Doda Miranda prepara seu novo projeto de hipismo no Brasil
Em entrevista exclusiva, ele fala sobre o seu projeto de formação de cavalos no País visando à Olimpíada de Tóquio, em 2020
O cavaleiro Doda Miranda, que tem seis participações em Jogos Olímpicos e dois pódios no currículo, é o grande nome do Concurso de Salto Internacional e Nacional Longines Indoor, que está em sua 26.ª edição. O evento será realizado a partir desta quarta-feira, na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo, e vai até este domingo. Será a primeira vez que o atleta vai competir no País após os Jogos do Rio-2016. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre o seu projeto de formação de cavalos no País visando à Olimpíada de Tóquio, em 2020.
Como surgiu a ideia de formar cavalos no Brasil?
Eu sempre tive ótimos contatos com os criadores brasileiros e tive bastante sucesso com cavalos nascidos no Brasil. A diferença é que eu pegava os cavalos aqui e levava para a Europa para formá-los lá. O que quero fazer hoje, para ser numa escala maior, é escolher esses cavalos e ter uma base de formação de cavalos novos no Brasil. O objetivo é chegar em Tóquio-2020 com um cavalo BH, um conjunto 100% brasileiro, como foi comigo nos Jogos de Atlanta e Sydney, com o cavalo Aspen, que foi quando tive minhas duas medalhas olímpicas.
Como é esse cavalo BH?
Da mesma maneira que tem o cavalo alemão, o Holsteiner, o Hanoveriano, o sela francês, o sela holandês, no Brasil temos o BH, que é o Brasileiro de Hipismo. A diferença é que aqui o Study Book é um livro aberto. Os criadores vão à Europa, compram garanhões, trazem para o Brasil, registram como BH, e têm de ser aprovados por uma comissão. Aí ele vai cruzar com uma égua brasileira e o produto é um cavalo brasileiro de hipismo. É 95% de sangue europeu, por causa da origem da raça.
O fim de seu casamento com a Athina Onassis o motivou a pensar nesses novos projetos?
O que teve de bastante importante foi poder ter essa liberdade de fazer uma coisa nova. Antes de me casar, das minhas cinco medalhas, já tinha quatro, duas olímpicas e duas pan-americanas. Eu tive de abrir mão de várias coisas nos últimos anos e minha carreira não era a prioridade. Eu coloquei sempre a carreira da Athina como prioridade, pois ela tinha um sonho de saltar grandes prêmios internacionais. Ela era 5.000 do ranking e conseguimos fazer ela chegar entre as 100 mais bem colocadas do ranking, o que é algo incrível. Para isso, tive de abrir mão de várias coisas.
Como assim?
Muitas vezes, em um aquecimento, quando meu número era perto do dela, eu descia do meu cavalo e ia lá para ver ela saltar, aí meu cavalo esfriava. Como ela via que isso aí estava dando certo, ela colocava como exigência que eu não tivesse outros patrocinadores ou outros haras me mandando cavalos. Foram 10 anos importantes, pois do ponto de vista de treinador eu fiquei bastante satisfeito do nível que atingi, e a prova disso é que agora ela saiu de 120 do ranking para 1.400. Agora quero realmente estar mais presente no Brasil e a partir de 2017 eu ficarei 30% do meu tempo aqui.
Você pretende também continuar como atleta, sonha estar na próxima edição da Olimpíada?
Como era uma coisa muito importante para minha mulher na época, eu ficava 70% para ela e 30% para mim. O legal é que agora eu posso focar em mim. Formando os cavalos no Brasil, me vejo com grandes possibilidades de chegar muito forte em Tóquio porque agora vou me concentrar na minha carreira. Nesse esporte, quanto mais velho vai ficando, se estiver bem fisicamente e mentalmente, o atleta tem muito mais vantagem. Eu sempre brinco que é como se um jogador de futebol, aos 43 anos, que é minha idade, pudesse entrar na Copa do Mundo com o corpo de 20 anos, porque eu troco de cavalo. Na minha sexta Olimpíada, dentro de casa, foi onde eu mais competi com tranquilidade, feliz e focado.
Todo rompimento causa abalos. Como você está emocionalmente?
Hoje eu estou muito bem. Algumas semanas antes da Olimpíada já estava com minha cabeça bastante voltada para o esporte. Aliás, a Olimpíada me ajudou muito, consegui colocar isso como prioridade. Era o cavaleiro mais experiente do Brasil, precisava passar tranquilidade para a equipe, era uma responsabilidade grande para mim, mas acho que executei com muita felicidade. A equipe foi maravilhosa, ficamos entre os cinco mais bem colocados, bem perto da medalha de bronze.
Você acha que essa nova empreitada pode surtir efeito a curto prazo?
Acredito que montando essa base de treinamento e formação de cavalos, com meu conhecimento, pois desde 1995 eu moro na Europa, eu consigo dentro da minha equipe fazer com que os cavalos evoluam como se estivessem na Europa, pois toda técnica de formação de um cavalo novo eu vou implementar no Brasil em uma equipe que quero ter aqui. Será uma equipe Doda verde e amarela visando aos Jogos de Tóquio em 2020.
Onde você pretende montar essa base de treinamento?
Quero fazer em São Paulo, ainda não sei exatamente onde. Queria fazer dentro da Hípica Paulista, que é o meu clube. Tem também a Hípica Santo Amaro, que foi onde eu comecei e é um lugar que também mora dentro do meu coração. Talvez começar em um clube hípico e dependendo do tamanho que esse projeto tiver eu talvez tenha de ir para um lugar um pouco mais privado, para ter flexibilidade nos horários de treinamento.