Donos da Azul e da Avianca disputam aérea portuguesa TAP
Propostas foram entregues ontem ao governo português e serão avaliadas nas próximas semanas
Os empresários David Neeleman, controlador da companhia aérea Azul, e Germán Efromovich, da Avianca, vão disputar a compra da estatal portuguesa TAP, que está em processo de privatização. As propostas foram entregues ontem ao governo português e serão avaliadas nas próximas semanas. Neeleman se aliou a investidores da Azul e ao grupo de transporte rodoviário português Barraqueiro para disputar a aérea. Os sócios da Azul são os fundos Bozano, TPG, Weston Presidio e Gávea, mas Neeleman não confirmou quais estão no consórcio que tenta comprar a TAP.
O empresário disse que entrou na disputa pelo potencial de conectividade entre a operação da companhia aérea portuguesa e a Azul. "É um negócio interessante, porque a TAP tem um tráfego forte para o Brasil. A Azul e a TAP podem fazer muitas coisas juntas", disse Neeleman ao Estado.
Além de Neeleman e Efromovich, o empresário português Miguel Pais do Amaral, dono de negócios em diversos setores, como financeiro, agrícola e imobiliário, também apresentou uma proposta pela empresa.
"A privatização será um processo competitivo e concorrencial. Isso é bom. Foi o que pusemos como objetivo quando anunciamos a reabertura do processo. Não podíamos voltar a situação de ter apenas um interessado", disse o ministro da economia de Portugal, António Pires de Lima, ao jornal Expresso, relembrando a concorrência de 2012 que só recebeu uma proposta.
O valor das ofertas não foi divulgado. O Estado não localizou Germán Efromovich para comentar a questão.
Negócio - O governo português colocou à venda uma fatia de 66% da TAP, sendo 61% para investidores privados e até 5% para um fundo dos trabalhadores. O comprador terá preferência de aquisição de novas ações que poderão ser colocadas à venda no futuro. Segundo o ministro português, a avaliação das propostas será "rápida" e a decisão sai "nas próximas semanas".
O comprador da TAP assumirá uma empresa com 77 aviões, mais de 10 mil funcionários e dívidas estimadas em 1 bilhão. "É um negócio complicado, especialmente pelas incertezas sobre o passivo. Além disso, as pressões sindicais podem complicar esforços dos novos controladores para reestruturar a empresa e cortar custos", disse André Castellini, sócio da Bain&Company.
O interesse dos grupos donos de empresas aéreas brasileiras no negócio se deve ao forte tráfego da empresa para o Brasil. Dos 11,4 milhões de passageiros transportados pela TAP no ano passado, 39% deles voaram nas rotas entre Brasil e Europa. Hoje a TAP atende 12 cidades brasileiras, a maior cobertura oferecida por uma aérea estrangeira.
"A TAP é uma empresa apetitosa tanto para a Azul quanto para a Avianca. Existe uma complementaridade de rotas", explica Jorge Leal Medeiros, especialista em transporte aéreo e professor da USP. O motivo, diz, é que os passageiros das rotas internacionais da TAP podem ajudar a Azul e a Avianca a encher seus aviões e distribuir nos voos pelo Brasil e vice-versa.
Castellini concorda que o grande trunfo da TAP é ser uma empresa portuguesa com força no mercado brasileiro. "Esse aspecto é interessante em uma indústria globalizada", disse. No entanto, ele lembra que as rotas do Brasil para a Europa são pouco rentáveis, pois atraem especialmente o passageiro de lazer, que tradicionalmente paga tarifas menores do que aqueles que viajam a trabalho. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.