De portas fechadas, Cinema Olympia completa 110 anos
Localizada na praça da República, na região central de Belém, uma das salas de exibição mais antigas do Brasil faz aniversário neste domingo, à espera de reforma. As sessões estão suspensas desde 2020.
Um dos maiores símbolos culturais da capital paraense, o Cinema Olympia completa, no domingo (24), 110 anos. Construído no auge do cinema mudo e da Belle Époque paraense (período de influência francesa nos costumes e na cultura de Belém, durante o chamado Ciclo da Borracha, no final do século XIX e início do século XX), o Olympia permanece fechado há dois anos para obras que não se iniciaram.
Segundo o presidente da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), Michel Pinho, o cinema continua de portas fechadas devido às condições em que foi recebido pela gestão do prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), com problemas sérios em relação ao telhado e ao forro do espaço, colocando em risco a presença dos espectadores.
Michel Pinho diz que medidas já estão sendo tomadas para a revitalização do cinema. “A Fumbel, a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), e a Prefeitura de Belém como um todo, estão nesse momento planejando a ação emergencial que vai entrar nos próximos dias, para a gente ter novamente o Olympia funcionando”, afirma.
Pinho informou que o espaço deve ser reaberto ainda neste ano. “Iniciando a reforma emergencial agora em abril, queremos acreditar que até o final do primeiro semestre, no mais tardar no início do segundo semestre, a gente já tenha o cinema funcionando normalmente”, diz.
A jornalista paraense Dedé Mesquita publicou recentemente em sua página no Facebook a insatisfação em relação ao descaso com o Cinema Olympia e criticou a atual administração do local. Em entrevista ao LeiaJá Pará, Dedé falou sobre a relação antiga que possui com a sala de projeção, que é uma das mais antigas do Brasil, motivo do qual se orgulha muito.
A jornalista destaca que o Olympia é a única sala de cinema “de rua” em funcionamento em Belém e uma das mais raras que existem no País, sendo de total importância para a cultura local. Dedé voltou a criticar a gestão do espaço e disse ter recebido vídeos que mostram a situação em que o cinema se encontra. “Há infiltrações, mofo, goteiras, tudo porque o cinema está fechado há dois anos e nada foi feito pela Prefeitura de Belém, que o administra, para tentar uma reforma que está sendo muito necessária”, descreve.
Em 2006, o Olympia quase foi vendido a uma loja, relembra Dedé. Após um protesto, o então prefeito de Belém, Duciomar Costa, firmou um compromisso com o público e o cinema passou a ser administrado pela prefeitura. “Só espero que essa gestão atual honre esse compromisso e não deixe o cine Olympia se perder”, diz.
O presidente da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), Marco Antônio Moreira, ex-programador da sala, recorda que o Olympia foi, durante muitos anos, a sala de cinema mais luxuosa de Belém e exibia filmes e cinejornais brasileiros e de vários países, especialmente da Europa.
O Cinema Olympia, como explica o cinéfilo, foi criado inicialmente para a classe mais rica de Belém. No entanto, tornou-se uma sala aberta a todos os públicos. “Desse modo, conseguiu contribuir por meio dos filmes exibidos com mudanças culturais e comportamentais em diversos públicos”, afirma.
Marco Antônio acredita que o incentivo à diversidade cultural é sempre importante e que merece ser estimulado em todas as áreas artísticas, para que haja o crescimento intelectual de todos os públicos. Assim como Dedé Mesquita, o cinéfilo também espera que as atividades do cinema retornem o quanto antes.
Além disso, Marco Antônio afirma que é importante o poder público manter e criar novas parcerias com instituições públicas e privadas para fortalecer o trabalho cultural que é feito no Cinema Olympia, desde 2006. Ele também destaca que é necessário prestigiar o cinema e a programação de modo presencial e remoto. “Devemos valorizar o cinema Olympia que é um cinema mais antigo do Brasil em atividade”, conclui.
Um capítulo da História
O Cine Olympia tornou-se parte da história cultural da capital paraense. Em 1912, ano em que foi inaugurado, a cidade ainda era fortemente influenciada pela cultura europeia e o cinema era uma das maiores representações dessa relação. A sala foi considerada uma das mais luxuosas e modernas da sua época.
Quando o cinema quase fechou as portas, em fevereiro de 2006, artistas, produtores e a população de Belém reuniram-se para manter o local aberto. Sob a gestão de Duciomar Costa, a prefeitura de Belém impediu o fechamento do Olympia e a sala foi revitalizada, ganhando uma nova fachada, pintura e a revisão da estrutura do prédio.
Um ano depois, foi criado o projeto “A Escola Vai ao Cinema”, com a intenção de levar estudantes da rede pública municipal para conhecer a sétima arte e utilizá-la de forma pedagógica. Vários alunos dos ensinos infantil, fundamental e médio foram beneficiados pela iniciativa.
O Cine Olympia é considerado essencial para o fomento da cultura, do conhecimento e lazer, exibindo filmes nacionais e internacionais. Além disso, o espaço é utilizado para a realização de simpósios, debates e seminários, entre outros.
O presidente da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), Michel Pinho, ressalta que o Olympia é fundamental para a discussão acerca da cultura cinematográfica e da cultura de Belém, de uma forma geral, considerando a longevidade da sala de projeção e a sua atuação nesse âmbito.
Com a previsão de reabertura do espaço para o segundo semestre de 2022, existe também a promessa de novos projetos. “Abrindo o cinema normalmente, a gente vai ter dois tipos de atividades, não só a exibição de audiovisual dentro do espaço, mas também atividades fora do cinema, com o Cinema Olympia itinerante, para comunidades, escolas, ilhas e distritos de Belém”, afirma Pinho.
Por Isabella Cordeiro, Rodrigo Sauma e Clóvis de Senna (sob supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).