Repórter é alvo de injúria racial na final do Pernambucano

Jornalista do LeiaJá contou como tudo aconteceu e espera que a Justiça seja feita

ter, 25/04/2023 - 15:08
Divulgação/Prefeitura de Paulista Neste ano, a injúria racial foi equiparada ao crime de racismo Divulgação/Prefeitura de Paulista

Um jornalista do LeiaJá, que trabalhava na cobertura da final do Campeonato Pernambucano, foi alvo de insultos racistas, no último sábado (22). Um prestador de serviço da Associação dos Cronistas Esportivos de Pernambuco (ACDP) é apontado como o agressor.

“Eu estava saindo da sala de coletiva de imprensa da Ilha do Retiro quando encontrei ele (o agressor) e um repórter. Como estava dentro da sala não sei qual era o teor da conversa entre eles, mas o repórter então me perguntou se conhecia 'alguém com guindaste para dar carona a ele’. Eu não falei nada, ri e continuei na direção do carro, quando ele então falou: ‘quando a gente chama vocês de macaco, não gostam'. Não era eu quem estava brincando com ele, mas ele descontou em mim”, afirmou Luan Amaral, repórter do LeiaJá.

“Voltei imediatamente, mandei ele repetir o que tinha dito, chamei ele de racista e disse que ele ia arcar com as consequências. Assim que entrei no carro da empresa um sentimento de impotência tomou conta então comecei a chorar. Chorei outras vezes até o fim do dia, demorou dois dias para contar para minha mãe e ela também chorou quando soube", contou Luan.

Foi publicada no Diário Oficial da União, no dia 12 de janeiro, a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Lei 14.532, de 2023, que tipifica como crime de racismo a injúria racial, com a pena aumentada de um a três anos para de dois a cinco anos de reclusão. O racismo é entendido como um crime contra a coletividade, a injúria é direcionada ao indivíduo.

Luan Amaral garantiu que prestará queixa às autoridades competentes e espera que a Justiça seja feita. “Só espero não ter que encontrar o racista que me chamou de macaco nos próximos jogos em que for trabalhar”, concluiu o jornalista.

LeiaJá também ouviu o lado de Rafael Oliveira. O acusado confirmou a versão do nosso repórter, porém, afirmou que "nunca dormiu tão bem" porque sabe o que disse e tem a consciência tranquila.

"Em nenhum momento em chamei Luan de macaco. Eu disse apenas que preconceito com um gordo, acham engraçado, mas quando é com o negro é racismo. Eu sei da minha índole. Minha avó é índia (sic), meus melhores amigos são negros, meu personal trainer é negro. O motorista de Uber que trabalha pra mim é negro. Eu entendo ele (Luan), mas acho que ele entendeu errado", afirmou Rafael Oliveira.

Posicionamento da ACDP

Em contato telefônico com Luan Amaral, o presidente da ACDP, o radialista André Luiz Cabral, disse que Rafael Oliveira não irá mais prestar serviços à associação e está dispensado do cargo de "delegado de jogo".

Posicionamento do LeiaJá

O LeiaJá repudia qualquer forma de discriminação e está prestando apoio ao profissional injuriado.

Na mudança da lei de injúria racial, sancionada em janeiro, também foi alterado o tratamento dado ao chamado "racismo recreativo", que consiste em ofensas supostamente proferidas como “piadas” ou “brincadeiras”, mas que tenham caráter racista. A pena foi ampliada para estes casos.

Mesmo que a declaração do ex-funcionário da ACDP tenha sido feita nesse contexto, continua sendo crime.

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