Pelo cinema, Retratos Fantasmas resgata memórias do Recife
Novo filme de Kleber Mendonça Filho tem pré-estreia nesta terça-feira
Em seu discurso na vitória do Oscar de Melhor Filme, Bong Joon-ho, diretor de Parasita, citou uma frase atribuída por ele a Martin Scorsese: 'o mais pessoal é o mais criativo'. Há obras que, mesmo autobiográficas, fazem com que memórias perdidas sejam recuperadas, ainda que o que surja na tela sejam as lembranças e experiências de vida de outra pessoa.
Com Retratos Fantasmas (2023), o pernambucano Kleber Mendonça Filho (Aquarius, Bacurau) recorda um Recife que lhe moldou como fã e realizador de filmes, mas que também é parte do imaginário popular de várias gerações. E essa é uma mistura perfeita.
A época de ouro e a decadência dos cinemas de rua costuram o antes e o hoje do centro da cidade, mas, como era de se esperar, não assistimos a uma simples “declaração de amor ao Recife” ou “uma viagem no tempo”. O significado que essas clássicas salas de exibição têm para a capital pernambucana vai além de um empreendimento cultural que deixou saudades.
Quando as imagens de arquivos surgem na tela, mostrando os nomes Trianon, Art Palácio, Moderno, é como rever velhos amigos. Talvez, um dia, os mais novos sintam o mesmo com o letreiro do São Luiz, único ainda de pé, infelizmente funcionando a duras penas.
Mas como fazer com que essa visão particular alcance pessoas que não viveram tal época ou sequer pisaram no Recife? Tornando o contexto universal. Mostrando como o fluxo de dinheiro saindo de uma localidade para outra deixa estragos, inclusive no segmento cultural.
Os cinemas não fecharam porque o público enjoou da sétima arte, mas sucumbiram a novos valores capitalistas, incluindo aí uma espécie bizarra de “especulação imobiliária pentecostal”. Sim, salas populares viraram templos em várias cidades do país e no Recife não foi diferente.
Porém, vamos parar. É claro que não existem spoilers em um documentário, mas entrar em detalhes do que é mostrado em tela acabaria estragando boa parte de Retratos Fantasmas. E ninguém vai fazer isso aqui, porque 'cinema é a maior diversão'