O Huracán e a bipolaridade argentina

Torcidas hermanas, como a do adversário do Sport desta quarta-feira (30), alternam entre cantos emblemáticos e condutas violentas

por Fernando Sposito ter, 29/09/2015 - 19:01
Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo Torcida do Huracán fez muito barulho na Ilha do Retiro Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Dentre as torcidas da Argentina, o apoio incondicional aos seus times convive em paralelo com a violência. Panorama que não é exclusividade da terra de Maradona; é o comum na América Latina. Mas, no caso dos hermanos, sua atuação nos momentos de vibração é algo emblemático. Com o ‘gogó’ sempre em dia e os braços em constante movimento de estica-recolhe, eles cantam quando o jogo está favorável e não cessam os gritos mesmo nos momentos de declínio. Uma tradição que tem sua graciosidade comprometida ao ser levado em conta o perigo causado pelas uniformizadas às praças esportivas e seus arredores.

Em busca de vaga nas quartas de final da Copa Sul-Americana, o Sport viajou, nesta segunda-feira (28), justamente para a Argentina, onde enfrentará o Huracán, nesta quarta-feira (30), a partir das 22h, no Estádio El Palacio, em Buenos Aires. Em meio à delegação rubro-negra, não há clima de temor quando o assunto é ao tratamento que o time deverá receber em solo estrangeiro. Pela segurança, em geral, assegurada às delegações, Paulo Roberto Falcão e seus comandados esperam, basicamente, formas “leves” de pressão, como foguetórios perto de onde estão hospedados. E não se intimidam.

Acontece que a tranquilidade dos rubro-negros não apaga o histórico de violência do ambiente argentino. Nos principais veículos de comunicação hermanos, as cenas de perigo são contadas, sempre que necessário, em tom de alerta aos frequentadores de estádios. Repercussão que, por sinal, chega a ultrapassar os noticiários, alcançando as obras científicas acerca do terror.

De acordo com publicação do portal Yahoo, o antropólogo argentino José Garriga Zucal conviveu durante mais de quatro anos com a torcida organizada do Huracán. Foi um período de pesquisa que o fez escrever, com o entendimento do olhar de quem pratica violência, o livro “Haciendo amigos a las piñas” (em português, “Fazendo amigos a socos”). Título autoexplicativo que serve para ilustrar as conclusões que o autor apurou sobre a temática. Em entrevista à página, o profissional resumiu: “A legitimidade da violência é uma parte constitutiva do cenário do futebol na Argentina.”

Antes do jogo de ida entre o Leão e o Huracán, mesmo fora de casa, os torcedores argentinos comprovaram sua bipolaridade, alternando entre cantorias e atos de indisciplina. Antes do jogo, fizeram barulho na Ilha do Retiro, munidos de tambores e fantasias. Mas, nas arquibancadas, protagonizaram xingamentos mútuos com rubro-negros, e confrontaram a Polícia Militar. Inclusive, o visitante Nicolas Arias foi detido por arremessar cavalete em policial, sendo solto, posteriormente, mediante fiança de R$ 5 mil. 

Para o confronto decisivo de volta, fica para os leoninos a expectativa de uma estadia tranquila e do retorno para casa com a vaga nas quartas de final assegurada. “Se fizerem barulho, coloco uma música. Estamos prontos para viajar, treinar e jogar no estádio deles”, garantiu o meia Régis, antes de embarcar para a Argentina, ganhando o apoio de Matheus Ferraz. “A gente sabe que eles gostam de incomodar e catimbar. Mas estou tranquilo”, disse o zagueiro.

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