Com literatura e música, jovens descobrem o "eu poético"

Casa da Linguagem, em Belém, oferece oficinas para a comunidade como incentivo às diferentes formas de expressão artística

seg, 21/05/2018 - 17:45

“O que eu busco nas minhas oficinas é a experimentação como um próprio acontecer poético”, disse Mayara La-Rocque, instrutora da Casa da Linguagem. A instituição é referência em promover cursos de linguagem verbal e não verbal para um público que tem carência de informação e de formação.

Incentivar a leitura é o principal objetivo da Casa, e eles procuram melhorá-la de diferentes formas por meio das oficinas. Fazem parte dessa integração: a charge, cartum, crônica, nota de jornal e trechos de romance que visam estimular o aprendizado. “Partimos do princípio de que ninguém aprende a escrever se não ler. Não existe a escrita sem leitura”, afirma Wilson Moraes, técnico em gestão cultural na instituição há oito anos.

A visão da instituição é bem clara e busca resgatar um teor artístico que em muitos casos, por conta do currículo rígido do ensino médio, não é tão explorado. “As oficinas que eu proponho são de escrita criativa, elas estão vinculadas a intepretação e produção de texto. Então basicamente trabalho com escritores da literatura universal, e que possibilito para o participante esse contato com a leitura. E a partir da leitura, a gente vai tecendo várias reflexões do que é a linguagem, das formas como ela pode se apresentar. A gente discute questões de estilos e os pontos de reflexão que uma obra pode trazer e o que isso repercute no processo criativo de cada um”, explica Mayara.

A leitura não é a única proposta. Cerca de 50% das oficinas são destinadas às artes cênicas, música, dança e desenho. Apesar do espaço não ter público definido, a maior parte dos frequentadores são jovens, entre 12 e 20 anos, que buscam formas alternativas de expressão. Esse grupo é refletido na pesquisa do Portal Educacional que aponta para mais da metade (54%) dos jovens do 3º ano do ensino médio não terem um curso de ensino superior definido. A casa tornou-se um lugar onde o estudante pode se encontrar e ampliar os horizontes para outras possibilidades.

Leonardo Miranda, que está no 3º ano do ensino médio, teve a oportunidade de participar da oficina preparatória para o ENEM graças à Casa da Linguagem. Os objetivos do jovem são claros: “Desenvolver a parte da escrita, a parte verbal. Estou no último ano do ensino médio e eu vou fazer o ENEM ‘valendo’, com objeto de ingressar na faculdade como UFPA e UEPA”.  Além disso, ele opina sobre os outros projetos desenvolvidos pela instituição: “Os cursos ofertados pela instituição, na área de linguagem e nas outras áreas de artes cênicas, contribuem para o desenvolvimento de jovens e adultos interessados em cultura”.

 A Casa da Linguagem é parte da Fundação Cultural do Pará, que aposta também em artesanato. No local pode-se encontrar diversas produções dos alunos. Estes têm a oportunidade de expor seu trabalho e até mesmo, caso se identifiquem com a área, produzir tais materiais para a venda.

Seguindo o formato usado no artesanato, cada oficina da Casa da Linguagem promove saraus, em que os alunos apresentam os trabalhos realizados. São apresentações musicais, dança, teatro, recitais e escrita. Na parte de escrita há os fanzines, livros artesanais sem fins lucrativos, que são pequenas coletâneas de poesias. Esses livrinhos têm por objetivo dar um olhar poético na escrita dos alunos, que por vezes está enraizada nos textos dissertativos.

 Mesmo com todo o esforço, nem sempre os projetos do espaço recebem bons investimentos ou nem são divulgados de forma correta. Boa parte da comunidade não conhece e quando toma ciência, às vezes, não consegue se inscrever pelo número limitado de vagas. Robson Cavalcante, que é voluntário civil, por exemplo, tentou participar da oficina de desenho e não conseguiu: “Eu procurei fazer curso na Casa da Linguagem, só que as vagas são limitadas. São cursos longos com público grande, por isso quando fui ao local não consegui me inscrever”.

As dificuldades existem. Porém, visitar a Casa da Linguagem é estar em um ambiente acolhedor. Max Martins, poeta paraense e primeiro diretor da instituição, que morreu em 2009, é figura importante que inspira a organização do projeto. “A Cabana”, obra do autor, exemplifica a base sólida do lugar e os caminhos oferecidos àqueles que participam dessa experiência:

 "É preciso dizer-lhe que tua casa é segura

Que há força interior nas vigas do telhado

E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo

E que tens uma esteira

E que tua casa não é lugar de ficar

mas de ter de onde se ir."

Por Bruna Oliveira, João Paulo Costa, Márcio Gomes, Allisson Queiroz.

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