Documentário mostra realidade de crianças quilombolas
“Ressignificando a identidade na Infância” retrata a comunidade Abacatal, em Ananindeua, no Pará, e será exibido no Canal Futura
Nesta terça-feira (15), às 19h45, o Canal Futura vai transmitir o documentário “Ressignificando a identidade na Infância”, em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Com direção da jornalista e produtora de audiovisual Ariela Motizuki, o filme retrata a história de Jorge e Ana Luísa, crianças quilombolas da comunidade Abacatal, em Ananindeua, município da Região Metropolitana de Belém, no Pará.
A proposta do documentário é falar sobre exemplos de parentalidade na primeira infância na Amazônia, diz Ariela. Por meio da convivência com pais, avós e professores, as crianças do Abacatal revelam uma íntima relação com a natureza.
“[O documentário] foi pensado por duas equipes, uma aqui do Pará, que é a Mazô Filmes, da qual eu faço parte atuando como documentarista, e a outra é a Lab Cine, que atua em Teresina”, informa Ariela. A jornalista afirma que, por conhecer o Abacatal, o trabalho dela é focado em contar narrativas da Amazônia, mostrando como é a infância dentro de um quilombo que tem muita história de resistência e como eles repassam a identidade quilombola atualmente.
Ariela relata que o processo de produção do documentário foi desafiador, primeiramente por ter ocorrido em um período pandêmico, e durou mais de um ano, sendo gravado apenas no fim de 2021. A jornalista destaca que trabalhar com crianças foi outro desafio. “Eram crianças pequenas, então tem que ter uma direção diferenciada para falar com elas, mas obtivemos um bom resultado, até porque uma das nossas personagens é extremamente comunicativa”, conta.
A diretora aponta o acesso ao quilombo do Abacatal como um dos obstáculos para as gravações. Para chegar até lá, é necessário passar por uma estrada de terra. Com a chuva, o deslocamento fica mais difícil. “O sinal de internet lá é ruim, então às vezes, para a gente falar com eles algo simples, como marcar a hora da gravação, a gente precisou ter que se deslocar para lá”, complementa.
O que mais chamou a atenção de Ariela na comunidade, segundo ela, foi a relação com o espaço, com a terra, e como isso é importante para a identidade da população. “Aprendi muito durante o processo de produção”, acrescenta.
Ariela também fala sobre a importância de mostrar a realidade dessa comunidade por desmentir o estigma que muitas pessoas têm de que a primeira infância dentro de um quilombo é “diferente”. A jornalista explica que as diversidades existem, mas lá é onde as crianças se sentem pertencentes e onde os pais delas se sentem à vontade para criar os filhos.
Ao falar sobre as crianças, Ariela comenta que elas possuem algo em comum: amar o fato de crescerem dentro do quilombo. “A gente se tornou muito próximo deles na gravação, inclusive ensinamos a mexerem na câmera e fotografarem”, relembra. Para a diretora, o documentário permitiu a compreensão do que a luta quilombola representa para o Estado do Pará.
Essa é a terceira produção de Ariela para o Canal Futura. Ela destaca que o reconhecimento é gratificante. “E o mais importante: ver narrativas da Amazônia sendo contadas por produtores paraenses em um canal com esse tipo de visibilidade é muito importante para mim”, conclui.
Por Isabella Cordeiro.