forma independente, fora dos eventos gastronômicos.

O vice-presidente da Ascor, Renato Nogueira, proprietário do trailer Panquek e Cia, afirma que muitos dos empreendedores começaram a investir em food trucks por terem ficado desempregados, apostando numa ideia que estava se tornando algo viável nos grandes centros do eixo Rio-São Paulo.

Planejamento - Embora seja um negócio promissor,  há casos em que os novos empreendedores fazem empréstimos para viabilizar um food truck sem obter êxito, ficando endividados. Nogueira acredita que vai durar no mercado aquele empresário que fidelizar um ponto fixo, paralelo ao food truck. Dentre os fatores que acarretam essa instabilidade, podemos citar a crise financeira que assola o país,  a grande concorrência no ramo dos sanduíches, ocasionando um inchaço no mercado.  “De cada 10 food trucks, 9 são sanduíches, poucos estão indo buscar uma proposta diferente, algo inovador. Ainda que sejam sanduíches artesanais, de grande qualidade, o espaço está acabando”,  alertou Nogueira. Um terceiro fator que pode incorrer no insucesso do empreendimento é a falta de planejamento do empresário. Precisa-se fazer um estudo prévio de mercado, ter conhecimento da área financeira e da logística necessária.

Decidido a investir no ramo das panquecas, Nogueira apostou em algo inovador, ficando surpreso com os resultados das vendas. “Assim que estava tudo pronto, confesso ter ficado apreensivo, pois quem vai comer panqueca em um evento onde tem sanduíche de todos os tipos, sushi, crepe e os mais variados alimentos? Foi uma grata surpresa a aceitação do público”, disse o dono da Panquek e Cia.

Nogueira apostou em um cardápio diversificado: panqueca de carne com catupiry, charque, camarão rosa, frango com salame, escondidinho de macaxeira com maminha desfiada, paraense (feita de camarão salgado, com molho de tucupi e jambu e é uma das mais procuradas). A inspiração para criação de panquecas que fugissem do trivial veio de viagens em família e tentativas acertadas de receitas inovadoras feitas por sua esposa.

Em seu ponto comercial, Nogueira oferece onze sabores de panquecas, enquanto que nos eventos trabalha com cinco sabores, pois a demanda é muito grande, sendo inviável um número maior. Foi criada uma logística, com orientação de uma nutricionista, na qual é executado todo o prato: massa e recheio são montados, depois embalado e congelado, sendo hidratado com um molho feito no dia. No trailer, os pratos são aquecidos no micro-ondas e de lá são servidos aos clientes. Dessa forma, as chances de contaminação são de 0%.

Iury Alvares Pinto, servidor público, é associado da Ascor, e investiu, inicialmente, em um trailer voltado para massas. Isso se deu pelo fato de seu sócio já possuir um ponto que funcionava em um dos shoppings da cidade, onde era feita a produção do food truck. Começou a participar dos circuitos até a saída de seu sócio devido a problemas financeiros. Foi então que decidiu mudar o ramo de sua atividade para a venda de sushis, que era seu intuito desde o início, abrindo o Seikou Sushi. “Pretendo investir bastante na divulgação da marca, através das redes sociais, e fazer com que as pessoas conheçam a qualidade do nosso trabalho, para quando abrir um ponto fixo já ter uma clientela formada”, informou Iury, que tem a intenção de ter um ponto fixo e continuar com o trailer para eventos. Iury esclarece que toda a produção é feita por ele próprio, em sua residência, como o arroz, os molhos, o camarão etc., que depois são levados para o sushiman apenas montar.

Wallace Jones, funcionário do Seikou Sushi, considera a experiência de trabalhar como sushiman em um food truck enriquecedora. Para ele, que sempre foi sushiman de grandes restaurantes, e tinha contato com uma clientela de alto poder aquisitivo, agora chegou a oportunidade de estar diante de um público heterogêneo. Wallace afirma que o sushi atrai um público jovem, inclusive crianças. “Quando se trabalha dentro de um trailer é possível oferecer aos clientes um produto com uma qualidade muito boa, não com uma vasta variedade, mas com a qualidade que o cliente exige”, pontua o sushiman.  “O food truck de sushi é bem equipado e oferece todo o material necessário dentro de uma cozinha para a confecção das peças”, finaliza.

Ambiente - O casal de namorados Ana Paula Lobato, estudante, e João Capelari, autônomo, busca sempre fazer programações diferentes e acha os circuitos de food trucks uma ótima opção. “A gente sempre tenta fugir do marasmo que são os restaurantes. Estamos aqui com nossa cadela, e, por ser um ambiente aberto, temos a opção de trazê-la”, disse Ana Paula. “Acho genial e inovadora a ideia de colocar carros de lanches espalhados pela rua que ofereçam alimentos com uma característica gourmet, o que atrai o público. Outra coisa que tem atraído as pessoas é o fato de ser um ambiente espaçoso, agradável para estar com os familiares, degustando uma comida de qualidade”, disse João, dando ênfase ao ambiente familiar.

Syanne Neno, jornalista esportiva, considera que atualmente, nos eventos de food trucks, a variedade que se encontra é muito maior do que a que se encontrava em eventos ocorridos há algum tempo. “Esse é o grande chamariz para as pessoas, é poder encontrar, em um mesmo lugar, risotos, fast foods, chopes, enfim, uma grande variedade de refeições em um mesmo lugar. Além disso, a Polícia Militar está sempre passando e fazendo a ronda, o que faz com que seja um ambiente seguro e uma ótima opção para ir com a família, segura e com muitas opções”, esclarece a jornalista.

Eventos como o circuito de food trucks é muito bom para famílias que tenham crianças, tendo o diferencial de não ser um ambiente fechado. Daniel Araújo é pai de duas crianças pequenas e considera um bom local para que eles possam correr e brincar, como se fosse a praça de alimentação de um shopping, mas em um lugar mais agradável.

Belém é uma capital que possui um alto índice de problemas sociais, sendo um deles o abandono da cidade. Um evento de food trucks, ao juntar um grande número de pessoas, acaba por ocasionar a ocupação de certos locais. “Uma praça como essa, sábado à noite, se não tivesse um evento como esse, com iluminação, com pessoas participando, estaria, simplesmente, às escuras, sendo um espaço para a violência, assaltos, e marginalidade”, opina o professor de direção de arte Robson Macedo.

Por Carol Boralli.

 

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