A paixão na palavra: o centenário de Clarice Lispector

Escritora e jornalista se tornou uma referência literária e voz feminina que ecoa no universo das letras

seg, 14/12/2020 - 19:25
Acervo IMS Clarice Lispector: escritora, jornalista e referência mundial Acervo IMS

A literatura brasileira - e também a mundial - celebra neste 2020 o talento de Clarice Lispector. A história de uma das maiores escritoras do século XX começa em 10 de dezembro de 1920, em Tchechelnyk, na Ucrânia. E continua no Brasil, onde Clarice conheceu a língua de sua grande expressão, na qual deixou o seu legado em palavras. O mês de dezembro também testemunhou a derradeira viagem de Clarice, no dia 9, em 1977, no Rio de Janeiro.

O Brasil de 1922 testemunhava os horrores da 1ª Guerra Mundial. Nesse cenário apocalíptico, a luz faria nascer “A hora da estrela”. Esse é o título da última publicação da ucraniana Haia Pinkashovna, que ao desembarcar em terras brasileiras, em 1922, torna-se Clarice Lispector.

A família, de origem judia, instala-se, a princípio, na capital alagoana, até o instante em que o pai de Clarice leva a esposa e filhas para o Recife (PE). Nesta cidade, Clarice despede-se da mãe, Marieta, que morre em 1929, vitimada pelas sequelas dos atos sofridos na terra de origem.

Pedro Lispector decide, então, migrar para o Rio de Janeiro, na esperança de encontrar melhores chances de trabalho e viver mais tranquilamente em companhia de suas três filhas. Começava-se a escrever mais um capítulo na vida da futura jornalista e consagrada escritora.

Aos 23 anos, Clarice casa-se com o diplomata Maury Gurgel Valente, e dessa união nascem Pedro e Paulo, pelos quais a escritora sempre declarou profundo amor materno. Os filhos são também o motivo de Clarice adentrar no universo da literatura infantil e lançar “O mistério do coelho pensante”.

Clarice causara impacto logo ao lançar seu primeiro romance, "Perto do coração selvagem”, e seria um dos nomes a revolucionar o panorama literário dos anos quarenta. Incompreendida por uns, silenciando outros, seguiria a encantar o Brasil e o mundo.

Sua formação leitora recebeu as vozes de Tolstói, Kafka, Hesse, Flaubert, Machado de Assis, Shakespeare, entre outros expoentes da literatura universal. A romancista, além da língua materna, o iídiche, dominava as línguas francesa, italiana, inglesa e a língua portuguesa, em que escreveu diversos títulos: “A paixão segundo G.H.”, “Enigma”, “Ideal burguês”, “A quinta história”, contos, poesias, cartas e crônicas.

Clarice Lispector viajou o mundo ao acompanhar o esposo diplomata nas diversas missões exigidas pelo Itamaraty. Teve suas publicações traduzidas em diversos idiomas e editadas em mais de 30 países.

Em 1940, o Pará recebia Clarice, que durante seis meses permaneceu em Belém, onde conquistou a amizade do professor Francisco Paulo Mendes, com quem manteve diálogo constante e foi o articulador dos encontros literários nos quais a jovem romancista pôde conversar com o público local.

Também é paraense um dos mais renomados estudiosos de sua obra, o filósofo Benedito Nunes, que publicou “O drama da linguagem – uma leitura de Clarice”.

Clarice Lispector permanece eternizada em cada leitor, torna-se assunto de amplas discussões tanto entre especialistas quanto entre leigos. Recebe homenagens e os títulos de sua autoria convertem-se em filmes, musicais e inspiram outras obras.

O Brazil LAB, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, criou a Biblioteca Sonora Clarice 100 Ears. No Brasil, o cineasta F. de Carvalho produziu o filme “A paixão segundo G.H".

A escritora também é tema dos publicados “Clarice, uma vida que se conta”, de Nádia Battella Gotlib, e “Clarice, uma biografia”, de Benjamin Moser.

Os artistas Moreno Veloso, Beatriz Azevedo, Jaques Morelenbaum e Marcelo Costa criaram o show "Agora Clarice", com a participação da cantora  Maria Betânia.

No último 10 de dezembro, exato dia de seu nascimento, foi transmitida pelo Instagram a live do projeto "Clarice Belém", para celebrar o centenário de Lispector.

Entrevistada pelo Portal LeiaJá, a professora Salier Castro, do Centro de Formação de Professores da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR), disse que ler Clarice é importante não somente para conhecer a obra da escritora, como também sua postura como jornalista, esposa e mãe: "(Clarice) nos convida a olhar para dentro de nós. Penso que estamos necessitados disso. Seus cem anos são um presente para o leitor.”

Estudante de Pedagogia, Adriano do Vale Pereira revela sua admiração pela escritora: “Minha professora de literatura e redação pediu uma pesquisa sobre  Clarice. Eu estava no Ensino Médio. Fiquei encantado em saber que ela morou em Belém e gostei muito de ler seus textos. Clarice permanece em minha memória”.

Clique no ícone abaixo e ouça a leitura de textos de Clarice Lispector na voz de Rosângela Machado.

Mais informações: 

Instituto Moreira Salles (IMS)

Por Rebeca Costa, Rosângela Machado e Quezia Dias. 

 

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