Festas virtuais +18 divertem e quebram tabus na quarentena
Eventos com música, sexo e todo tipo de fetiche têm feito a cabeça, literalmente, de seus frequentadores
Sexo e internet sempre andaram de mãos dadas. A possibilidade de vivenciar os mais inusitados fetiches com o conforto do anonimato transformou a rede mundial em lugar (quase) seguro e fértil para pessoas de qualquer gênero, classe social e localização geográfica curtirem suas preferências. Salas de chat, sites eróticos e pornográficos, e encontros virtuais sempre existiram, no entanto, a quarentena parece ter dado novo gás a esse segmento, além de ter ampliado as opções daqueles que usam a rede para satisfazer seus desejos.
Com o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, as relações afetivas ficaram bastante comprometidas. Confinadas em casa, as pessoas passaram a recorrer ainda mais à grande rede mundial, para vivenciar suas experiências com o outro, inclusive as sexuais. Para se ter uma idéia, só o site do canal Sexy Hot apresentou um crescimento de 500% no primeiro semestre de 2020.
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Nessa busca por prazer e, por que não, pelo fim da solidão - ainda que por alguns instantes -, tem rolado de tudo: sexting, aplicativos de relacionamento, sites pornô, apps de compartilhamento de nudes, e as festas eróticas via Zoom. Essas últimas, além de servirem como cano de escape para quem está entediado na quarentena, também têm se mostrado como ferramenta para a expressão livre da sexualidade dos participantes além de uma espécie de laboratório para as novas modalidades de intimidade.
Já são várias as festas '+18' que têm acontecido na internet. Sento Mesmo; Hot, exclusiva para travestis, crossdressers e drag-queens; e até as promovidas pelo famoso Killing Kittens, clube erótico com quase 200 mil membros espalhados pelos Estados Unidos e Europa. No próximo sábado (10), acontece a Saliente, que em sua quarta edição antecipa o Dia das Bruxas e promove um 'agito' temático.
Na descrição do evento, no site Sympla, onde são vendidos os ingressos, a descrição explica o que é permitido durante a festa: “Dançar, se exibir, transar ou apenas assistir”. A produtora Tami Chagas, que promove a festa, explicou, em entrevista ao LeiaJá, como funciona: "Nas chamadas a gente deixa claro que a festa é de putaria sim, porém que prezamos, acima de tudo, pelo respeito. Informamos que não temos como garantir a privacidade de ninguém, porém que contamos com o bom senso de todes, afinal, se está ali é porque também gosta de putaria, liberdade e por privacidade (sic)."
Tami Chagas é a produtora da Saliente. Foto: Reprodução/Instagram
A última edição da festa contou com 130 pessoas (a capacidade máxima da plataforma é de 300), cada uma pela tela do seu computador, saciando seus desejos e vivendo suas próprias aventuras sexuais; sem qualquer tipo de atrapalho ou incômodo. Para Tami, esse tipo de evento pode ser, para além da diversão, uma ferramenta para a mudança de paradigmas na sociedade e manutenção da própria auto-estima de quem os frequenta. "Depois que passei a frequentar essas festas e interagir com as pessoas que também frequentam, me senti bem mais livre pra ser eu mesma, me senti acolhida e vi que não estava só no mundo. Que posso gostar de putaria e que isso não diminui em nada quem eu sou, muito pelo contrário, fez eu me conhecer e me aceitar mais ainda (sic)".
Mesma opinião tem Babi Lima, a DJ Babilônia - que integra o line up desta edição da Saliente. Para ela, esse é um verdadeiro "experimento social". Além de trabalhar, a DJ também é frequentadora de festas eróticas e entende a experiência como algo "libertador". "A gente chega com muitas coisas na cabeça sobre sexualidade, sobre sua imagem. (Ali) você se vê como uma pessoa humana, que tem necessidades, tem gostos particulares, fetiches, e pode realizar isso com respeito e bom senso. Essa é a grande lição que a gente vai aprendendo na primeira festa, da segunda em diante a gente já quer construir isso de uma forma mais diferenciada".
Já sobre tocar em um evento desse tipo, a DJ Babilônia diz que bebe em suas memórias afetivo-sexuais para colocar 'fogo' na pista virtual. "Botar som para a galera transar ao vivo, dentro de uma sala virtual, para as pessoas sensualizarem ou apenas apreciar a movimentação das outras pessoas, como é isso, né? Eu particularmente uso da minha memória afetiva, das coisas que me fazem viajar sexualmente, esse feeling que a gente tem naturalmente, tento resgatar isso para colocar numa linha de raciocínio musical".
Tabu
A DJ Babilônia divide a line da festa com outras sete DJs mulheres. Foto: Reprodução/Instagram
Mesmo sendo algo intrínseco à natureza humana, o sexo ainda é cercado de vários tabus dentro na sociedade. Um dos motivos para promover e participar das festas eróticas, segundo Tami é contribuir para a naturalização da diversidade de gostos, corpos, e necessidades entre os indivíduos. "Tesão é individual e deve ser respeitado e normalizado. Todo mundo faz sexo, todo mundo tem fantasia mesmo que seja a mais 'besta' ou simples e as pessoas agem como se sexo fosse algo absurdo e de outro mundo. Todo mundo tem órgãos sexuais ué. Uns usam e outros não, só respeitar cada um e tá tudo bem".
A DJ Babilônia complementa o raciocínio. "O objetivo é se entender como seres humanos, como seres sexuais e entender que entre quatro paredes há um universo que pode dialogar, não apenas fisicamente, com o prazer. Sexo é mais que um ato para procriar, mais que o momento de prazer de um casal, sexo é satisfazer os sentidos humanos".
Prazer feminino
Essa busca por quebra de paradigmas, libertação e naturalização do sexo passa também pelo lugar da mulher nesses novos modelos de relação afetivo-sexual. Elas estão cada vez mais apropriadas de seus desejos e necessidades e não mais ocupam apenas o lugar de acompanhantes ou observadoras como estão tomando posse da sua atuação nesse espaço. A exemplo da própria Tami que produz a Saliente e da DJ Babilônia, que nesta edição do evento divide a line - exclusivamente feminina -, com outras sete DJs de todo o Brasil.
Tanta mão de obra feminina, a propósito, não é obra do acaso. "Significa que a cada dia estamos nos libertando de tudo aquilo que a sociedade tenta nos travar, que somos muito foda e que temos muito a ensinar para os homens sobre liberdade sexual e que isso vai muito além de sexo, é sobre se conhecer, se aceitar, se respeitar, se dar prazer e poder dar prazer ao outro e de diversas formas (sic)”, afirma a produtora Tami.
Serviço
Saliente Festa - Sentada de Bruxona
Sábado (10) - 23h
Através do Zoom