Cultura PE Digital promove live sobre Confraria do Rosário

Programa será exibido nesta terça, às 19h, nos canais da Secult-PE

ter, 28/12/2021 - 16:28
Val Lima/Secult-PE/Fundarpe Confraria do Rosário Val Lima/Secult-PE/Fundarpe

A Confraria do Rosário é uma irmandade que existe há mais de 200 anos na cidade de Floresta, sertão de Itaparica de Pernambuco. É formada por famílias de homens e mulheres negras que vêm mantendo a tradição de levar adiante uma celebração que se insere nos festejos do Ciclo Natalino. Trata-se de uma festa no dia 31 de dezembro que, celebrando Nossa Senhora do Rosário, realiza a coroação de um rei e uma rainha, como forma de mostrar aos não negros e aos brancos que, apesar de terem sido escravizados, o povo negro carregava sangue real.

O calendário tem início já no dia 22, com uma procissão de Nossa Senhora do Rosário e do padroeiro de Floresta Bom Jesus dos Aflitos. No dia 24, acontece o hasteamento da bandeira de Nossa Senhora do Rosário em frente à igreja do Rosário; no dia 31, a missa com a coroação do Rei da Rainha do Congo e, no dia 1º de janeiro, o encerramento, com um procissão de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Bom Jesus dos Aflitos.

“Existe todo um calendário religioso de festividades, que chega ao fim no dia 31 de dezembro, único dia em que os negros escravizados tinham livre nas fazendas de Floresta. Nossa irmandade é composta por 65 integrantes, entre homens e mulheres. Temos organização jurídica e religiosa, onde temos o rei e a rainha perpétua, a juíza do rei e a juíza da rainha, os juízes dos andores, das espadas e dos altares e os confrades e confreiras que fazem parte da organização religiosa”, conta João Luiz da Silva, rei perpétuo e também presidente da Confraria.

A tradição que a Confraria repassa geração após geração remonta a uma antiga história do catolicismo, que narra sobre a aparição de uma imagem de Nossa Senhora do Rosário num mar do continente europeu, onde havia um intenso comércio de escravos. Os portugueses teriam tentado retirar a escultura do local, mas somente quando os moçambicanos chegaram à praia, batendo os seus tambores e lhes pedindo proteção, a imagem se soltou e foi levada pelas ondas até a areia. A partir de então, a santa passou a ser considerada a madrinha dos negros que, quando chegaram ao Brasil colonial, passaram a cultuá-la em diferentes partes do país.

Em Floresta, a Confraria do Rosário é uma dessas instituições ancestrais que permanecem até hoje comandando a festa para a santa, sempre no dia 31 de dezembro, como manda a tradição local. “O dia de Nossa Senhora do Rosário, na verdade, é 7 de outubro, mas os negros daqui só tinham livre o dia 31 de dezembro, por isso, a coroação foi deslocada”, explica João Luiz Silva.

O cortejo da coroação é uma das coisas mais lindas de se ver, garante ele. Acompanhado por uma banda de pífanos, os homens e mulheres saem às ruas cantando hinos e benditos que misturam o português com alguns dialetos africanos que João Luiz não sabe precisar quais sejam. “A gente não tem a origem dessas músicas, que vêm sendo passadas de geração em geração e têm algumas palavras em língua africana”, conta.

Nesta terça (28), às 19h, a Secretaria de Cultura de Pernambuco promove em seu canal no Youtube uma live que vai falar sobre a tradicional celebração da Confraria do Rosário. Além de João Luiz, o bate papo vai contar com a participação de Manoel Cassiano de Barros Neto, mais conhecido como Jubileu. Ele é o juiz das espadas, e o espadachim mais velho da Confraria. “Sou herdeiro de Manoel Preto, um homem de muita importância para a Confraria e que me passou a função de organizador das espadas e das vestes, para que se cumpra o dever dos guardiões do rei e da rainha”, conta Jubileu.

Serviço

Live “Ancestralidade - A Confraria do Rosário como Patrimônio Vivo de Pernambuco”

Quando: 28 de dezembro de 2021 (terça-feira), às 19h

Transmissão: YouTube | Facebook

Da assessoria

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